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PORTFÓLIO-O dólar vai continuar caindo

Por CLÁUDIO GRADILONE
Atualização:

As cotações do dólar voltaram a cair nesta segunda-feira. No Brasil, a moeda norte-americana fechou a 1,702 real, recuo de 1 por cento, e deverá continuar caindo, tanto no Brasil quanto no exterior. As razões para a apreciação do real em relação à moeda norte-americana são simples. Vai sobrar dólar no mundo. Depois de dois dias reunidos na Escócia, os líderes das principais economia, o G-20, decidiram que não é hora de puxar o freio na ajuda governamental aos bancos. A convicção das lideranças globais é que a economia ainda é incapaz de andar sem a ajuda financeira dos governos. Ou seja, ainda vai demorar para os bancos centrais começarem a enxugar os borbotões de liquidez que injetaram no sistema bancário há mais de um ano, liquidez que moveu os mercados ao redor do mundo, o Brasil entre eles. Os pacotes de ajuda foram a principal justificativa para o bom desempenho do mercado acionário brasileiro este ano e para a decisão do governo federal de lançar uma inédita tributação de 2 por cento sobre as aplicações internacionais em ações brasileiras. Os trilhões de dólares injetados na economia para sanear os bancos procuraram portos mais seguros e rentáveis, como por exemplo o Brasil. Isso, e não a solidez das contas públicas nacionais, justificou a maciça migração de recursos para o Brasil. Em circunstâncias normais, a deterioração das contas públicas, que viram o superávit primário cair de 4,25 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) para cerca 1 por cento, teria provocado uma debandada dos investidores internacionais. No entanto, a falta de alternativas e a necessidade de retorno para o capital garantiu sua permanência por aqui. As declarações do fim de semana indicam que esse cenário vai demorar para mudar. COMMODITIES A recém-proclamada complacência das autoridades terá um impacto profundo e amplo sobre os mercados ao redor do mundo. Os primeiros movimentos foram sentidos no preço das commodities, que viram suas cotações subir ao redor do mundo. O petróleo, por exemplo, chegou a superar 80 dólares por barril na Bolsa de Mercadorias de Nova York (Nymex). No fim da tarde, o petróleo era cotado a 79,8 dólares por barril, uma alta de mais de 3 por cento em relação ao fechamento da sexta-feira. A alta do petróleo seguiu-se à valorização do ouro, que bateu um novo recorde em Londres nesta segunda-feira e fechou cotado a 1.109,35 dólares por onça-troy (31,1 gramas), uma alta de 1,1 por cento em relação à sexta-feira. O mercado já comenta quando os preços do ouro vão romper o nível "psicológico" de 1.200 dólares por onça. Segundo os especialistas, isso poderá ocorrer antes do fim do ano, devido à fuga dos investidores para ativos reais, como uma estratégia de defesa contra a desvalorização do dólar. COTAÇÕES O impacto sobre o mercado brasileiro deverá ser positivo. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou uma alta superior a 2,5 por cento, o Índice Bovespa no patamar dos 66.000 pontos. Esse movimento deverá fazer o índice Bovespa superar seu recorde recente. O principal indicador do mercado acionário paulista fechou pouco acima dos 67.200 pontos no dia 19 de outubro, o maior nível desde a irrupção da crise. A justificativa para a alta recente foi a liquidez do mercado, que não apenas valoriza as ações brasileiras por meio de compras diretas como também pressiona as cotações das commodities, com efeitos de alta sobre a Bovespa. A alta das commodities é um excelente estimulante para a Bolsa. O mercado acionário brasileiro permanece com um perfil do século 19. O grosso da liquidez está concentrado em empresas de commodities e matérias-primas. Excetuando-se os bancos, o peso das companhias voltadas ao mercado interno é reduzido. Nesse cenário, um dólar fraco favorece os resultados das principais empresas como Petrobras, Vale, Gerdau, CSN e Usiminas. Todas, aliás, tiveram altas expressivas nesta segunda-feira. Para os especialistas do mercado, se não houver nenhuma medida governamental para inibir ainda mais a entrada de dólares no mercado, o Ibovespa poderá superar seu recorde recente ainda neste mês de novembro. * O jornalista Cláudio Gradilone assina a coluna Portfólio para a Reuters; as opiniões expressas são de sua responsabilidade.

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