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Presidenciáveis argentinos divergem sobre reunião com FMI

Os candidatos com mais chances de vitória dizem que não vão aceitar as exigências do fundo. FMI e EUA estão irritados com a situação.

Por Agencia Estado
Atualização:

A diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI) analisará na terça-feira os eventuais avanços feitos pelo governo do presidente Eduardo Duhalde na bateria de exigências feitas nos últimos meses pelo organismo financeiro para fechar um acordo com a Argentina. Dependendo das conclusões, a diretoria também decidiria se enviará um representante à capital argentina para tentar convencer os candidatos à presidência da República da necessidade de que cheguem a um consenso político, condição sine qua non para que o FMI feche um acordo com o governo Duhalde. No FMI, existe irritação com as delongas do governo Duhalde em conseguir implementar as exigências feitas pelo organismo financeiro. No governo dos EUA, a irritação é similar. Na sexta-feira, o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O?Neill, sustentou que "quando um país está à beira do colapso financeiro, temos duas opções rígidas e pouco atraentes: conceder empréstimos sem garantias ou jogar o país à beira de um penhasco". O enviado especial que o FMI enviaria para o trabalho de pressionar os presidenciáveis seria o indiano Annop Singh, chefe do Departamento Ocidental, que durante o primeiro semestre deste ano foi o chefe da missão do Fundo para a Argentina. Singh, conhecido em Buenos Aires como um "linha-dura", se reuniria com os presidenciáveis, e deles tentaria obter um compromisso similar ao que foi obtido entre os candidatos à presidência do Brasil. Mas o panorama na Argentina é radicalmente diferente. Os candidatos à presidência da República possuem profundas divergências sobre a necessidade de um rendez-vous com Singh. O principal colocado nas pesquisas, o ex-presidente Adolfo Rodríguez Saá, do partido do governo, sustenta que até pode reunir-se com o enviado do FMI, mas que não tolerará exigências por parte do organismo financeiro. Segundo ele, quem tem que estabelecer as condições é o governo argentino. "Não estou disposto a aceitar exigências do FMI ou de qualquer governo estrangeiro". A indisposição é mútua, já que o FMI não possui uma boa imagem de Rodríguez Saá, homem que declarou a moratória da dívida externa pública em dezembro do ano passado. No entanto, assessores do polêmico ex-presidente admitem que ele está suavizando sua postura, já que percebe que se ocupar novamente "el sillón de Rivadavia", como é conhecida a cadeira presidencial, não poderá prescindir do Fundo. Mas, para a segunda colocada nas pesquisas, a deputada Elisa Carrió, a vontade de reunião com Singh não existe. "Não receberei o enviado do FMI", disparou categórica, que sustentou que é "pouco sério" assinar qualquer acordo que implique em um compromisso de longo prazo com o Fundo, que segundo ela, "há muito tempo abandonou a Argentina". Para azar do presidente Duhalde e irritação do Fundo, os únicos que estão dispostos ao diálogo com Singh e até de aceitar previamente as exigências, são os candidatos com as menores chances de vitória, como outro pré-candidato peronista, o ex-presidente Carlos Menem (1989-99), ou o pré-candidato da União Cívica Radical (UCR), Rodolfo Terragno. O governador de Córdoba e também pré-candidato peronista, José Manuel de la Sota, costuma alertar: "É preciso não ser valentão com o FMI". Hoje o secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, tentou minimizar a provável visita de Singh, afirmando que as reuniões com os presidenciáveis não são um "pré-requisito" para um eventual acordo financeiro com o FMI. O governo Duhalde, enquanto isso, fica cada vez mais fraco. O presidente não possui um partido unido, já que o peronismo está fragmentado em diversos setores, que se digladiam entre si, e que muitas vezes entram em confronto direto com Duhalde. Por outro lado, o presidente não conta com o apoio da oposição, também dividida. De quebra, enfrenta os ataques da Corte Suprema de Justiça, reduto de simpatizantes do ex-presidente Carlos Menem, o principal inimigo político de Duhalde. Proteção especial O chanceler Carlos Ruckauf pedirá ao secretário de Estado dos EUA, Collin Powell, que os imigrantes argentinos ilegais detidos em Miami sejam considerados "pessoas que passaram por traumas gravíssimos", e desta forma, sejam incluídos dentro do Status de Proteção Temporária (TPS). O TPS é aplicado para pessoas cujos países de origem passaram por guerras ou desastres naturais, e por isso, conseguem residência temporária nos Estados Unidos. Esse é o caso de imigrantes de países como a Colômbia ou El Salvador. No entanto, a Argentina não se encaixaria dentro dos casos clássicos de conflitos bélicos ou terremotos. Por isso, o governo argumentaria que a situação econômica do país acarreta efeitos similares aos de uma catástrofe. O governo argentino está preocupado pela situação dos argentinos ilegais em Miami, já que é uma comunidade que oscilaria entre 40 mil e 80 mil pessoas. Caso retornassem à Argentina, seriam uma nova fonte de problemas para o governo Duhalde, já que não haveria postos de trabalho para estas pessoas. O chanceler Ruckauf também anunciou que pedirá a flexibilização de alguns governos europeus com a situação irregular de milhares de imigrantes argentinos, como a Espanha. Dívida A Fundação Capital anunciou que a dívida pública argentina poderia ser de US$ 147,8 bilhões até o fim deste ano, o que seria equivalente a 154% do PIB. Atualmente, a relação dívida/PIB é de 53,8%. Segundo a Fundação, o objetivo do governo "deveria ser o de recuperar a viabilidade e a solvência do setor público".

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