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Postos de combustíveis sentem mais a crise que a média do comércio; segunda onda de covid preocupa

Segundo associação do setor, movimento chegou a cair 70% de abril a junho, principalmente nas capitais; vendas recuaram 5,1% em setembro, aponta o IBGE

Por Daniela Amorim (Broadcast) e
Atualização:

RIO - Na contramão do comércio varejista, postos de combustíveis dos grandes centros urbanos ainda amargam os prejuízos da pandemia de covid-19 em seus caixas. As evidências estão nos números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e são confirmadas por pequenos empresários desse segmento da economia, que relatam, inclusive, um movimento de aquisições de postos menores por grandes redes, mais resistentes à crise.

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Isolados em casa, motoristas das capitais, principalmente, estão consumindo menos combustíveis, o que afeta o desempenho dos postos. O designer carioca Bruno Santiago, de 39 anos, é um exemplo desse movimento generalizado no Brasil. Ele conta ter reduzido drasticamente sua demanda nos últimos sete meses, desde que passou a trabalhar remotamente.

“Estimo que, nesse período, tenha economizado, pelo menos, duas horas por dia e uns R$ 600 em gasolina por mês, e ainda posso acrescentar os custos do estacionamento do prédio onde trabalhava, na faixa de R$ 400 por mês. Então, foi uma economia mensal em torno de R$ 1 mil”, contou.

O designer carioca Bruno Santiago, de 39 anos, calcula ter deixado de gastar R$ 600 por mês com gasolina. Foto: Bruno Santiago/Arquivo pessoal

Pelas contas da Fecombustíveis, representante de donos de postos de todo o País, o movimento caiu 70% de abril a junho, sobretudo em capitais como Rio de Janeiro e São Paulo, e hoje ainda está 15% abaixo do período pré-pandemia. Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) demonstram que as vendas mais afetadas foram as de etanol e gasolina.

Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE, em setembro (último mês divulgado),  o varejo de combustíveis e lubrificantes foi um dos itens com maior impacto negativo para o resultado do comércio. Na comparação com o mesmo mês do ano passado, o segmento caiu 5,1%, enquanto a média do varejo avançou 7,3%. Em todo o ano, acumula queda de 11%. Além disso, os números do varejo de combustíveis estão 27,7% piores que no pico alcançado em fevereiro de 2014.

“Veio a pandemia, o varejo de combustíveis ficou enquadrado como serviço essencial, como supermercados e farmácias. Os postos permaneceram abertos, mas não havia consumidor”, apontou o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).

O presidente da Fecombustíveis, Roberto Miranda, conta que, no aperto, muitos empresários optaram por se desfazer do negócio, o que tem gerado uma concentração de mercado, segundo ele. "Até por um princípio econômico, quem não tem escala enfrenta mais dificuldade na crise", afirma.

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A leitura da Fecombustíveis e do Sincopetro, representante dos donos de postos de São Paulo, é que os postos de rodovia sentiram menos a crise porque concentram suas vendas no óleo diesel, utilizado em grande escala no transporte rodoviário de mercadorias e menos afetado na pandemia. Na Região Centro-Oeste, maior produtora nacional de alimentos, o prejuízo foi menor ainda.

Nas cidades, resistem melhor à pandemia os postos localizados em áreas de periferia, porque os moradores de baixa renda são, muitas vezes, obrigados a deixar o isolamento, enquanto as classes média e alta tendem a permanecer mais em casa, sem dirigir.

Segundo Rodolpho Tobler, coordenador da Sondagem do Comércio do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), os serviços de transportes como um todo ficaram "muito limitados" num primeiro momento da pandemia, mas já conseguem se recuperar.

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"Hoje, a maior preocupação é com o controle da pandemia, o medo de uma nova onda. Isso acaba afetando um pouco a expectativa dele (empresário) para os próximos meses, apesar de não ser algo tão forte ainda, mas há sempre uma cautela", relatou Tobler.

A expectativa dos donos de postos é que, com um possível anúncio de uma vacina contra o coronavírus e a retomada da economia no próximo ano, a atual demanda reprimida impulsione rapidamente as vendas, que, pela projeção da Fecombustíveis, deve crescer em volume, mas não em valores. Desde o início da pandemia, em março, o preço médio do litro da gasolina caiu de R$ 4,28 para R$ 4,16 no Estado de São Paulo, segundo a ANP.

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