16 de dezembro de 2021 | 16h37
BRASÍLIA - O Ministério da Economia afirma que o Brasil é credor do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a presença do organismo multilateral está obsoleta no País. Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, não será mais necessário manter a representação do FMI no Brasil porque o fundo conta com escritórios apenas em países com os quais tem programa ativo.
Como antecipou o Estadão, o Fundo está fechando as portas da sua representação em Brasília a partir de 1º de julho de 2022.
O último acordo brasileiro financeiro com o FMI ocorreu na crise de 2002 e foi pago antecipadamente em 2005.
“O Brasil hoje é credor do FMI”, enfatizou a assessoria de Guedes em comunicado enviado ao Estadão.
A notícia vem no rastro das críticas do ministro Paulo Guedes às previsões feitas pelo FMI para o crescimento da Economia. Guedes criticou o ex-presidente do Banco Central (BC), que deve assumir em breve o cargo de diretor para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Ilan Goldfajn.
Desde o ano passado, o ministro vinha se mostrando incomodado com o FMI e suas estimativas. Em encontro ontem na Fiesp, subiu o tom: “Que eles vão fazer as previsões deles em outro lugar”, disse o ministro, para quem o FMI já fez o que tinha que fazer no Brasil e que já poderia ter ido embora”.
Ele emendou que o FMI “só não foi embora porque ‘’talvez gostem do futebol, da feijoada e de bom papo”.
A notícia do fechamento do escritório teve repercussão nas redes sociais pela pressão contra o FMI ter partido de um economista liberal, formado na Universidade de Chicago.
“Em mais uma do ‘roteirista Brasil, coube a um 'Chicago Oldie' (como o próprio Guedes gosta de se chamar) mandar o FMI embora. PS: há vários FMIs, o depto. de pesquisa realiza pesquisas fora da caixinha, quase heterodoxas. Já a direção ainda segue o Consenso de Washington”, escreveu o ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.
O economista do PT acrescentou que, ainda que por motivos errados, Guedes está certo nessa medida. “O FMI já faz análises regulares do Brasil e outros países a partir de sua sede em DC, não é preciso representação aqui para isso”, postou Barbosa.
Depois da repercussão, o Ministério da Economia disse que o Brasil valoriza o diálogo construtivo com o FMI e participa ativamente das atividades e iniciativas do fundo, inclusive as que resultaram em auxílio internacional aos países vulneráveis durante a pandemia da covid-19.
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16 de dezembro de 2021 | 05h00
O Fundo Monetário Internacional (FMI) vai fechar o escritório de representação no Brasil, sediado em Brasília, após um acordo com o governo Bolsonaro. O fechamento foi confirmado pelo órgão internacional em nota enviada em resposta a um pedido do Estadão.
Segundo o FMI, o escritório vai encerrar as suas atividades em 30 de junho de 2022, quando vence o prazo da atual representação no País, definido em acordo prévio com o Brasil. O escritório de representação funciona como uma espécie de embaixada do FMI no País.
"Esperamos que a alta qualidade do envolvimento do corpo técnico do Fundo com as autoridades brasileiras continue, à medida que trabalhamos de perto para apoiar o Brasil no fortalecimento de sua política econômica e de suas configurações institucionais", afirmou o FMI em nota.
A decisão de fechar o escritório do FMI no País confirma a declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que o governo pediu ao órgão internacional para dispensar a sua missão no País.
"Estamos dispensando a missão do FMI [...] Dissemos para eles fazerem previsão em outro lugar", declarou Guedes durante encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.
Guedes também fez críticas diretas ao ex-presidente do Banco Central, o economista Ilan Goldfajn, nomeado pelo FMI para o cargo de diretor do Hemisfério Ocidental a partir do ano que vem, uma das posições mais importantes do órgão.
"Ele (Ilan) é um amigo, mas em época de política todo mundo critica, e o Ilan também tem o direito de criticar. Mas já que tem um brasileiro que critica o Brasil indo para o FMI, ele não precisa mais ficar aqui”, afirmou Guedes.
O ministro disse que o FMI já fez o que tinha que fazer no Brasil e que já poderia ter ido embora. E emendou que “só não foi embora porque talvez gostem do futebol, da feijoada e de bom papo”.
Ele lembrou das previsões do fundo de retração próxima a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, o primeiro da pandemia. No fim, a queda foi de 3,9%.
Após repetir que o Brasil "surpreendeu o mundo" ao cair menos da metade do que era esperado, a "desgraça" agora está sendo prevista para o ano que vem. "Eles vão errar de novo."
Criado em 1945 após um acordo entre os países aliados que venceram a Segunda Guerra, o Fundo Monetário Internacional é o organismo financeiro mais importante do mundo, e reúne 190 países membros.
Seu principal objetivo é manter a estabilidade financeira e evitar que crises econômicas tenham efeitos disseminados e duradouros na economia mundial.
O Fundo mantém reservas em moeda estrangeira que podem ser usadas para socorrer países em dificuldades financeiras e sem condições de acessar o mercado financeiro tradicional para levantar recursos. O FMI oferece empréstimos com juros generosos e, em troca cobra dos países um plano de recuperação econômica que, em geral, exige reformas e ajustes fiscais para restaurar a estabilidade e a confiança.
O Brasil é um dos membros mais antigos. O País aderiu ao Fundo em 1946 e já precisou recorrer a empréstimos do FMI em diversas ocasiões.
O economista, diplomata e ex-ministro Roberto Campos, avô do atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, fez parte da delegação brasileira da Conferência de Bretton Woods, em 1944, que criou o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. /COLABORARAM EDUARDO LAGUNA E FRANCISCO CARLOS DE ASSIS
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