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Presidente da BM&FBovespa cita BB para criticar adoção da IOF

Decisão do banco de capitalizar com preferência por ADRs é um efeito negativo da taxação, diz Edemir

Por Nalu Fernandes e da Agência Estado
Atualização:

A decisão de taxar o capital estrangeiro com o Imposto sobre Operação Financeira (IOF) pode pesar sobre o desempenho da BM&FBovespa no próximo ano se o governo não reverter a medida, alertou o diretor-presidente da Bolsa, Edemir Pinto, em Nova York. Em entrevista exclusiva para a Agência Estado no início da noite desta última segunda-feira, 2, o executivo citou que, aos olhos do investidor institucional, o Brasil apresenta um arcabouço regulatório que diferencia o País em relação a outros emergentes de calibre e, desta forma, pondera que mudanças repentinas de regras "fazem muito mal". "Afugentam o investidor estrangeiro", avaliou.

 

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Edemir Pinto diz que já ficou explícito, logo depois da adoção do IOF, que houve um crescimento das negociações das ADRs brasileiras em Nova York. "Isto já é um sintoma de que, se o governo brasileiro não reverter esta decisão, o mercado de capitais brasileiro vai sofrer bastante", completou. E mostrou-se incomodado sobre a decisão do Banco do Brasil de fazer uma capitalização com preferência por ADRs, sugerindo que a estratégia tem como base o fato de não ter IOF no mercado internacional. "Então, eu diria que é um fogo amigo", citou ele, usando a mesma expressão que manifestou logo depois que o governo anunciou a adoção do tributo, em outubro. "O próprio governo que é o controlador do Banco do Brasil estabelece para o mercado de capitais uma tributação de IOF, e o Banco do Brasil vai para um ambiente onde não tem incidência do IOF para fazer sua capitalização. Lamentável", desabafou.

 

Na sede das Nações Unidas, onde participou do evento "Bolsas de Valores Sustentáveis", durante o feriado no Brasil, o presidente citou que a principal diferenciação do Brasil em relação a seus maiores concorrentes, que são China, Índia e Rússia, tem sido regulação e estabilidade. Foi a regulação do sistema bancário e financeiro, lembra ele, que deu ao País condição de passagem pela crise mundial que "saltou aos olhos do investidor estrangeiro". O executivo destaca que mudanças anunciadas repentinamente deixam o investidor estrangeiro preocupado, pois "não se sabe o que vem depois se a medida de curto prazo não trouxer o efeito dentro daquilo que o governo gostaria".

 

Valorização do real

 

Com relação à apreciação da moeda brasileira em face do fluxo de recursos estrangeiros, o presidente da Bolsa avalia que o "País tem de estar preparado para este sucesso". Ele destaca que "não há como o investidor não olhar para o Brasil", em face dos eventos esportivos dos próximos anos somados aos fundamentos econômicos do Brasil e à capitalização da Petrobrás.

 

O executivo aponta que o governo vai precisar "atacar questões estruturais". "Medidas paliativas são medidas de curtíssimo prazo. O País hoje se encontra em uma situação tão privilegiada que o governo brasileiro vai ter que realmente olhar as questões estruturais para enfrentar esta paixão do investidor estrangeiro pelo País". Ele menciona os gastos públicos como uma das questões que o governo vai ter de trabalhar.

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Edemir Pinto afirmou que entende as "dificuldades do governo e a necessidade de controlar a entrada de capital externo", mas acrescenta que o governo precisa agir em todos os seguimentos. "O que não concordamos é com o governo criar para o mercado de renda variável um IOF", continuou. Em especial, ele aponta que o mercado secundário de ações é a "alavanca" do mercado de capitais no Brasil, sendo o segmento de financiamento principalmente para pequenas e médias companhias. Ou seja, acrescentou ele, está se punindo um mercado completamente voltado ao financiamento da pequena e da média. "Isto é um contrassenso", avaliou.

 

O presidente da Bolsa continua esperançoso de que a taxação do IOF sobre a renda variável será uma medida momentânea. Ele cita que o governo se mostrou favorável à isenção para IPOs. "Acredito que isso deve ocorrer em breve", comentou. Ele destaca, no entanto, que não houve manifestação do poder público sobre o mercado secundário de ações. "Este mercado secundário é o mercado que concorre com as ADRs aqui nos EUA. E as ADRs acabam tendo uma vantagem em relação às ações negociadas no Brasil por conta do IOF. Aliás, vantagem essa que o próprio Banco do Brasil está se aproveitando", emendou.

 

O executivo embarca nesta terça-feira, 3, para Londres, onde irá inaugurar o escritório da BM&FBovespa, na sexta-feira, 6.

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