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Por que a heroína voltou a ser usada nos Estados Unidos

Mais de dois terços dos viciados em heroína já abusaram de analgésicos de distribuição controlada

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Por Redação
Atualização:
Por que o consumo voltou a crescer nos EUA Foto: Economist.com

A heroína foi o flagelo das cidades americanas nos anos 1960 e 70. Mas então, a droga pareceu sair de moda. Já nos anos 1990 seu uso era menos frequente que o do crack. 

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Na Europa a heroína é cada vez menos utilizada, com o número de viciados chegando a aproximadamente um terço daquele observado na década anterior. 

Mas, nos Estados Unidos, a tendência é inversa. No ano passado quase 700 mil americanos usaram a droga, número duas vezes maior do que o de uma década atrás. Há indicadores apontando que sua popularidade teria superado a do crack. Qual é a explicação para o retorno da heroína?

Uma das causas é a crescente popularidade de outra droga: o analgésico vendido com receita médica. Analgésicos opioides como OxyContin passaram a ser receitados com maior frequência nas décadas de 1990 e 2000. 

São analgésicos eficazes, mas costumam ser consumidos de maneira abusiva: cerca de 11 milhões de americanos fazem uso ilegal desses medicamentos todos os anos. Isso levou a uma onda de fiscalização das receitas: agora os médicos podem consultar bancos de dados para verificar se o paciente já não recebeu de outra fonte uma receita para o mesmo medicamento, por exemplo. Assim, estes se tornaram mais difíceis de obter.

Mas isso significa que alguns viciados em remédios passaram a recorrer à heroína, que sacia a mesma necessidade a um custo mais baixo. Mais de dois terços dos viciados em heroína já abusaram de analgésicos de distribuição controlada.

Aumento da oferta. Outro motivo é o aumento na oferta de heroína. Os EUA recebem a maior parte de sua heroína do México. 

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Entre 2000 e 2009, as terras mexicanas usadas no cultivo da papoula (a partir da qual a heroína é derivada) aumentaram em dez vezes. A área total teve queda nos anos mais recentes, mas continua muito maior do que antes. 

Isso significa que há mais heroína entrando nos EUA, alimentando a demanda crescente e mantendo os preços baixos. O aumento no cultivo da papoula no México foi impulsionado em parte pelo desvio de soldados antes ocupados com a erradicação da papoula para o policiamento urbano, de acordo com um plano de combate ao crime organizado lançado em 2006.

Os traficantes de heroína também estão respondendo às forças do mercado nos EUA. Os americanos estão consumindo menos cocaína do que antes, por exemplo.

E a maconha comprada por eles é cada vez mais cultivada no próprio país: quase metade dos estados americanos permite o uso da maconha medicinal, e quatro já aprovaram sua legalização, dificultando assim a busca dos exportadores mexicanos por mercados. 

Com a queda nas vendas de maconha e cocaína, eles se voltaram para a heroína. O aumento no consumo é, portanto, fruto da coincidência entre aumento da oferta num momento de alta na demanda.

© 2014 The Economist Newspaper Limited. Todos os direitos reservados.

Da Economist.com, traduzido por Augusto Calil, publicado sob licença. O artigo original, em inglês, pode ser encontrado no site www.economist.com

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