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Por que LafargeHolcim, Ford e outras multinacionais estão deixando o Brasil; leia análise

Insegurança jurídica, infraestrutura precária, alto custo de capital e burocracia estão na raiz de decisões anunciadas recentemente

Por José Ricardo Roriz Coelho
Atualização:

A saída do Brasil da multinacional franco-suíça LafargeHolcim, revelada neste Estadão na quinta-feira, 22, reforça o processo intensificado, acelerado e profundo de desindustrialização do País, sobretudo nas últimas duas décadas. O fim das operações locais da gigante do cimento soma-se às debandadas de outras indústrias de peso, a mais emblemática a Ford, anunciada em janeiro.

A perda de importância da indústria, infelizmente, é fato consumado e consolidado. Em meados dos anos 1980, o setor respondia por quase metade da economia nacional (48%). Em 1996, quando o IBGE iniciou a série histórica, a indústria atingiu o seu maior patamar de participação no PIB em 2004 (17,8%). Depois disso entrou em queda livre. 

Multinacional franco-suíça LafargeHolcim comunicou à filial brasileira que vai vender suas operações locais. Foto: Arnd Wiegmann/ Reuters

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Em 20 anos, de 2000 a 2020, a participação da indústria de transformação (sem petróleo e minério) no PIB recuou para um patamar abaixo de 10%. No ano 1 da pandemia, o setor apresentou declínio de 4,3%, índice puxado pela atividade do segmento automotivo, além de transporte, confecção de vestuário e metalurgia. 

Estudo recente publicado pelo Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) confirma a vertiginosa decadência. A análise de 30 economias - que representam 90% da indústria de transformação no mundo -, em um período de 48 anos (1970-2017), aponta o Brasil como o país que mais se desindustrializou no globo. No mesmo intervalo, aponta o Iedi, a média dos outros países teve acréscimo, ou seja, o setor (exceto o Brasil) intensificou a participação no PIB - de 15,7% para 17,3%. Ainda que se exclua a China, há certa manutenção no índice global: era 15,8% em 1971 e passou para 15,1% em 2017.

O esfacelamento da indústria nacional tem consequências diretas no emprego. Segundo o Perfil da Indústria Brasileira, da CNI, a participação da indústria de transformação no emprego formal ficou em 14,4% em 2019. Em 2006, por exemplo, era quase 18%. O dado é muito dramático, pois o setor recebe mão-de-obra muito qualificada e produtiva, com altas remunerações.

Dado o delicado cenário, cabem duas perguntas: por que a indústria se desintegrou? Como devolver protagonismo ao setor? A resposta da primeira praticamente decifra a segunda questão. Duas palavras sintetizam a causa do declínio do setor: Custo Brasil. Trabalho realizado pela Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade revela que o Custo Brasil hoje, se comparado à média dos paísesmembros da OCDE, é superior a R$ 1,5 trilhão por ano.

Insegurança jurídica, infraestrutura precária, alto custo de capital, burocracia, sobretudo na carga tributária, entre outros fatores, tudo entra na conta do Custo Brasil. O país criou um ambiente adverso ao empreendedorismo, especialmente às empresas capazes de gerar produtos de alto valor agregado. É urgente incorporar as novas tecnologias que vão rapidamente fazer parte do dia a dia da sociedade, interligando as pessoas às máquinas e aos serviços. 

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O Brasil não arrecada mais porque a indústria, o setor que mais paga impostos no País, não cresce. E o PIB brasileiro não cresce porque a indústria vem diminuindo de tamanho ao longo dos anos. Como devolver o protagonismo para a indústria? Minimizando o Custo Brasil. Atacar a essência do problema é o caminho para que haja um processo sólido, profundo e perene de reindustrialização. 

*Vice-presidente da Fiesp e do Ciesp e presidente da Abiplast - Associação Brasileira da Indústria do Plástico

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