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Preço atual inviabiliza projetos da Petrobrás

Novos investimentos seriam viáveis com petróleo acima de US$ 60

Por Nicola Pamplona e HOUSTON
Atualização:

Os atuais preços do petróleo podem inviabilizar até 52% da capacidade adicional de produção prevista para o período entre 2009 e 2014. A conclusão é de estudo da consultoria americana Cambridge Energy Resources Associated (CERA), que inclui o Brasil na lista dos países com altos custos para o desenvolvimento de novos projetos. Segundo o trabalho, os novos projetos brasileiros seriam viáveis com petróleo a partir dos US$ 60, caso os custos não sejam reduzidos. O levantamento feito pela CERA indica que, até o início da crise, o potencial de crescimento da demanda mundial até 2014 situava-se em 14,1 milhões de barris por dia, o equivalente a sete vezes a produção brasileira atual. Deste total, 7,6 milhões de barris por dia podem ser congelados por conta dos baixos preços e da dificuldade na obtenção de financiamento após o estouro da crise de crédito no mercado mundial. O porcentual de projetos em risco foi divulgado em uma das apresentações da Petrobrás na Offshore Technology Conference (OTC). A íntegra do estudo é restrita aos clientes da CERA, mas dados aos quais o Estado teve acesso indicam que a consultoria vê dificuldades para o desenvolvimento das reservas brasileiras. A empresa calcula que, com os custos de bens e serviços vigentes no terceiro trimestre de 2008, os novos projetos brasileiros precisam de um petróleo pouco acima dos US$ 60 para dar lucro. Esta semana, o barril oscilou em torno dos US$ 55, o que já representa ganhos excepcionais em relação aos US$ 40 do início do ano. Para o analista Dan Pickering, sócio da consultoria Tudor Pickering Holt & Co., a tendência é que o preço flutue entre US$ 60 e US$ 70 por barril em dois anos. Somado ao esforço da Petrobrás para reduzir os custos de sua encomenda, tal cenário deve garantir a lucratividade dos projetos de produção no Brasil. Pickering vê extremo risco aos projetos de produção de petróleo extra-pesado na Venezuela ou em areias betuminosas do Canadá, apontados pela CERA como os projetos mais caros, com custo de produção acima dos US$ 80 por barril. "(O custo desses projetos) Pode ser um pouco menos do que isso, mas não chega perto dos preços atuais", destacou Pickering, em palestra no almoço de encerramento da OTC. O risco de perder dinheiro com preços baixos e custos altos já levou a Shell a cancelar os investimentos na expansão do projeto Athabasca Oil Sands, de extração de petróleo nas areias betuminosas do Canadá. Até agora, alertam os especialistas, não houve significativa queda de custos. "A situação é interessante e diferente. Os custos não caindo tão rápido quanto os preços do petróleo e do gás natural", comentou o vice-presidente sênior da petroleira americana Conoco Phillips, Luc Messier. Os projetos que já estão em andamento, não sofrem o impacto, mas o cenário certamente será levado em consideração na análise de novos investimentos, completa o presidente da Chevron África e América Latina, Ali Moshiri. Em sua palestra na OTC, o gerente de engenharia de produção da Petrobrás para a Bacia de Santos, Kazuioshi Minami, reforçou que a empresa estima um custo de produção pouco acima dos US$ 40 para o pré-sal na Bacia de Santos. Mas pediu maior cooperação dos fornecedores na questão dos custos, alegando que a empresa precisa de margem extra para sustentar investimentos futuros. Para especialistas, porém, o cenário atual pode colocar o Brasil em boa posição no mercado internacional de petróleo. Com o agressivo plano de investimentos da Petrobrás, a tendência é que o País atraia parte da indústria fornecedora necessária para desenvolver as reservas gigantes do pré-sal. O Brasil começa a ser visto como um dos principais compradores de bens e serviços para o setor, enquanto em outras regiões as encomendas estão caindo. "Em um prazo mais longo consideramos começar a produzir equipamentos no Brasil", diz Martin Anderson, presidente do Triton Group, que fabrica robôs usados para instalação e manutenção de equipamentos submarinos de produção de petróleo. Atualmente, a empresa tem uma base de operações em Macaé, litoral norte do Rio de Janeiro, que já lhe garantiu o fechamento de contratos no valor de US$ 5 milhões.

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