Em testemunho para um comitê formado por indignados legisladores e irados contribuintes, o presidente executivo da seguradora American International Group Inc. (AIG), Edward M. Liddy, disse ontem que "a fria realidade da concorrência de mercado" o levou a pagar a polêmica quantia de US$ 165 milhões como bônus a vários de seus executivos. E que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) sabia. Entenda a polêmica dos bônus O depoimento provocou uma tempestade política. "Tudo o que fizemos foi em parceria com o Federal Reserve", disse Liddy. "Eles têm a habilidade de determinar algo a favor ou contra sobre tudo em discussão." Liddy acrescentou que a AIG conversou sobre isso com o corpo de dirigentes e com representantes do Fed por três meses. Para Liddy, a melhor forma de recuperar o dinheiro é dos contribuintes era manter a atividade da empresa. Diante da repercussão negativa, Liddy pediu aos executivos que receberam bônus acima de US$ 100 mil que voluntariamente devolvam pelo menos metade do dinheiro. Em comunicado, ontem, o procurador-geral do Estado de Nova York, Andrew Cuomo disse que a proposta da AIG é "muito pequena" e chegou "muito tarde". "O povo americano tem o direito de saber o que está acontecendo com as enormes somas do seu dinheiro. O sr. Liddy precisa entender isso." A AIG pagou em média mais de US$ 1 milhão em bônus a 73 funcionários, revelou na terça-feira Cuomo. Onze nem estão mais na seguradora - algo que o próprio Liddy chamou de "repugnante." O maior bônus foi de US$ 6,4 milhões. A AIG recebeu do governo federal US$ 170 bilhões em ajuda desde que a crise financeira estourou no ano passado. Ainda na noite de terça-feira, o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, disse que se os US$ 165 milhões não fossem devolvidos aos contribuintes, os restantes US$ 30 bilhões, a serem liberados pelo governo dentro do pacote de resgate, seriam cancelados. As revelações enfureceram o presidente Barack Obama, que ontem reforçou sua "indignação" e disse que pedirá ao Congresso a aprovação de uma legislação que dê ao governo maior poder regulatório em instituições financeiras. Obama afirmou que é "escandaloso" que o governo tenha de "limpar o que foi feito pela AIG". "Mas igualmente escandalosa é a mentalidade de que essas bonificações são um sintoma, uma mentalidade de avareza excessiva, de compensações excessivas, de adoções de riscos excessivas." Mais de 80 pessoas compareceram à audiência. O representante Barney Frank, democrata que encabeçou o comitê de Serviços Financeiros da Câmara, advertiu que não toleraria tumulto. Mas um grupo de manifestantes levantou cartazes pedindo cadeia aos executivos da AIG.