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Presidente do Conselho de Administração do Bradesco

Opinião|Pra não esquecer jamais

Tirar lições de dificuldades ou de situações de crise é uma questão de bom senso

Atualização:

Colaboro regularmente com O Estado de S. Paulo há seis meses, período pautado pela pandemia do novo coronavírus, que deixará marcas profundas na história. Agradeço ao jornal, do qual sou leitor há muitas décadas, por essa jornada inestimável. Escrever para contribuir com o debate sobre os vários temas suscitados pela covid-19 e a realidade brasileira abre novos desafios de raciocínio.

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Economia, política, ética, solidariedade, sustentabilidade, administração pública, deveres do Estado e do cidadão; nenhum desses assuntos deixou de ser avaliado e discutido intensamente, em 2020, pela comunidade científica, classe política, empresários, sociedade civil. Todos. Tentei acompanhar os debates e oferecer minha contribuição. 

A discussão ampla, franca e honesta dos problemas de uma sociedade é a ferramenta mais eficaz para encontrar boas soluções, faz parte da construção da democracia. É gratificante e enriquecedor receber, da parte de leitores, críticas, sugestões, ideias, outras perspectivas, e até elogios, que estimulam a reflexão mais profunda e sistemática sobre nossas potencialidades e problemas. Estou certo de que, ao longo de 2021, o exercício de compartilhar ideias, valores e crenças será cada vez mais profícuo. 

Conhecemos as consequências da pandemia para o Brasil e o mundo. Façamos uma rápida avaliação. Este ano, o número de mortes no País por Covid-19 supera os 180 mil. É uma tragédia sem paralelo. As medidas de isolamento social, mais severas no início, reduziram de forma drástica a atividade econômica. Teremos em 2020 uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) estimada em 4,5%. Isto agravou o desemprego, que atinge agora quase 14 milhões de trabalhadores. 

Os desembolsos do governo no combate à pandemia e aos seus reflexos econômicos – sem os quais a atividade econômica teria uma queda muito maior – geraram um problema fiscal que não será resolvido no curto prazo: terá de ser enfrentado por este governo e os próximos. Até outubro, o governo federal acumulou um déficit de 680 bilhões de reais e o seu financiamento elevou a dívida pública para 91% do PIB. Essa dívida provavelmente será superior a 100% do PIB pelos próximos anos. 

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Tivemos outros fatos que marcaram o ano, como o incêndio no Pantanal, o aumento do desmatamento na Amazônia e o assassinato de João Alberto Silveira de Freitas, um homem negro, num supermercado de Porto Alegre. Ganharam repercussão mundial e levantam pontos relevantes, como a questão do meio ambiente, uma de nossas maiores riquezas, além de desnudar o racismo estrutural em nossa sociedade. 

Entretanto, 2020 pode servir de ponto de partida. Tirar lições de dificuldades ou de situações de crise é uma questão de bom senso. Insensato seria persistir no erro e caminhar para crises mais graves. Perder a oportunidade de usar eficientemente os conhecimentos (econômicos, científicos e sociais) adquiridos neste ano dramático é subtrair à próxima geração a possibilidade de viver em um país melhor, menos instável, mais próspero, mais justo e igualitário. 

Acredito que o Natal é um tempo propício para reafirmar esses princípios. É quando percebemos mais a solidão e as carências dos outros, reconhecemos as nossas imperfeições e projetamos como melhorar como seres humanos. 

Conhecemos a pauta econômica que deve nos orientar. As reformas estruturais são fundamentais. As mudanças sociais que reclamamos, como o combate à desigualdade em todos os seus aspectos, também o são. Sabemos ainda que todas essas mudanças para se tornarem perenes pressupõem uma educação melhor e realmente inclusiva. 

Este é um ano que não pode ser esquecido. Mostrou o paradoxo que é a vida: o nosso bem mais valioso, ao mesmo tempo tão frágil. Portanto, é preciso colocá-la em primeiro lugar. 

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O Natal de 2020 reforça que valores, afetos e o aquecer dos corações são o que realmente importa.  PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DO BRADESCO.  ESCREVE A CADA DUAS SEMANAS

Opinião por Luiz Carlos Trabuco Cappi
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