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Prêmio Nobel de Economia mostra relação causal no mundo real; leia análise

David Card foi meu orientador de doutorado e não conheço ninguém com mais capacidade de interpretar as implicações de dados socioeconômicos

Por Marcelo Neri
Atualização:

Não foi com surpresa, mas foi com muita emoção que soube do Prêmio Nobel de Economia concedido a David Card, Joshua Angrist e Guido Imbens. David foi meu orientador de doutorado, não conheço ninguém com mais capacidade de interpretar as implicações de dados socioeconômicos.

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As contribuições agraciadas permitem endereçar os efeitos emanados de políticas públicas com direção de causalidade envolvida. Por exemplo, qual é o impacto de mudanças da educação sobre o rendimento do trabalho. Aqui não queremos apenas saber se as variáveis se movem juntas, possivelmente pela ação de uma terceira variável, por exemplo a educação, ou a renda dos pais. Mas se mais educação gera maiores salários.

O cuidado de saber o que impacta o quê se aplica a uma miríade infindável de perguntas. Causalidade é um Santo Graal que nunca alcançamos, mas cuja busca retorna resultados mais confiáveis para prever o efeito de nossas decisões. Sem ela estamos no mundo de análise do sobe e desce de elevador.

David Card, vencedor do Prêmio Nobel de Economia. Foto: Reuters

O Nobel de 2021 restabelece justiça dos reconhecimentos, senão vejamos: Em 2019, o Nobel foi para Banerjee, Duflo e Kremer, de uma geração mais nova, pela aplicação de experimentos aleatórios em economia cujo objetivo também é possibilitar inferências de causa e efeito. O ponto comum é fazer a comparação entre grupos de tratamento e de controle, só que nos experimentos naturais estamos fora de condições ideais. Isto é, ao invés de criar um experimento aleatório onde os dois grupos são escolhidos por sorteio de forma a garantir a perfeita simetria das comparações, lança-se mão de situações já observadas no mundo real. Por exemplo, um estado que adota isolamento social maior, não acompanhado por um estado vizinho. Os efeitos sobre a saúde e a economia podem ser captados pela comparação. Cabe ao cientista social visualizar e tirar partido da oportunidade de aprender como o mundo funciona. *ECONOMISTA, DIRETOR DO FGV SOCIAL

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