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pós-crise vai testar a maturidade do investidor

Gripe Espanhola de 1918 e as duas guerras mundiais podem trazer pistas, mas não certezas sobre os próximos anos

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Por Redação
4 min de leitura
Getty Images 

A história da economia mundial está recheada de crises globais. O mundo viveu a Gripe Espanhola em 1918 e as duas grandes guerras mundiais do século 20. Agora, com a primeira pandemia da era tecnológica, muitos tentam prever, com lastro na realidade, o que esperar da realidade econômica global no médio prazo. Por mais que seja importante olhar para a história, desta vez, as singularidades da situação, que são muitas, deixam tudo mais nublado. “Ainda que a gente possa observar o que ocorreu nas crises do passado, a atual tem características peculiares. Por isso não é possível fazer muitas comparações”, observa o professor Luiz Carlos Prado, do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista em História da Economia. “Estamos falando de um cenário em que a demanda caiu drasticamente, mas a oferta também. Uma crise sanitária com forte impacto sobre as condições econômicas”, descreve o pesquisador. Nem mesmo a pandemia da chamada Gripe Espanhola, em 1918, pode servir como referência. Em primeiro lugar, porque surgiu num cenário em que já havia uma grande crise em andamento, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Em segundo, porque o mundo era completamente diferente há um século, especialmente no que diz respeito à comunicação e aos transportes. Uma das características sempre presentes na superação das grandes crises, incluindo as guerras mundiais, é o sentimento de alívio e consequente euforia que toma conta das pessoas. Não sabemos ainda quando isso ocorrerá em relação à covid-19, mas chegará um momento em que a humanidade perceberá que superou a atual crise. E, nesse caso, deverá ocorrer um aumento natural do consumo, do turismo e de todas as atividades ligadas ao prazer, represadas ao longo da pandemia. Tudo indica, entretanto, que esse momento de superação da crise não ficará tão claro e marcado agora, ao contrário do que ocorreu, por exemplo, após os grandes conflitos bélicos. Nas décadas de 1910 e de 1940 do século passado, toda a humanidade celebrou ao mesmo tempo o fim das guerras. O término da pandemia não deverá ser percebido de forma simultânea ao redor do planeta. E tudo indica que o Brasil, pelo ritmo lento de vacinação e pela ausência de medidas eficazes de isolamento social, será um dos últimos países a superá-la.

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B3 continua no radar O fato de o número de participantes da Bolsa brasileira continuar crescendo mesmo em meio à pandemia – dando sequência a um movimento iniciado em 2019 – é visto como um ótimo sinal pelo mercado. “Demonstra que a nova geração de investidores tem uma visão de mais médio e longo prazo”, avalia Felipe Paiva, diretor de Relacionamento com Clientes-Pessoa Física da B3. Para Marcelo Billi, gerente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a manutenção dos investimentos em renda variável mesmo em meio a uma crise de grandes proporções é indício de maturidade, e de maior entendimento do funcionamento do universo de investimentos, dos investidores. “Ao contrário de outros momentos do nosso passado recente, os investidores que aplicaram em opções de maior risco e maior prazo não fugiram para a renda fixa quando a volatilidade aumentou e os valores dos investimentos oscilaram”, compara Billi. Resultados preliminares de uma pesquisa que a Anbima vai divulgar em breve indicam que as camadas de renda familiar mais altas conseguiram poupar durante a pandemia – seja pela insegurança trazida pelo cenário, seja pela redução forçada dos gastos com lazer e viagens. “Esse aumento da poupança também explica parte do aumento da procura por investimentos de maior risco. Isso não significa que as pessoas não foram precavidas ou cuidadosas, ao contrário: pode demonstrar que elas têm poupança suficiente para alocar parte dos recursos em opções de maior prazo e risco”, avalia Billi. Um possível efeito de tudo isso é a maior conscientização das pessoas em relação à necessidade de sempre ter guardada a chamada reserva de emergência – muitos especialistas defendem essa quantia como equivalente à soma de um ano das despesas da casa. Como essa tendência vai se refletir na composição da carteira dos investidores – ou seja, que tipos de investimento serão mais demandados quando a pandemia passar e as pessoas tiverem fôlego para recompor suas vidas financeiras –, ainda é impossível saber.  “Há algo que certamente não vai mudar: os investidores vão continuar navegando em um mundo mais complexo, com mais alternativas e opções. Nesse cenário, intensificar nossos programas de educação é fundamental, e vamos fazer isso”, conclui o gerente da Anbima.

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Brasil x EUA - Um amplo terreno a conquistar

Mesmo com o forte crescimento registrado nos últimos dois anos, o número de investidores na Bolsa de Valores do Brasil corresponde a apenas 1,6% da população, enquanto nos Estados Unidos esse porcentual é de 52%.  Por mais que o interesse dos brasileiros pela renda variável possa continuar crescendo num cenário de juros baixos a longo prazo, é difícil imaginar que o País venha a alcançar um patamar semelhante ao dos Estados Unidos. “É preciso ter em mente que são sociedades muito diferentes, em vários aspectos. A começar pela renda per capita, que nos Estados Unidos é cinco vezes maior, e pela concentração de renda muito maior que temos no Brasil”, diz o professor Luiz Carlos Prado, da UFRJ. Para o economista Fabio Louzada, CEO da startup Eu Me Banco, outra diferença marcante é a importância dada nos Estados Unidos aos profissionais de investimentos, vistos como um tipo de assessoria praticamente obrigatório. “Lá, o assessor financeiro está para os investimentos como o médico está para a saúde e o advogado, para as questões legais”, compara Louzada – que, antes de empreender, atuou por 12 anos na área de investimento de grandes bancos. (MO)

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