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Poupança não é mais um bom negócio

Em um cenário em que a taxa de juros fica abaixo da inflação, o rendimento da tradicional caderneta chega a ser negativo

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Por Redação
Atualização:
Getty Images 

Com uma aplicação simples, menos riscos e sem incidência de impostos, a caderneta de poupança se popularizou entre as famílias brasileiras. Em 2018, um levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostrou que, entre os brasileiros que têm algum tipo de investimento, 89% aplicavam na poupança. Mas será que ela ainda é uma boa opção?

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Com a baixa remuneração, a poupança tem sido vista mais como uma forma de guardar dinheiro do que um investimento. Nos últimos meses, inclusive, a rentabilidade, descontada a inflação, foi negativa, ou seja, quem tem dinheiro na caderneta está perdendo poder de compra. Segundo Kenio Fonseca, assessor de investimentos da Ethimos, isso ocorre quando a taxa de juros não acompanha a subida da inflação.

“Primeiro ponto que nós precisamos recordar. Desde 2012, a poupança remunera 70% da Selic”, explica. Essa nova regra vale para quando a taxa de juros está abaixo de 8,5%, o que vem ocorrendo há alguns anos. Com a pandemia, o Banco Central reduziu a Selic para 2%. “Com essa queda, a poupança então passou a remunerar com 1,4% ao ano, ou seja, 70% desses 2%.” Em contrapartida, com o fechamento de empresas, a produção cai, o que acaba afetando a oferta e demanda de produtos e, consequentemente, a inflação. “Começa a ter falta de produtos. Com isso, e à medida que as economias são reabertas, a pressão inflacionária aumenta, porque, de uma maneira geral, há uma forte demanda no mundo por produtos como alimentos, petróleo e outros.” Para conter a inflação, o Banco Central vem aumentando a taxa de juros, mas paulatinamente. “Dado o fato de que a Selic vai aumentando aos poucos, a inflação sobe mais rápido e, com isso, a poupança fica ainda mais defasada em relação à inflação”, explica Kenio. Alguns investidores privilegiam a poupança por terem maior familiaridade com o produto.

Contudo, para a rentabilidade voltar a fazer sentido, é preciso um cenário em que a inflação fique menor do que 70% da taxa básica de juros. A expectativa do Banco Central é de que, com o aumento gradativo da Selic, a inflação chegue a 3,06% em 2024. “À medida que a Selic sobe, a inflação tende a cair e, com isso, a poupança se valoriza um pouquinho mais, porém, nada significativo e nada que vá fazer muita diferença para o investidor”, esclarece o assessor de investimentos.

Segundo o especialista, não há motivos para insistir na caderneta. “Nós olhamos daqui para a frente e não vemos nenhum momento em que a poupança faça sentido.” Para ele, o mercado financeiro brasileiro tem evoluído bastante e os investidores têm inúmeras possibilidades com rendimentos superiores. “As pessoas ainda se sentem confortáveis com a poupança, mas à medida que elas vão entendendo um pouco mais do mercado, vão buscando mais retorno e vendo mais oportunidades, inclusive com ativos que remuneram muito acima da inflação, como os próprios títulos do governo.”

“Existem títulos que pagam IPCA, ou seja, inflação e mais 4%, ou até mais do que isso. Se eu pego, por exemplo, uma poupança hoje pagando na casa de 3,7% ao ano e um título de uma NTN-B pagando 8,35%, que é o IPCA, mais 4%, a pessoa está ganhando 12,35% ao ano. Então não faz o menor sentido eu deixar o dinheiro na poupança em vez de estar, por exemplo, em um título do Tesouro, que, mesmo pagando Imposto de Renda, é mais rentável.”

Carteiras digitais

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As fintechs e os grandes bancos estão atentos a esse movimento e cada vez mais atraem pessoas que querem poupar dinheiro, mas não querem se arriscar em investimentos mais complexos. Com as chamadas carteiras digitais, empresas como Nubank, PicPay e Iti têm atraído clientes com opções que rendem mais do que a poupança. Basta a pessoa deixar o dinheiro guardado na conta digital e o rendimento é gerado diariamente.

“O saldo da carteira PicPay oferece rendimento superior ao da caderneta de poupança e, além de também ter liquidez diária e poder fazer uma reserva com retornos maiores, o usuário tem acesso a muitos outros benefícios, como pagar boletos, recarregar créditos ou fazer compras”, explica Danilo Caffaro, diretor sênior da carteira digital do PicPay. “Além disso, o saldo do PicPay rende diariamente, enquanto na poupança o usuário precisaria esperar o aniversário mensal do depósito.”

Com a Selic a 5,25%, a carteira do PicPay oferece rentabilidade de 120% do CDI, que equivale a um rendimento bruto de 0,50% ao mês ou 6,21% ao ano. Então, se uma pessoa deixar R$ 10 mil no saldo da conta digital, em 12 meses o valor bruto do rendimento será de R$ 621. Como a rentabilidade da nova poupança é de 70% da taxa Selic, esse dinheiro acabaria rendendo 0,30% ao mês ou 3,68% ao ano. Portanto, no final desse período o valor seria de R$10.368.

A fintech ainda não oferece CDBs ou títulos, mas, segundo o executivo, em breve esses investimentos estarão disponíveis. Para quem busca outras aplicações, a lista de opções melhores do que a poupança é extensa. Se um investidor colocar R$ 10 mil em títulos prefixados do Tesouro com resgate em 2024, ao final desse período ele terá R$12.938,78, de acordo com o simulador do Tesouro Direto. Com os descontos de Imposto de Renda e taxa de custódia, o valor líquido será de R$12.407,26. Na poupança, o valor será de R$11.444,80 ao final do mesmo período.

O ideal é diversificar

Dependendo do perfil do investidor, é possível também buscar opções com mais ou menos riscos, mas que podem trazer retornos mais significativos. Um dos pontos que tornam a poupança atrativa para quem não conhece outros investimentos é a comodidade.

Deixar o dinheiro parado em um lugar que rende, mesmo que pouco, parece ser uma boa opção em um primeiro momento. No entanto, uma vez que o rendimento não está acompanhando a inflação, o patrimônio do investidor não está tendo um crescimento real.

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“Se analisarmos os últimos 12 meses, enquanto a poupança na nova regra trouxe um ganho de 1,72%, o IPCA, que é o índice oficial utilizado pelo Banco Central para medir a inflação no Brasil, subiu 8,99%. Quando a rentabilidade do investimento fica abaixo da inflação acumulada no período analisado, é dito que houve um ganho real negativo, ou seja, o retorno não foi suficiente para manter o poder de compra do investidor”, explica Luciane Effting, superintendente executiva de Investimentos do Santander. Por isso, é ideal estudar todas as opções e investir de acordo com os objetivos que deseja alcançar com aquele rendimento. Os bancos e outras instituições financeiras costumam oferecer soluções de investimentos de acordo com o perfil e as necessidades de cada cliente, que vão desde opções mais práticas até as mais estruturadas. Para quem quer começar a investir, buscar ajuda de profissionais da área é fundamental.

Após entender um pouco mais sobre os investimentos disponíveis, a pessoa pode começar a buscar essas alternativas com maior rentabilidade. Mas vale lembrar que não é necessário investir em uma única coisa. De acordo com os especialistas, o recomendado é diversificar, o que faz com que aumente a possibilidade de retorno e o risco total da carteira seja diluído.

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