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Prefixados de longo prazo atraem com retornos altos, mas ‘amarram’ capital

Mercado oferece títulos com taxas elevadas; no entanto, é preciso levar em conta os riscos embutidos na aplicação

Por Gabriel Roca
Atualização:

Com taxas que chegam a superar 1,0% ao mês, produtos prefixados (aqueles com rentabilidade conhecida no momento da aplicação) de longo prazo voltam a chamar a atenção na prateleira das corretoras. Segundo especialistas, em tempos de juros baixos e diante das incertezas do mercado com as eleições e o futuro da economia, esses produtos ficam mais atraentes para o investidor. No entanto, analistas alertam que “amarrar” o capital por prazos longos, como cinco ou sete anos, é uma estratégia arriscada, porque pode fazer o investidor perder eventuais boas oportunidades no período.

Segundo as corretoras, a demanda por esse tipo de produto chegou a dobrar nos últimos meses. Ao adquirir um produto prefixado – que pode ser CDB, RDB, LC, ou mesmo uma LTN, do Tesouro Direto –, o investidor “fixa” uma taxa de rentabilidade pela qual vai ser remunerado durante um certo período de tempo. Em geral, quanto maior o prazo, maior o risco e, portanto, maior o retorno. 

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Porém, caso o Banco Central aumente a taxa básica de juros da economia para um valor superior ao que o investidor contratou em seu prefixado, ele acaba ficando com seu dinheiro “preso”, recebendo um valor inferior ao da Selic.

É o que mostra o estudo elaborado pelo professor Roy Martelanc, da FIA, com dados da plataforma Comdinheiro. O levantamento aponta que quem fez um investimento prefixado em outubro de 2014, por exemplo – mês em que teve início a corrida eleitoral daquele ano –, acabou obtendo um retorno inferior ao da taxa Selic.

“Praticamente todos os papéis prefixados do Tesouro Direto (LTNs) perderam para aqueles indexados à Selic (LFTs) no segundo mandato do governo Dilma”, afirma o professor. Segundo ele, quando um governo “perde a mão” da economia e as taxas de juros sobem, os papéis prefixados acabam perdendo atratividade.

Segundo Roberto Indech, analista-chefe da Rico, a taxa de juros no Brasil tem um histórico de apresentar mudanças bruscas, especialmente nos últimos dez anos. Por isso, ele costuma recomendar produtos prefixados de dois ou, no máximo, três anos de vencimento. “Em um prazo muito longo, o investidor pode acabar perdendo boas oportunidades”, opina.

Efeito Bolsonaro no mercado financeiro

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Desde que o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) começou a crescer nas pesquisas e liderou o primeiro turno da eleição, o mercado passou a acreditar que os juros praticados na economia nos próximos cinco anos serão menores.

As taxas futuras, negociadas na Bolsa, com vencimento em 2023, passaram de 12%, em setembro, para um patamar próximo de 10% hoje.

Com isso, produtos prefixados começaram a ser ofertados com retornos menores. Quem investiu com taxas altas pode, caso deseje e tenha algum comprador em um mercado secundário, vender seus títulos com um ágio, já que eles se valorizaram.

Segundo Fabio Macedo, diretor comercial da Easynvest, apesar de os impactos da corrida eleitoral terem afetado as taxas de juros para baixo, ainda há boas oportunidades para investir nesses produtos.

“Há produtos com um retorno anual acima de 12% no mercado. Caso a economia se estabilize no próximo governo, talvez não voltemos a encontrar taxas tão interessantes”, afirma.

É o caso do arquiteto Fernando Shigueo. Após conseguir acumular uma reserva de emergência, as taxas elevadas desse tipo de produto chamaram sua atenção. Em junho, quando os retornos oferecidos pelo mercado estavam em um patamar mais alto, investiu R$ 5 mil em um CDB prefixado do Banco Maxima, com uma taxa de 14,5% ao ano e R$ 3 mil em um do Banco Fibra, com uma taxa anual de 15%.

Fernando Shigueo investiu em CDB e conseguiu boas taxas Foto: Nilson Fukuda/Estadão

Confortável com a taxa de retorno que conseguiu, ele, que se considera um investidor iniciante, pretende agora dar outros passos no mundo das finanças. “Agora, quero começar a investir em renda variável”, conta.

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Conrado Navarro, especialista em finanças pessoais da Modalmais, afirma que, para quem quer investir nesse tipo de produto, o importante é não “brincar de adivinhar” os movimentos de mercado. Para ele, é fundamental diversificar a alocação dos ativos, diminuindo assim o risco da carteira. “Ficar torcendo para algo acontecer na economia pode custar muito caro. Melhor balancear bem a carteira e se proteger para qualquer cenário.”

Ainda que o estoque de LTNs do Tesouro Direto tenha crescido 18% em 2018, Paulo Marques, gerente da plataforma, acredita que o movimento é natural, já que as vendas cresceram como um todo. “Em momentos de volatilidade, os campeões de venda são os títulos indexados à Selic e à inflação.”

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