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Prejuízos fazem Deca deixar a Argentina

Política de restrições do governo Kirchner afasta mais uma empresa brasileira do país

Por ARIEL PALACIOS , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

A empresa brasileira de louças e metais sanitários Deca decidiu fazer as malas e deixar a Argentina, país que nos últimos tempos está afugentando várias empresas do Brasil, Europa e países da América Latina. A companhia anunciou ontem, em comunicado, que "em função de dificuldades em suas operações na Argentina, apesar de ter realizado esforços vigorosos para preservar sua competitividade na região, não conseguiu reverter sucessivos prejuízos financeiros e deu início a um processo de reestruturação de suas operações locais, mantendo a marca Deca Piazza presente no mercado argentino". Horas antes, a União Operária Metalúrgica (UOM) havia confirmado extraoficialmente à imprensa que os técnicos da fábrica já desligaram os fornos da Deca. Por trás do fechamento da Deca estariam a perda de competitividade, provocada pela escalada inflacionária, e as complicações para as importações de produtos, que se intensificaram desde que o governo de Cristina Kirchner deslanchou uma nova bateria de medidas protecionistas em 2011. Para complicar, as empresas instaladas na Argentina sofrem desde o ano passado restrições para o envio dos lucros às suas matrizes no exterior. Segundo a UOM, os representantes da Deca conversaram com o sindicato sobre a situação complexa que a empresa enfrentava no país. Além disso, a empresa - segundo o sindicato - demitiu os 140 operários e prepara os pagamentos a seus fornecedores, antes de deixar o país. Além dessas medidas, o site argentino da Deca Piazza foi desativado e aparece como "site em construção". A Deca desembarcou na Argentina em 1995 ao comprar a Piazza, uma empresa argentina fundada há mais de um século. A partida da Deca coincide com um recuo de várias empresas brasileiras no país. Uma delas é a Vale do Rio Doce, que há poucas semanas decidiu suspender seu investimento de US$ 6 bilhões na Província de Mendoza onde havia começado a explorar potássio na área de Malargue. O investimento, o maior do setor privado na Argentina, implicaria a construção de ferrovias, ampliação de portos, além de transformar o país em um dos maiores exportadores do produto. Porém, uma série de conflitos com os governos de Mendoza e Neuquén, além de pressões sindicais e do governo Kirchner, colocaram o projeto à pique. Outra empresa que também teve de enfrentar a intervenção do governo Kirchner na economia foi o frigorífico JBS, que padeceu - tal como seus congêneres argentinos - de restrições para exportações de carne bovina. As restrições se tornaram um clássico da política da Casa Rosada, já que com frequência, para tentar reduzir o preço no mercado interno, a presidente Cristina ordena a suspensão das exportações de carne, o principal quitute cotidiano na mesa dos argentinos. A Alpargatas, comprada há meia década pela Camargo Correa, também enfrenta problemas, pois fechou temporariamente algumas de suas instalações por causa de queda nas vendas no ano passado. A Petrobrás, que desembarcou na Argentina em peso em 2002, com a compra da Pérez Companc, iniciou há dois anos a venda de parte de seus ativos no país. O empresário Cristóbal López, amigo da presidente Cristina Kirchner, é especulado para a aquisição dos ativos dos quais a Petrobrás se desprenderia. López já comprou 345 postos da Petrobrás em 2011, além de uma refinaria de petróleo na época. As empresas brasileiras têm atualmente US$ 10 bilhões em investimentos na Argentina.

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