
20 de março de 2014 | 02h04
Esses e outros fatores dão lá sua contribuição para o emperramento geral, é verdade. Mas o fato mais relevante é que há muito o trânsito nas grandes cidades virou o caos que é porque há carro demais e porque o transporte público é precário.
Assim, também, é a inflação. É uma corda tão esticada que basta um período de seca ou mesmo chuvoso demais para que surjam novas convulsões.
Há anos não se via uma prévia tão explosiva do IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado) como a divulgada ontem: alta de 1,41% na segunda prévia de março. Só para comparar, em fevereiro, foi de 0,24%. Por trás desse número está a disparada dos preços dos alimentos, em consequência da seca.
Mas, como nos congestionamentos, os problemas são mais profundos. A seca provocou estragos nas plantações de tomate e esses estragos foram transferidos aos preços. Mas os preços estão sendo sancionados pela forte demanda.
Ainda ontem ficou claro que os postos de combustíveis estão elevando os preços da gasolina e do óleo diesel sem que tenham sido recompostos os preços nas refinarias. É que a demanda firme está sancionando a alta. O consumidor paga, com alguma ou nenhuma chiadeira.
A cavalgada do IGP-M aponta para mais dois problemas. O primeiro é o que alguns economistas já chamaram de gravidez de inflação. A alta por enquanto está concentrada nos preços no atacado (no IGP-M, os preços no atacado entram com 60% do peso). Mas tende a ser transferida para o varejo (custo de vida).
O segundo problema é a turbinagem produzida pelas correções automáticas. O IGP-M é o índice mais utilizado nas correções dos aluguéis e dos financiamentos. Ou seja, a alta do tomate desemboca no preço da moradia e nos contratos de crédito.
O Banco Central, a instituição encarregada de combater a inflação, não tem como derrubar os preços do tomate. Isso apenas acontecerá quando os produtores estiverem em condições de normalizar o fornecimento. Mas o Banco Central terá de combater os efeitos colaterais com o instrumento de que dispõe, a política monetária (política de juros), que é o fole que injeta ou retira moeda do sistema e, assim, reduz ou aumenta os juros da economia.
Se o governo apertasse mais a política fiscal (o fole que aumenta ou reduz as despesas públicas), o Banco Central teria um aliado. Mas está acontecendo o contrário. A informação recorrente é de que, nessa prateleira, as coisas estão piorando. Um dia é o déficit da Previdência que vai ter novo estouro; outro, que a arrecadação ficou abaixo do esperado; ou, então, que o Tesouro terá de pagar uma conta mais alta de energia elétrica. Enfim, a economia é um pote cheio até aqui. "Qualquer desatenção, faça não. Pode ser a gota d'água."
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