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Por que o mercado reagiu tão mal à interferência de Bolsonaro na Petrobrás?

Após indicação do general da reserva Joaquim Silva e Luna para o comando da petroleira, ações desabaram, levando junto as do Banco do Brasil e da Eletrobrás

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Por Redação
Atualização:

O anúncio do presidente Jair Bolsonaro, na sexta-feira, 19, de que iria tirar da presidência da Petrobrás o executivo Roberto Castello Branco e colocar em seu lugar o general da reserva Joaquim Silva e Luna provocou um estrago generalizado no mercado nesta segunda-feira, 22. As ações da Petrobrás caem cerca de 20%, e levam na esteira as do Banco do Brasil (cerca de 11% de queda) e da Eletrobrás (pouco menos de 3%). Por que isso acontece? É porque o mercado é "irritadinho", como disse Bolsonaro no início do mês?

Mercado viu volta de uma política intervencionista, muito usada no período do governo Dilma Rousseff, que se acreditava estar enterrada. Foto: Gabriela Biló/Estadão

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O mercado - nesse caso, os investidores, acionistas da Petrobrás - é sensível, e reage rapidamente toda vez que vê a possibilidade de ganhar ou perder dinheiro. Nesse caso, viu uma probabilidade grande de perder. Roberto Castello Branco vinha fazendo uma gestão ao gosto desses investidores. A empresa vinha sendo enxugada, ativos não prioritários estavam sendo vendidos. O lucro está em alta e todos viam a possibilidade de receber mais dividendos. Uma troca nesse momento, por essa lógica, não faria sentido.

Mas Bolsonaro se disse irritado com a política de preços da empresa, que acompanha a variação do petróleo no mercado internacional - com uma enorme volatilidade. O preço às vezes cai. Mas, nos últimos meses, só vem subindo, e os caminhoneiros, base de apoio do governo, reclamaram e ameaçaram mais uma greve. A troca por um general de confiança do presidente foi a solução mais fácil de ser tomada.

O que o mercado viu nisso? A volta de uma política intervencionista, muito usada no período do governo Dilma Rousseff, que se acreditava enterrada. Na época de Dilma, os preços dos combustíveis foram segurados para evitar que a inflação disparasse. Isso provocou um enorme rombo nos cofres da empresa, que ainda paga por isso.

E o que o Banco do Brasil tem a ver com isso? Em janeiro, Bolsonaro já quis demitir o atual presidente, André Brandão, que anunciou um plano de corte de pessoal e de fechamento de agências - algo feito usualmente pelos bancos privados. A equipe econômica conseguiu segurar a demissão. Mas, no sábado, o presidente disse que haveria mais cortes. E as especulações em cima do Banco do Brasil voltaram com força. 

Quem é o mercado?

No caso da Bolsa de Valores, o "mercado", que é sempre visto como uma entidade etérea, tem CPF e CNPJ. São os investidores, pessoas físicas ou jurídicas. Eles investem nas empresas esperando que elas cresçam, deem lucro, distribuam seus dividendos. E não é mais uma coisa só para ricos ou grandes investidores. A Bolsa tem se tornado uma saída cada vez mais usada pelos pequenos investidores, que buscam uma alternativa para turbinar sua poupança, já que a renda fixa deixou de ser atraente com a queda da taxa de juros.

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Petrobrás e Banco do Brasil, principalmente, são papéis bastante procurados, até por serem marcas muito conhecidas dos brasileiros. Então, uma queda tão profunda nas ações acaba prejudicando os grandes investidores, mas também os pequenos, aqueles que têm fundos de ações de seus bancos ou corretoras.

Ao fazer mudanças bruscas, da forma como Bolsonaro fez na Petrobrás, sem que ninguém tenha conseguido entender seu objetivo, traz perdas para todos.

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