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Preço do trigo deve subir com a alta do dólar

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Roland Guth, disse nesta segunda-feira que não restará à indústria outra alternativa que não a de repassar a alta do dólar ao preço da farinha. Segundo ele, isso já vem sendo feito pelos moinhos, mas "não integralmente". "Agora, ou os moinhos reajustam seus preços, ou quebram", afirma Guth. Neste segunda-feira, no norte do Paraná, o preço do trigo atingiu R$ 700 a tonelada. Na última quinta-feira era ofertado a R$ 650/t. Algumas cooperativas do Estado chegaram a sinalizar hoje preços de R$ 730/t, mas, de acordo com o mercado, não houve negócios. Com o trigo argentino negociado nesta segunda-feira a US$ 202 a tonelada (mais US$ 10 de frete) e chegando ao porto de Santos (SP) a um custo de R$ 795/t (ao câmbio de R$ 3,75), os moinhos aceitam pagar os preços sinalizados internamente. A comercialização da safra nacional é lenta porque tanto os produtores quanto as cooperativas seguram o produto na expectativa de saber qual será o limite para a moeda norte-americana. "Eles sentaram em cima do trigo e esperam", disse o gerente de suprimentos do Grupo Anaconda, Fernando Ribeiro Souza, que estima a demanda/oferta atual em três a quatro compradores para cada lote de trigo ofertado. De acordo com o executivo da Anaconda, quem aceita vender exige prazos de pagamento bem curtos. Os moinhos da marca, por exemplo, fecham negócio para pagamento em 72 horas. Os preços sinalizados para o trigo da safra nova argentina também são superiores aos de outros anos, um aumento projetado em mais de 40%. Para entrega em janeiro de 2003, a tonelada está sendo ofertada nos portos do sul da Argentina a US$ 165 e, no norte, a US$ 155/t. Na avaliação de Souza, o dólar e o mercado internacional do trigo - com preços em alta, impulsionados pelos estoques mundiais em queda - continuarão balizando os preços do produto nacional, mesmo com a maior oferta do cereal. "O que é muito preocupante, tendo em vista o já curto capital de giro da indústria", disse. Desde o primeiro semestre deste ano, as empresas vêm enfrentando dificuldades para importar o grão, tanto na Argentina, que aumentou os preços em dólar, quanto de outros países da América do Norte e da Europa, sobre os quais incide Tarifa Externa Comum (TEC) de 11,5%. "O preço do trigo nacional já estava muito caro quando era negociado a R$ 500/t, imagina agora", disse o executivo, lembrando que o preço mínimo sinalizado pelo governo para o trigo do Paraná (maior produtor nacional) nesta safra é de R$ 285/t. O presidente da Abitrigo propôs a suspensão temporária da Tarifa Externa Comum (TEC) - de 11,5% - que incide sobre o trigo importado de países do fora do Mercosul. Guth estuda ir a Brasília ainda esta semana para discutir o assunto com técnicos do Ministério da Agricultura. "A suspensão da TEC traria um alívio para a importação do trigo dos Estados Unidos, hoje mais barato que o argentino", disse. Os Estados Unidos, tradicional fornecedor de trigo dos moinhos instalados na região Nordeste, mais próximos dos portos norte-americanos, neste ano têm sido alternativa de abastecimento também para moinhos do Sudeste. Mesmo com a incidência da TEC sobre o trigo norte-americano, o Brasil importou 232.124 mil toneladas de trigo daquele país em julho e agosto, contra 35,1 mil toneladas em todo o primeiro semestre. Já a Argentina, principal fonte de abastecimento dos moinhos brasileiros, vem fornecendo cada vez menos: 373,5 mil t em agosto contra 532,2 mil t em julho, segundo a Abitrigo. Nesta segunda-feira, a tonelada de trigo norte-americano estava cotada a US$ 195/t e a tonelada de trigo argentino, US$ 202/t. A suspensão da TEC vem sendo pedida pelo setor desde o início do ano, quando as dificuldades econômicas vivi das pela Argentina começaram a influenciar no comércio de trigo, levando à diminuindo da oferta e ao aumento dos preços. O governo brasileiro resistiu a derrubar a TEC e, na última vez em que debateu o assunto, no início deste mês, adiou uma possível decisão para janeiro próximo, ou seja, já com o novo governo empossado. Prevaleceu a idéia de que derrubar a TEC neste momento em que a safra nacional chega ao mercado prejudicaria o produtor nacional. Guth discorda e diz que agora o cenário é outro: "Tirar a TEC não implicará em preço menor para o trigo nacional, principalmente porque os moinhos não deixarão de comprar a produção local", disse.

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