Precisamos de um Estado com propósito de longo prazo, diz André Lara Resende

Para o ex-presidente do BNDES e um dos ‘pais’ do Plano Real, o Estado pode ter investimentos públicos fora do Orçamento, mas com um horizonte além do governo atual

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Por Andre Jankavski
Atualização:
3 min de leitura

É necessário excluir o investimento público do Orçamento do governo. Essa é a opinião do economista André Lara Resende, um dos ‘pais’ do Plano Real e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que defende que o equilíbrio fiscal de um país não pode ser feito em quaisquer circunstâncias. Isso, no entanto, não quer dizer que se pode gastar à vontade. Lara Resende acredita que seria necessário um órgão independente, tal como é o Banco Central hoje, para definir projetos de longo prazo e também metas para investimentos – e um propósito de longo prazo.

“É necessário ter a volta de investimento público, mas com um horizonte além do governo. Os projetos precisam ser julgados a longo prazo e fora da lógica do equilíbrio fiscal. Eles devem ser submetidos a uma disciplina para analisar taxas de retorno e ganho de bem estar (da sociedade) superior ao custo do endividamento”, disse o economista, que também defende concessões de áreas em que a iniciativa privada é melhor gestora do que o Estado.

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'Precisamos criar um Estado competente, prestador de serviços que custem o mínimo possível', disse André Lara Resende. Foto: Felipe Rau/Estadão - 10/8/2018

“Existem áreas que são fundamentais para o investimento público, como segurança, por exemplo. Temos que evitar a desagregação e a privatização do Estado. Ele precisa ser competente, sério e que respeite a sociedade.”

Os posicionamentos foram feitos nesta quarta-feira, 15, durante um evento organizado pelo movimento Derrubando Muros, que surgiu por iniciativa de empresários, investidores, intelectuais e políticos para organizar a oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro. Entre as principais metas do grupo está a criação de uma terceira via para ser uma alternativa a Bolsonaro e também ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Com tanta defesa ao investimento público, Lara Resende não é um apoiador do Estado mínimo, como os liberais defendem. Pelo contrário. Segundo ele, não existe uma sociedade organizada sem Estado e quanto mais sofisticada é essa sociedade, mais a necessidade de um poder central. Mas isso não significa que não podem existir mudanças nesse Estado. 

“Precisamos criar um Estado competente, a favor da sociedade, prestador de serviços que custem o mínimo possível. Sem governantes que tratem o País como se fossem o seu quintal”, disse Lara Resende. “Ou seja, um Estado com propósito de longo prazo e que balize as ações e os seus investimentos nesse propósito, assim como os investimentos da iniciativa privada.” 

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Para Lara Resende, o Estado brasileiro tem três grandes problemas. O primeiro deles é o patrimonialismo, que consiste na defesa do interesse dos ocupantes do governo do País em detrimento da população, o corporativismo, que é a captura do Estado por grupos específicos e a burocratização em excesso.

Priscila Cruz, presidente da organização Todos Pela Educação, defende “Estados diferentes” dependendo da classe social. “Para mim, por exemplo, o Estado pode ser pequeno, mas para a população mais pobre precisa ser maior. Na perspectiva da educação, por exemplo, têm algumas ilhas de excelência, mas a qualidade não chega para todo mundo. E não chega em parte por ineficiência e pelo corporativismo”, disse ela, que também participou do evento.

Assim como Lara Resende, o economista Sérgio Besserman, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), acredita que o Brasil tem uma grande oportunidade de se tornar um País mais relevante nesse momento em que há uma transição do mundo para economias de baixo carbono. E o Estado tem que ser atuante nisso. “A forma de fazer é que o Estado tem que criar condições de incentivos e desincentivos”, disse Besserman em participação no encontro.

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