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Possível acordo com FMI envolve prorrogação do atual e mais dinheiro

Negociação envolveria uma prorrogação do empréstimos de US$ 15,58 bilhões aprovado em setembro no ano passado, com um aumento de recursos.

Por Agencia Estado
Atualização:

O Fundo Monetário Internacional (FMI) aplaudiu nesta segunda-feira "a decisão das autoridades brasileiras de de enviar uma equipe a Washington" e manifestou-se pronto a iniciar "discussões produtivas" com o Brasil. O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, por sua vez, procurou consertar mais uma declaração desastrada do secretário Paul O´Neill, que provocou protestos em Brasília, reiterando sua aprovação às políticas econômicas que o País vem seguindo. "O Brasil está implementando as políticas corretas", disse a porta-voz de O´Neill, Michele Davis. "Nós estamos esperançosos quanto a seu sucesso continuado", acrescentou ela, respondendo aos jornalistas sobre a posição que o secretário Paul O´Neill adotará em relação ao Brasil durante a viagem que fará ao País, e também ao Uruguai e à Argentina, na semana que vem. No domingo, O´Neill disse, num programa de televisão, que não ofereceria ajuda a nenhum desses países durante a viagem sem receber garantias de que o dinheiro "trará benefícios e não simplesmente sairá do país para contas bancárias na Suíça". Ao ser informado sobre as declarações de seu colega norte-americano, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, disse não ter dúvidas de que o Brasil obterá que precisa do FMI, o que pressupõe o apoio norte-americano, pois os EUA têm poder de veto sobre decisões da organização. De acordo com fonte familiarizada com as conversas que precederam o anúncio da missão negociadora, sob o comando do secretário-executivo do ministério da Fazenda, Amaury Bier, o acordo possível com o FMI envolveria uma prorrogação do empréstimos de US$ 15,58 bilhões aprovado em setembro no ano passado, com um aumento de recursos. O período da prorrogração, que não deve ser de menos de seis meses, e montante de um novo empréstimo serão determinados nas negociações, que começam amanhã e devem se estender pela próxima semana. O Brasil tem ainda a sacar cerca de US$ 1 bilhão do acordo anterior, que termina em meados de dezembro. Diante da rápida deterioração do quadro financeiro do País, o objetivo do governo é tentar chegar a um acordo com o FMI o quanto antes e vê-lo aprovado antes do primeiro turno das eleições presidenciais, de forma a preservar a estabilidade durante a fase decisiva da campanha presidencial e os dois meses de transição até a posse do sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso. As conversas que Bier conduzirá em Washington deverão seguir um roteiro que o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, acertou com o FMI há duas semanas, em viagem a Washington. Na ocasião, Fraga disse que um acordo era "uma possibilidade real". Na semana passada, depois de novas conversas com a vice-diretora gerente do FMI, Anne Kruger, no Brasil, o presidente do BC disse que "o acordo depende apenas de nós". A premissa política por trás das discussões que Bier terá em Washington são declarações que os candidatos da oposição ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Sila, do PT, e Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, que atualmente lideram as pesquisas de opinião, fizeram nos últimos dias. Embora eles e seus assessores não percam oportunidade para defender uma mudança do modelo econômico, um alto funcionário brasileiro resumiu as declarações de Lula e Ciro que são relevantes para a busca de um acordo com o FMI. "Eles disseram que, até o dia 31 de dezembro, cabe a Fernando Henrique Cardoso tomar as decisões que julgar necessárias para manter a estabilidade econômica", afirmou. "Eles também disseram que honrarão os contratos internacionais firmados pelo atual governo. Nenhum candidato disse que não quer um acordo. Mas é claro que teremos que ter juízo para não fazer uma coisa que seja muito complicada para o próximo governo". Independente dos compromissos que o governo venha a assumir, a negociação com o FMI criará uma situação complicada para os candidatos da oposição na fase decisiva da campanha eleitoral: eles terão que medir as palavras, moderar os discursos, e esclarecer as posições de política econômica, sob pena de serem responsabilizados pelo fracasso dos entendimento com o Fundo e o agravamente da crise que o País já vive. Apesar da boa disposição que existe no FMI de explorar alternativas para o relacionamento futuro entre o Brasil e a instituição, as conversas de Amaury Bier em Washington começarão sem um desfecho pre-determinado. "Só vamos saber o que é factível durante as negociações", disse uma fonte oficial. O funcionário acrescentou que os entendimentos não incluirão a prorrogação de pagamentos ao FMI "porque eles só vencem no ano que vem e isso será pelo próximo governo".

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