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PÓS-CRISE?-Gordura pré-crise ajuda agronegócio na retomada

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

O breve período de vacas gordas vivenciado pelo agronegócio do Brasil antes de a crise de crédito internacional estourar há um ano, quando os preços de muitas commodities agrícolas estavam em níveis jamais vistos, ajudou o setor a enfrentar os problemas financeiros em 2009, permitindo que ele já visualize uma retomada em 2010. A avaliação é de Geraldo Barros, coordenador científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz (Esalq), que ressalta, entretanto, que a efervescência registrada antes da crise deve demorar a ser vista novamente pela agricultura. Um ano depois do colapso do Lehman Brothers, que marcou o agravamento da turbulência global, Barros salientou que o agronegócio brasileiro não deve reter nenhum efeito negativo duradouro após a crise passar. "Quanto ao futuro, até onde se pode enxergar, a tendência é de mercados firmes, principalmente a partir do próximo ano, quando a maioria dos paises poderá estar em crescimento significativo", declarou ele à Reuters, lembrando que 2008 foi um ano sem precedentes. De acordo com Barros, os níveis de preços estavam tão altos antes da crise que as cotações atuais, ainda que abaixo dos valores do boom, deixam as cotações das commodities em "níveis relativamente confortáveis". Observando que a crise comprovou que o setor de alimentos é aquele que menos sofre em períodos de turbulência, o pesquisador apontou ainda que "há sinais claros de saída do poço, nuns casos, e retomada, em outros". Assim, considerou ele, "o Brasil, dada sua competitividade, deve liderar a recuperação que se desenha em nível mundial. Saldos comerciais importantes devem continuar sendo observados...". Porém, ressaltou, o país ainda está e estará distante de voltar aos patamares anteriores à crise. QUEDA DO PIB Segundo ele, boa parte dos setores do agronegócio, que responde por mais de 25 por cento do PIB do Brasil, só conseguiram atravessar o momento difícil da economia mundial pelas boas reservas acumuladas antes da crise. Pois os números previstos para o PIB do agronegócio demonstram como a agropecuária brasileira sofrerá bastante em 2009. "Tal queda pode ficar na casa dos 5 por cento para o agronegócio (em 2009), enquanto o PIB da agropecuária (dentro da porteira) pode cair quase 7 por cento", afirmou o pesquisador do Cepea, que realiza levantamentos sistemáticos sobre o assunto. Em 2008, o PIB do agronegócio do Brasil terminou com alta de quase 7 por cento. "Mas a retração mais forte (em 2009) está reservada para o segmento de insumos, podendo chegar a 12 por cento", afirmou, ressaltando que a baixa nas vendas do segmento de fertilizantes é a principal responsável por essa redução. Em 2008, o segmento de adubos havia crescido 15 por cento. SALDO POSITIVO NA SOJA No entanto, há outros segmentos com resultados positivos entre os dois períodos, entre o pré e o pós-crise. "Os grãos vão perder tanto no campo como na indústria, mas foi o setor que mais havia avançado em 2008. A soja havia acumulado reserva pelo forte crescimento em 2008 (23 por cento); de sorte que a atual queda (-4 por cento) pode ser assimilada." As exportações brasileiras da oleaginosa devem bater recorde este ano, com a grande demanda da China e com o Brasil ganhando espaço de uma safra quebrada da Argentina. Barros afirmou ainda que no caso do segmento sucroalcooleiro questões como a demanda forte da Índia por açúcar estão ajudando. "Assim o dinâmico setor vai sair razoavelmente bem da crise." Já a pecuária, disse Barros, deve ter uma retração de 5 por cento em 2009, mas havia se expandido 12 por cento em 2008. "Não se espera, portanto, grandes dificuldades neste ano". Dessa forma, o setor não entra em 2009/10, no geral, debilitado. "As perspectivas são favoráveis, tanto no mercado interno --em recuperação quase certa-- como no externo, que deve manter-se firme para alimentos e energia."

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