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Preço menor reduziria lucro em 60%

Caso a Petrobrás tivesse alinhado o diesel e a gasolina com as cotações internacionais, ganho cairia para R$ 2 bi

Por Kelly Lima e Nicola Pamplona
Atualização:

O lucro da Petrobrás no primeiro trimestre de 2009 ficaria entre R$ 2 bilhões e R$ 2,5 bilhões, caso a estatal tivesse alinhado os preços do diesel e da gasolina à cotação internacional do barril de petróleo. O cálculo, feito por analistas do setor, reduziria o lucro da estatal, de R$ 5,8 bilhões, em mais de 60%. Segundo o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, o cálculo considera que a gasolina e o diesel estiveram em média, respectivamente, 49% e 77% mais altos no País do que no exterior. Para o analista do Credit Suisse, Emerson Leite, o fato de a Petrobrás ter vendido 961 mil barris por dia de gasolina e diesel no primeiro trimestre com prêmio superior a 50% sobre os preços de referência no mercado internacional distorce os resultados, que impedem análise mais otimista sobre o lucro. "Se tivesse alinhado seus preços, a estatal teria lucro de R$ 2,5 bilhões, o mais fraco trimestre desde 2002", disse Leite. Para o analista do Banco do Brasil, Nelson Rodrigues de Mattos, o mercado já esperava esse ganho e teme que um eventual queda do preço dos combustíveis estanque o lucro. Já a analista Paula Kovarsky, do Itaú, destaca que o mercado não acredita que um repasse sobre os preços da gasolina e do diesel "zerem a diferença". "Um reajuste para baixo em torno de 10% diminuiria a diferença e ainda permitiria à Petrobrás manter um ganho." A percepção de que a manutenção dos preços domésticos evitou queda maior do lucro foi reforçada pela comparação do desempenho mundial do setor. O lucro da Petrobrás caiu 20% no primeiro trimestre, para R$ 5,8 bilhões. Suas concorrentes sofreram quedas bem maiores. A ExxonMobil, maior petroleira de capital aberto do mundo viu seu lucro cair 57% no primeiro trimestre, para US$ 4,55 bilhões. BP e Shell tiveram queda de 62%, para US$ 2,38 bilhões e US$ 3,49 bilhões, respectivamente. Na Chevron, o recuo foi de 64%, para US$ 1,84 bilhão. Todas essas companhias reajustaram os preços pela variação internacional do petróleo, dizem analistas. No primeiro trimestre de 2008, o petróleo estava, em média, a US$ 97 o barril, mais que o dobro dos US$ 44 no mesmo período de 2009. No ano passado, porém, a Petrobrás mantinha os preços da gasolina e do diesel abaixo das cotações internacionais; o último reajuste foi em maio de 2008. Por isso, diz o analista do UBS, Gustavo Gattass, teve lucro menor que as concorrentes. Na sua opinião, relação semelhante em sentido inverso explica a comparação favorável à estatal brasileira agora. A situação só não foi mais favorável porque a crise reduziu o consumo interno de diesel em 6% no trimestre, movimento reforçado pelo uso de térmicas a óleo, que inflou as vendas da estatal em 2008. Já a demanda por gasolina cresceu pouco em 2009, apenas 2%. Houve grande queda também no consumo de nafta petroquímica (9%) e outros derivados (23%). As vendas internas da Petrobrás, incluindo gás natural, caíram 8%. Gattass não acredita em redução dos preços da gasolina e do diesel agora. Segundo ele, o governo deve adiar ao máximo essa decisão, já que o efeito negativo de um reajuste em 2010, ano eleitoral, seria maior do que os ganhos obtidos com uma redução agora.

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