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Preços no atacado mostram que recessão não acabou, diz FGV

Recuo do valor de bens de investimento em agosto seria um dos indícios de que a economia continua fraca

Por Lucinda Pinto e da Agência Estado
Atualização:

A deflação registrada pelo IGP-M nos últimos seis meses confirma que o processo de recuperação da economia mundial é gradual e ainda não foi suficiente para eliminar totalmente os efeitos da recessão sobre os preços. "O fim da recessão não pode ser medido por uma recuperação na margem. Ainda há um hiato na economia, que está diminuindo, mas ainda estamos longe da situação normal", afirma o coordenador de análise de dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. Ele diz que esse quadro fica claro quando se olha para os preços no atacado, que seguem mostrando variação negativa.

 

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A percepção da economia ainda fraca, segundo Quadros, pode ser observada no comportamento dos preços de bens de investimento - que reúnem máquinas e equipamentos, caminhões e ônibus. Esses preços recuaram 0,17% em agosto, ante queda de 0,07% em julho. "A demanda por investimentos está pequena, em grande parte porque a exportação está menor", afirma Quadros. "O setor de bens de capital terá o ciclo recessivo mais longo."

 

As matérias-primas brutas, que também integram o IPA, por sua vez, mantiveram a trajetória de queda de preços, em parte como reflexo dos preços das commodities, mas também diante da redução da demanda - o que amplia a oferta desses produtos no mercado doméstico. Nesse grupo, estão a soja, cuja deflação foi intensificada de 3,32% em julho para 3,95% em agosto; e o trigo, que caiu 6,32% em agosto e 1,71% em julho. Já a laranja, que sofre diretamente com a dificuldade de exportações, teve seu preço reduzido em 9,29% em agosto e 17,19% em julho. Por fim, os bovinos seguem com preços em queda, mesmo em meio à entressafra, o que confirma o mercado internacional desfavorável para exportação. Em agosto, esse item registrou deflação de 0,50% e em julho, de 0,11%.

 

O Índice de Preços no Atacado (IPA), no entanto, reduziu a deflação (0,61% em agosto ante 0,85% em julho), graças à recuperação de preços de algumas commodities, como petróleo e metais. Essa melhora se reflete no desempenho dos bens intermediários, que saíram de uma deflação de 0,66% em julho para uma taxa positiva de 0,06% em agosto. Dentre os itens que compõem esse subgrupo, tiveram importante participação para esse movimento o preço de óleo combustível, que saiu de uma deflação de 1,77% em julho para uma inflação de 10,69% em agosto, e o querosene de aviação, que subiu 3,24% este mês. "A tendência é de que esses preços continuem em alta ", afirma Quadros. A FGV faz um cálculo dos preços dos bens intermediários excluindo o efeito dos preços dos combustíveis. Nesse caso, os preços desse subgrupo seguem em queda: a taxa ficou em -0,24% em agosto ante -0,20% em julho.

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