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''Poupança precisa de solução definitiva''

Para ex-diretores do BC, a taxação da poupança não resolveu o problema

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Adriana Chiarini e Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

Ex-diretores do Banco Central (BC) reunidos em seminário no Rio, ontem, foram unânimes em qualificar as mudanças na remuneração da caderneta de poupança de solução paliativa e temporária, que apenas dá ao governo tempo para encontrar a solução definitiva. "O que foi feito, me parece, foi ganhar tempo. É preciso pensar em uma solução definitiva. Vamos aproveitar esse tempo", disse o ex-presidente do BC Armínio Fraga, sócio da Gávea Investimentos. Armínio comentou que é otimista e acredita que o Brasil terá juros mais baixos e isso será suficiente para exigir uma solução definitiva para a poupança. Para ele, os juros básicos (Selic) não podem ter um limite mínimo dado pela rentabilidade da poupança, fixada em taxa referencial (TR) mais 6% ao ano. "É melhor que esse trabalho seja feito logo, de uma vez", afirmou. Fraga considera que, na situação atual, a poupança ainda não é uma restrição à queda de juros. No entanto, disse que "a torcida é para que chegue lá". "Estamos insistindo nisso. Agora que está batendo na trave, vamos fazer o gol." Também para o vice-presidente do Banco Itaú e ex-diretor do BC, Sérgio Werlang, as mudanças anunciadas pelo governo "resolvem no curto prazo". "Estamos caminhando para uma taxa de juros muito baixa no Brasil", ressaltou. Para ele, as medidas permitem que a Selic continue a cair e, no futuro, pode ser necessária uma nova mudança para permitir uma queda maior. Mas, ao ser indagado sobre a taxa de administração dos bancos e dos fundos de investimento, ele disse que essa é uma questão de mercado e não se alongou. Ilan Goldfajn, também ex-diretor do BC e atual economista-chefe do Itaú-Unibanco, considerou que as medidas são "o primeiro passo, suficiente, no momento". Para ele, porém, novas alterações na caderneta de poupança e em outros aspectos da economia serão necessárias. "Estamos chegando a um piso de juros, que está sendo dado pela taxa fixa da poupança", disse ele, em coletiva de imprensa durante o 11º Seminário de Metas de Inflação, organizado pelo BC, no Rio. PRAGMATISMO Para Goldfajn, será necessária "uma mudança mais geral na economia". Como exemplo, ele citou as metas de remuneração dos fundos de pensão, que consideram muitas vezes um índice de inflação mais um porcentual fixo anual. Já o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas Gomes, também ex-diretor do BC, defendeu as medidas afirmando que há uma necessidade de permitir, no curto prazo, a trajetória de queda da Selic, que poderia ser impedida pela maior rentabilidade da poupança. De acordo com ele, a decisão do governo "foi a mais pragmática possível" e permite que a trajetória de queda da Selic possa ser mais rápida no curto prazo". Segundo Thadeu de Freitas, para retirar o piso de juros, seria preciso muito tempo de discussão no Congresso Nacional. Para ele, a melhor alternativa definitiva seria indexar a rentabilidade da poupança à Selic, mas isso seria demorado. Ele disse também que dificilmente a Selic chegará a 7,25%, que considera "o chão" para o modelo criado com essas medidas. Luiz Fernando Figueiredo, outro ex-diretor do BC, hoje da Mauá Investimentos, disse que o anúncio de ontem "foi uma tentativa, não uma solução". "Quando a taxa de juros brasileira está indo para um nível mais normal, passa a ser uma distorção ter juro fixo de 6%", afirmou. Ele defendeu uma solução definitiva. Admitiu, porém, que as decisões do governo resolvem no curto prazo. Mas criticou o fato de a redução dos tributos nos fundos de investimento, aparentemente, durar por um ano, sem se saber se continuará depois.

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