Publicidade

Preço da cesta básica justifica queda dos juros

Por Agencia Estado
Atualização:

Se o Banco Central (BC) estava esperando os preços baixarem no varejo para poder reduzir os juros, então chegou a hora. Essa é a opinião de um economista próximo ao governo que identifica nos preços diários da cesta básica um dos motivos pelos quais o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve os juros em 26,5% ao ano na sua última reunião. A cesta básica diária de São Paulo, medida pelo Dieese em convênio com a Fundação Procon na capital paulista, fechou o mês de maio com deflação de 0,76%. A cesta básica é um dos indicadores utilizados pelo Ministério da Fazenda para acompanhar os preços e pelo Banco Central para definir a taxa de juros. O resultado de maio foi a primeira deflação mensal desde 31 de janeiro. No último dia 30 de abril, gastava-se R$ 215,21 para a compra dos 31 produtos que compõem a cesta, que agora, em 30 de maio, passou a custar R$ 213,57. Mesmo com a variação natural dos preços, a expectativa de Cristina Rafael Martinucci, técnica de Estudos e Pesquisas do Procon, é que ?de agora em diante não haverá grandes oscilações mais?. No ano, a cesta ainda acumula alta Mas o dado que pode justificar a decisão da última reunião do Copom é que a maior alta do ano foi em 13 de maio deste ano, quando a cesta alcançou R$ 217,01, com mais 0,91% sobre o dia anterior. Na verdade essa alta, ocorrida dias antes da reunião do Copom, foi a maior registrada em todo o período do Plano Real na cesta básica, um sinal muito claro para ser ignorado pelo Comitê. Agora, depois de quedas seguidas, Martinucci diz que essa tendência já havia sido notada nos Índice de Preços Recebidos (IPR) do Instituto de Economia Agrícola. Essas baixas só não foram maiores em razão do comportamento do preço do arroz, que teve alta de quase 14% e só agora começa a cair. Na sua avaliação, apenas problemas externos poderão provocar grandes oscilações de preços, já que não há previsão de quebra de safra e nem de falta de oferta de nenhum produto que compõe a cesta. Na segunda-feira, o indicador voltou a registrar queda, de 0,51% entre o dia 30 de maio e 2 de junho, fechando a R$ 212,48. Na terça-feira, depois de cinco quedas consecutivas, o índice voltou a registrar alta, de 0,14%, cotando a cesta a R$ 212,78, pressionado pela alta do preço da carne e da farinha de mandioca. E ontem caiu de novo, 0,005%, deixando a cesta básica em R$ 212,77. No mês, a cesta apresenta queda de 0,37% (base 30 de maio de 2003), e nos últimos 30 dias, baixa de 0,54% (base 02 de maio de 2003). No ano, entretanto, o índice continua em alta de 2,10%. ?Um dos motivos para o Copom manter os juros em 26,5% na sua última reunião foi que, naquela altura, os preços no varejo no ponta a ponta estavam em alta. Um exemplo é a cesta básica do Procon em São Paulo, em trajetória de alta?, diz o economista. Outros sinais Outro indicador observado pelo BC é o indicador da variação de preços nos supermercados, o Abras Mercado (mede a variação de preços de 35 produtos no varejo), que foi divulgado justamente dia 21 de maio (último dia da reunião do Copom), com alta de 1,32%. ?Agora, a tendência é inversa?, diz o economista, pois a variação de abril foi a menor do ano (janeiro, 1,90%; fevereiro, 1,40%; e março, 1,70%). Isso significa, no seu entender, que um dos últimos argumentos para o Banco Central manter os juros atuais cai por terra. O próximo número do Abras Mercado deverá sair nos dias do Copom. Mesmo acreditando que o Copom vá baixar os juros, o economista acredita que será aos poucos e que quem esperar uma baixa de três ou quatro pontos, vai decepcionar-se. Em março, entretanto, a cesta básica fechou o mês em R$ 209,68, portanto abaixo do valor registrado em maio, apesar da queda em relação a abril. Mas o que importa, diz o economista, é olhar para a tendência que, naquele ponto da última reunião do Copom, era de alta e, agora, é de baixa. Durante todo o mês de maio, a cesta básica teve um comportamento irregular, com dias de alta e outros de baixa. Na segunda-feira, 19 de maio, quando houve a reunião preliminar do Copom, havia alta de 0,30% e a cesta estava cotada a R$ 216,46. Ainda que nos dois dias da reunião do Copom houvesse quedas (de 0,18% do dia 20 para 21 e de 0,49% do dia 21 para 22), ainda havia volatilidade (oscilação) no indicador. De maio de 2002, quando a cesta básica custava R$ 154,88 a maio deste ano R$ 213,57, a cesta básica aumentou 37,89%.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.