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Repórter especial de economia em Brasília

Plantando dificuldades

Discurso no Congresso é que o ‘pacote de maldades’ já pode esperar

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Por Adriana Fernandes
Atualização:

Depois do day after da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, o que mais se ouve em Brasília é que a recuperação econômica vai trazer alívio, aumentar a arrecadação e permitir que se chegue a 2019 sem a necessidade da adoção das medidas impopulares já anunciadas no início de agosto, mas ainda não enviadas ao Congresso pelo governo.

A reforma da Previdência se transformou assim numa miragem, e as medidas de aperto nos salários dos servidores, uma possibilidade mais distante devido à forte pressão das categorias do funcionalismo público, que não querem saber de ficar sem o reajuste salarial acertado para o ano que vem.

Presidente Michel Temer conseguiu barrar segunda denúncia na Câmara Foto: Foto: DIDA SAMPAIO|ESTADÃO

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O discurso no Congresso é que o “pacote de maldade” pode esperar, na certeza de que o Orçamento de 2018 será beneficiado novamente por receitas gordas com as privatizações e o leilão do excedente da cessão onerosa de exploração do présal. Parlamentares plantam dificuldades agora para renovarem suas barganhas até o final do ano. Já esperam mais acenos do Palácio do Planalto e um novo desbloqueio de despesas do Orçamento que abre espaço para gastos, emendas...

Com dinheiro e cargos, é muito provável  que as resistências comecem a diminuir e o presidente Michel Temer consiga tocar uma agenda econômica, mesmo que desidratada. Ainda assim será muito relevante, sobretudo com uma reforma mínima e enxuta da Previdência.

Tudo isso já está nos cálculos políticos do Palácio do Planalto. Não é por menos que o senador Romero Jucá, um dos parlamentares mais próximos a Temer, avisou horas depois de a denúncia ter sido barrada que uma nova liberação do Orçamento vai melhorar a “atuação do governo” e dar um novo horizonte nessa nova fase, depois da vitória do presidente Temer no plenário da Câmara. Recado dado.

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Sem a ajuda do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, vai ficar mais difícil avançar na votação das propostas econômicas. Maia não chega a ser para Temer o que o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha foi para o governo Dilma Rousseff, mas está dando trabalho.

Era de se esperar que, depois da denúncia, a pauta de votação fosse acelerada imediatamente, já que a agenda econômica ficou paralisada no aguardo do resultado final. A urgência é grande por conta do Orçamento de 2018, que vai ser difícil de ser administrado com o teto de gastos bem mais restritivo.

Em vez disso, Maia resolveu passar dez dias fora do País em viagem oficial ao Oriente Médio e à Europa, com uma comitiva de nove deputados da base aliada e até da oposição. Resultado da viagem: pauta fraca do plenário e com certeza mais atrasos nas negociações.

Em busca de protagonismo, o presidente da Câmara também vem plantando dificuldades para aumentar seu cacife. Ele rejeita o envio das medidas de ajuste por meio de Medidas Provisórias (MPs) e diz que Temer está fragilizado, sem força para as votações futuras.

Se a reforma da Previdência avançar, sai como o “sr. reforma”. Se a proposta falhar, a culpa será de Temer, da sua equipe econômica e dos ministros políticos. O governo queria de todo jeito que Maia se comprometesse logo com um calendário e data de votação do texto da proposta de reforma no plenário. Não deu certo.

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Seria uma forma de dividir com Maia também uma parte da responsabilidade de reunir as forças políticas, empresariais, acadêmicas e sociais em torno da proposta. Uma vez que ele mesmo se vende como reformista e apoiador de primeira hora da reforma da Previdência.

O presidente da Câmara deixou claro, no entanto, que não quer arcar sozinho com esse desgaste e tratou de fugir do compromisso em reunião com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, na manhã seguinte à votação. Enquanto Maia estiver fora, o governo vai se mobilizar em torno da sua agenda econômica. Não dá para esquecer que a caneta do presidente ainda tem força.

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