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Nobel de Economia de 2021 vai para David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens

Prêmio foi concedido para pesquisas sobre mercado de trabalho e sobre relações causais

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara e Érika Motoda
Atualização:

Em um ano em que a economia mundial sofre para se recuperar dos prejuízos da pandemia, o Prêmio Nobel de Economia de 2021 foi atribuído ontem ao trio de economistas David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens, por estudos relacionados ao mercado de trabalho e a políticas de desenvolvimento social. 

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O canadense David Card, professor da Universidade da Califórnia, que levou metade do prêmio de US$ 1,14 milhão (R$ 6,27 milhões), é reconhecido pelo seu trabalho sobre os efeitos do salário mínimo, da imigração e da educação no mercado de trabalho. 

As pesquisas de Card iniciaram na década de 1990 e mostraram que o aumento do salário mínimo não necessariamente diminui a oferta de empregos; que a renda de pessoas nascidas em outros países pode melhorar com a imigração, enquanto pessoas que imigraram mais novas correm o risco de serem afetadas negativamente. Além disso, descobriu-se que os recursos nas escolas são muito mais importantes para o sucesso profissional dos alunos do que se imaginava. 

Já os americanos Joshua Angrist (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e Guido Imbens (Universidade de Stanford), que juntos receberam a outra metade do título, mostraram quais conclusões sobre causa e efeito podem ser tiradas de experimentos naturais -- quando o estudo é feito com base em dados observados na economia real, e não num experimento controlado. A estrutura desenvolvida por eles tem sido amplamente adotada por pesquisadores que trabalham com dados observacionais. 

David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens são os premiados do Nobel de Economia de 2021 Foto: Claudio Bresciani/ AP

"Os laureados de ciências econômicas deste ano demonstraram que muitas das grandes questões da sociedade podem ser respondidas. A solução deles é usar experimentos naturais – situações que surgem na vida real que se assemelham a experimentos aleatórios", afirmou a Real Academia de Ciências da Suécia, ao anunciar o resultado. 

Estudos sobre a pandemia

 O economista Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, observa que o economista David Card, um dos ganhadores do Nobel, é muito influente e tem vários estudos empíricos sobre o mercado de trabalho “Ele é muito grande na área”, afirma. Na sua opinião, talvez o estudo mais famoso seja a contribuição da educação para o mercado de trabalho, um ponto que ganha relevância neste momento de pandemia.

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Esse estudo somado àmetodologia desenvolvidapelos economistas americanos Joshua Angrist e Guido Imbens, também agraciados com o Nobel, devem ajudar, na opinião de Barbosa Filho, a responder uma pergunta crucial: quanto a pandemia vai afetar o mercado de trabalho no futuro. “Estamos falando no Brasil dos efeitos de um grupo de pessoas que não só ficaram dois anos sem estudar, mas também perderam conhecimento no período, porque conhecimento deprecia”, lembra o economista.

Quantificar esse prejuízo é muito importante, segundo ele, paradescobrir o “real tamanho do buraco que a gente se meteu nessa pandemia”, diz. Barbosa Filho lembra queesse é o primeiro passo para poder desenhar quais serão as politicas públicas para preencher essa lacuna.

David Card, um dos três vencedores do Nobel de Economia de 2021 Foto: Berkeley/ Divulgação (via Reuters)

Sergio Firpo, economista do Insper e professor de econometria voltada para avaliação de políticas públicas, assim como o seu orientador na pós-graduação, o economista Guido Imbens, consideraque esse trio deespecialistas trouxe contribuições metodológicas relevantes. “O que eles têm feito separadamente e às vezes em parceria é criar uma metodologia que, a partir de certas premissas, consegue extrair da realidade as informações necessárias para avaliar o impacto de políticaspúblicas, sem precisar fazer experimentos”, observa.

Ele explica que os experimentos, embora relevantes, muitas vezes são caros edemorados. Com essa nova metodologia, ganha-se agilidade para avaliar a efetividade das políticas públicas e se os recursos estão sendo corretamente direcionados, a fim de evitar desperdícios.

Joshua Angrist, um dos três vencedores do Nobel de Economia de 2021 Foto: MIT/ Divulgação (via EFE)

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Metades

 “As duas metades do prêmio são importantíssimas porque suas contribuições que inspiram economistas desde que foram publicadas, nos anos 1990, a usar novos métodos de estudo”, afirma Hélio Zylberstajn, professor sênior da Faculdade de Economia da Universidade de São Paulo e coordenador do projeto Salariômetro da Fipe. 

Ele diz que David Card é muito criativo e conseguiu trazer para economia o que os médicos jáfazem há muito tempo: testar algum remédio, no caso da economia alguma política pública nova,comparando com outro grupo, que não recebe esse mesmo benefício. A novidade é identificar esses grupos na vida real. “Essa ideia de fazer os economistas procurarem experimentos naturais que estão aí, só não são percebidos, tem umresultado inquestionável”, dizZylberstajn.

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Guido W. Imbens, um dos três vencedores do Nobel de Economia de 2021 Foto: Stanford/ Divulgação (via AFP)

Já Joshua Angrist e Guido Imbens se destacaram por criar um método para encontrar uma variável instrumental, que ajuda a separar o efeito interno de questão estudada do efeito que é mais geral, observa Zylberstajn. “Os dois efeitos se somam, mas são diferentes e essa variável ajuda a distingui-los.”

Zylberstajn ressalta que o uso desses métodos ganha mais significado neste período de pandemia em que os países têm de implementar novas políticas públicas de saúde, educação, por exemplo. “Ao mesmo tempo que vamos aplicar novas políticas, vamos poder medir os impactos e fazer as correções à medida queas políticas forem sendo implementadas. Esse método dá mais segurança à formulação de políticas públicas.”

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