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Pode faltar carne na terra do baby beef

Produtor argentino teme medidas do governo

Por Ariel Palacios
Atualização:

A Argentina - terra do baby beef que ficou famosa como a grande exportadora de carne bovina ao longo dos séculos 19 e 20, poderá tornar-se daqui a poucos anos em um país importador do produto. O alerta sobre essa insólita situação foi feito pela Associação Argentina de Consórcios Regionais de Experimentação Agrícola que considera que, se continuarem as polêmicas políticas atuais de restrição às exportações e de altos tributos para a produção agropecuária aplicadas pelo governo da presidente Cristina Kirchner, os produtores perderão o estímulo. Na seqüência, o estoque diminuirá, as exportações desaparecerão e, em 2012, segundo as estimativas, a Argentina terá de começar a importar carne para abastecer a população. O cenário é inimaginável para o país que há 100 anos era o maior exportador de carne do mundo, e cujos habitantes são os maiores consumidores per capita do mundo do produto (69 quilos por pessoa anualmente). "Ainda existe tempo para evitar isso", diz o diretor da associação, Belisário Álvarez de Toledo. Segundo a Associação de Consórcios, o custo de produzir carne aumentou 50% desde 2006. Mas, por causa das pressões do governo, que força o congelamento, o preço do bezerro ainda é o mesmo. Em 2003, o país contava com 53,9 milhões de cabeças de gado. Em 2007, havia aumentado apenas para 55,9 milhões de cabeças de gaso. Analistas do mercado sustentam que o crescimento se estagnou porque, desde 2006, cresceu o número de fêmeas que foram para o abatedouro. O próprio abate registrou uma queda entre maio de 2007 e o mesmo mês deste ano, passando de 1,19 milhão de cabeças de gado para 1,09 milhão. A produção de toneladas de carne (sem osso), entre maio do ano passado e o mesmo mês de 2008, caiu de 260 mil toneladas para 229 mil. Para complicar, por causa da perda de lucratividade para os pecuaristas - e o simultâneo crescente interesse em usar as áreas de pastagens para o plantio da soja - o gado está sendo empurrado para áreas menos "nobres" do país. Com isso, nos últimos 14 anos, 3,5 milhões de cabeças foram transferidas da região dos Pampas (a área tradicional da criação de gado) para províncias do Norte do país, onde o calor e as pastagens proporcionam uma carne de inferior qualidade. Segundo Toledo, para cada 100 vacas transferidas para essas regiões, o nascimento de bezerros cai em 21%. As vendas argentinas de carne ao exterior registraram uma queda de 17% em volume no primeiro semestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2007, segundo dados do Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentícia (Senasa). Em 2005, antes das primeiras restrições impostas pelo governo, o país bateu seu próprio recorde em exportações, ao enviar ao exterior um total de 762 mil toneladas de carne. Mas, de lá para cá, as exportações despencaram. O Uruguai, que conta com somente 2% do total do estoque de gado da Argentina, em 2007 ultrapassou o país no ranking de exportadores de carne. Entre 2005 e 2008, a Argentina despencou do terceiro posto de exportadores mundiais do produto para a sétima colocação.

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