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Polícia francesa intensifica investigação à fraude no Société

Por THIERRY LEVEQUE E ANDREW HURST
Atualização:

Investigadores franceses intensificaram os esforços para descobrir como um corretor da Société Générale enganou seus empregadores e causou uma perda de 7 bilhões de dólares, e anunciaram que ele não está foragido e será interrogado em breve. Jerome Kerviel, 31, não é visto em público desde que o banco francês surpreendeu o mundo financeiro na quinta-feira ao revelar a fraude recorde. "Jerome Kerviel não está foragido. Ele será interrogado no momento apropriado, assim que a polícia tiver analisado os documentos fornecidos pelo Société Générale", disse um oficial falando em nome do promotor-chefe de Paris, neste sábado. Na sexta-feira, a polícia visitou a sede da Société Générale, onde Kerviel trabalhava até ser dispensado na semana passada, recolhendo os arquivos de seu computador, além de vasculhar o apartamento em que ele vivia num subúrbio a oeste de Paris. A família de Kerviel diz que ele está sendo feito de bode expiatório no maior escândalo em transações financeiras do mundo. As investigações estão se intensificando, com as autoridades pressionando os executivos do banco francês a explicar como uma instituição financeira elogiada por seus inovadores e quase perfeitos controles de risco pôde ter sido enganada por um corretor que atuava sozinho. A ministra da Economia da França, Christine Lagarde, disse no sábado que em breve entregará um relatório ao primeiro-ministro francês, François Fillon, sobre os problemas do Société Générale e avaliará se é necessária uma nova legislação para evitar que um escândalo como esse se repita. O relatório vai avaliar "como e por que os controles não funcionaram, e quais controles adicionais são necessários, incluindo legislação apropriada para evitar que isso ocorra novamente", disse ela a repórteres durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Fillon criticou o banco por não avisá-lo mais cedo enquanto o problema se formava. Outros questionaram como os bancos e outras instituições que fizeram negócios com o Société Générale não perceberam o aumento das ilícitas posições abertas no mercado financeiro nas últimas semanas. Mas um quadro de como Kerviel conseguiu cobrir seus rastros vem tomando forma gradualmente, após seus chefes falarem à imprensa sobre a fraude. O presidente executivo do Société Générale, Daniel Bouton, comparou o declínio do banco a uma tragédia grega, pois Kerviel tentou desesperadamente esconder suas enormes apostas numa queda dos preços das ações, mas apenas afundou-se mais no processo. Durante meses, Kerviel conseguiu manter-se um passo à frente de seus supervisores ao manipular transações fictícias, disse Bouton em entrevista à edição de sábado do jornal parisiense Le Figaro. Jean-Pierre Mustier, chefe da unidade de investimentos do Société Générale, disse ao Financial Times que o corretor gerenciava centenas de transações escondidas e um número igual de operações falsas de hedge, para dar a aparência de que qualquer perda era contrabalançada. "A cada dois ou três dias, ele mudava as posições. Registrava uma transação que seria fiscalizada em três dias e, antes que isso acontecesse, a substituía por outra", declarou Mustier ao jornal. O Société Générale deu queixa à polícia com três acusações --falsificação fraudulenta de registros bancários, uso fraudulento de tais registros e fraude por computador. As penas máximas para as três acusações são detenção entre 2 e 5 anos.

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