PUBLICIDADE

Por que o dólar voltou a subir e o que a floresta amazônica tem a ver com isso?

Moeda que chegou a cair a R$ 3,65 neste ano ultrapassou R$ 4,19 durante a terça-feira; entenda os motivos do novo repique

Por Renato Jakitas
Atualização:

O dólar, depois de cair a R$ 3,65 e ficar praticamente estabilizado entre os R$ 3,70 e os R$ 3,80, de repente surpreendeu o brasileiro com uma forte alta na última semana.

Na terça-feira, 27, a moeda americana chegou a ultrapassar R$ 4,19 e fechou o dia a R$ 4,157, com ganho de 0,43%. Foi a maior cotação da moeda americana em mais de onze meses –desde 14 de setembro de 2018. No mês de agosto, o dólar já acumula alta de 8,84% e, pelo mundo, só perde para a disparada de 28% registrada na Argentina.

Dólar já acumula alta 8,84% em agosto Foto: JF Diorio/Estadão

PUBLICIDADE

Segundo especialistas, os motivos para essa alta levam em consideração desde fatores externos, como a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, e questões domésticas, tendo a crise da floresta amazônica como última grande motivadora. O dólar, dizem analistas e economistas, é o ativo mais sensível do mercado e tende a reagir para cima e baixo muito rapidamente tanto em situações de conflito quanto de boaventura. Para entender um pouco a dinâmica e os impactos do dólar em sua vida, preparamos abaixo um "perguntas e respostas". Confira:

Por que o dólar cai e sobe com tanta velocidade no Brasil?

Não é só no Brasil que o dólar reage assim. De certa forma, todos os países emergentes sentem o impacto da oscilação da moeda americana com muita intensidade. Isso acontece porque boa parte da origem do dinheiro que circula no mercado de capitais desses países é internacional.

Sim, no Brasil, para se ter uma ideia, a nossa Bolsa (B3) tem uma média de 60% de investidores sediados no exterior. Como nosso País não aceita negócios em outra moeda que não o real, esse investidor precisa vender dólar para comprar, por exemplo, uma ação, e precisa comprar dólar, na hora em que vende a ação para retirar o dinheiro do País. Isso faz com que a moeda americana suba e desça com intensidade o dia inteiro. 

O que está acontecendo no exterior?

Publicidade

Donald Trump tem culpa no cartório. Com a reforma da Previdência encarada como fato sacramentado e o debate sobre reforma tributária ainda longe de um fim (existem três propostas na mesa, uma da Câmara, uma do Senado e outra proposta pela equipe econômica de Bolsonaro), os investidores que colocam seu dinheiro aqui dentro passaram a olhar com atenção os movimentos do exterior. Desde 2017 o mandário americano está empenhado em uma disputa comercial com a segunda maior economia do mundo, a China

Para além do conflito comercial em si, pesam contra essa história o fato de Donald Trump apresentar sinais profundamente contraditórios sobre o que vai fazer a esse respeito. O último episódio aconteceu no último domingo, 25, durante encontro do grupo das maiores economias do planeta, o G-7, em Biarritz, balneário no sul da França.

Um dia depois de defender a saída de empresas americanas da China, Trump começou o domingo admitindo que estava tendo “dúvidas” sobre uma nova rodada de impostos sobre produtos chineses. Em poucas horas, porém, ele reverteu abruptamente, dizendo que só se arrependia de não elevar as tarifas ainda mais. 

O que o cenário externo tem a ver com a alta do dólar?

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Todo investidor, mesmo os profissionais, procuram formas de aumentar seu capital. Mas a regra mãe do mercado em todo o mundo é, em primeiro lugar, proteger-se de prejuízos. Todas as vezes que um conflito internacional de grandes proporções surge no horizonte da economia, os grandes capitalistas do planeta pegam suas fortunas aplicadas em investimentos em países emergentes e correm para colchões de proteção: geralmente o ouro, o ien (moeda japonesa) e os títulos de dívida soberana dos EUA, chamados de Treasury bonds (T-bonds). Eles querem garantir que o patrimônio não terá maiores solavancos com a possibilidade de uma recessão ou, na pior das hipóteses, de um calote. 

Acontece que, para fazer esse movimento, esses capitalistas precisam vender os ativos que possuem nos países emergentes (geralmente derrubando a Bolsa) e compram dólar (o que inflaciona a procura e, na mesma proporção) a cotação da moeda. É por isso que, geralmente, quando a Bolsa está caindo no Brasil, o dólar está subindo frente ao real.

As queimadas na floresta da Amazônia têm impacto no aumento do dólar?

Publicidade

Sim, mas não diretamente. O problema do dólar é sempre comercial. E o que afeta nesse caso envolvendo a floresta é a crise aberta entre o presidente Jair Bolsonaro e o mandatário francês Emmanuel Macron. Desde o início do noticiário sobre as queimadas na floresta, o presidente francês se estabeleceu no flanco contrário, como crítico às decisões tomadas por Bolsonaro. Durante o G-7 a situação piorou, com críticas públicas de Macron a Bolsonaro até culminar na atitude do presidente brasileiro, no dia 24, que em rede social comentou um tuíte que comparava as primeiras-damas de cada país.

"O investidor não gosta disso. Todo e qualquer risco de conflito afugenta os investidores", afirma Jefferson Laatus, estrategista-chefe da Laatus, empresa que especula sobre o câmbio. "A crise originada com a Amazônia, associada aos problemas internacionais, à decisão do STF que pode impactar na Lava Jato. Tudo isso é combustível para a alta do dólar", diz.

Em altaEconomia
Loading...Loading...
Loading...Loading...
Loading...Loading...

Que impacto que a alta do dólar pode ter na inflação?

Segundo o professor Antonio Manfredini, da FGV, a alta do dólar registrada nos últimos dias traria impacto no índice oficial de inflação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE. No entanto, com a atividade econômica ainda fraca, empresas com produção aquém de sua capacidade, o repique na cotação da moeda não deverá ser repassada para os consumidores. "As empresas não vão encontrar espaço, neste momento, para repassar um aumento de preço dos produtos importados ou atrelados ao dólar ao clientes, com a economia bastante frágil ainda", diz o economista.

O dólar pode ter reflexo na taxa básica de juros da economia, a Selic?

Ainda segundo Antonio Mafredini, sem um repasse da alta dólar nos preços dos produtos, o Banco Central, responsável pela calibragem da taxa básica de juros, a Selic, não teria para que modificar sua política monetária. Em julho, o BC reduziu a Selic em 0,50 pontos porcentuais, levando a taxa para sua mínima histórica. Na ocasião, a instituição sinalizou para novos cortes ainda neste ano e, para Manfredini, até agora, o que se viu da alta do dólar nada deve mudar nessa estratégia. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.