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Presidente da China encerra visita aos EUA

Para analistas, visita de quatro dias marcou um avanço, ainda que modesto, nas relações entre as duas maiores potências mundiais

Por BBC Brasil
Atualização:

O presidente da China, Hu Jintao, encerra nesta sexta-feira, 21, uma visita de quatro dias aos Estados Unidos que, segundo analistas, marca um avanço, ainda que modesto, nas relações entre as duas maiores potências mundiais.

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Em Chicago, última parada da viagem antes de seguir para Pequim, Hu deverá visitar empresas chinesas da região e uma escola que tem o maior programa de ensino de mandarim nos Estados Unidos.

Durante os três dias que permaneceu em Washington, o líder chinês foi recebido com pompa e honrarias, em uma visita considerada a mais importante desde que Deng Xiaoping foi recebido por Jimmy Carter em 1979.

Depois de um ano de crescente tensão entre os dois países, Hu e Obama reafirmaram a disposição de cooperar e reforçaram o discurso de que as boas relações bilaterais são importantes tanto para os Estados Unidos e a China como para o resto do mundo.

Foram discutidos temas de atrito entre os dois países, como a desvalorização da moeda chinesa frente ao dólar, o déficit americano na balança comercial, os problemas de pirataria e propriedade intelectual, o avanço militar chinês, a tensão na península coreana e a questão dos direitos humanos.

Também foram fechados alguns acordos de comércio bilateral no valor de US$ 45 bilhões que, segundo o governo americano, vão gerar milhares de empregos nos Estados Unidos.

"O governo americano conquistou exatamente o que pretendia: demarcar suas posições em um amplo leque de questões nas relações entre Estados Unidos e China, parecer forte em preocupações sobre temas como direitos humanos, trazer um pouco de ímpeto para a relação e obter alguns pequenos avanços em comércio e investimentos", disse a analista Elizabeth Economy, do Council on Foreign Relations, em um artigo publicado no site da entidade.

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Retórica

A visita de Hu é uma retribuição à viagem feita por Obama a Pequim em novembro 2009. Na ocasião, os dois líderes chegaram a divulgar uma declaração conjunta em que ressaltavam a necessidade de reduzir a desconfiança mútua. Mas diversos atritos surgidos logo em seguida deixaram as relações ainda mais tensas.

Diante dos conflitos surgidos no último ano, a retórica de cooperação marca um avanço, mas analistas afirmam que, apesar desse ponto positivo, não houve nenhuma grande mudança.

Na quinta-feira, o governo chinês anunciou crescimento de 10,3% no PIB (Produto Interno Bruto) em 2010. Segundo alguns analistas, se mantiver esse ritmo, a China poderá ultrapassar os Estados Unidos como maior economia do mundo na próxima década.

O professor de Harvard Joseph Nye disse em um artigo publicado na BBC que muitos chineses acreditam que o vigor econômico represente uma mudança no equilíbrio de poder mundial, com a ascensão da China e o declínio dos Estados Unidos.

"A visita de Hu vai ajudar a melhorar as relações", escreveu Nye. "Mas a relação vai continuar difícil enquanto os chineses sofrerem da arrogância baseada em uma crença errônea sobre o declínio americano."

Direitos humanos

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Um dos temas de destaque da visita foi a questão dos direitos humanos, um assunto delicado e geralmente evitado pelo governo chinês, que mantém na prisão o ativista Liu Xiaobo, vencedor do Prêmio Nobel da Paz no ano passado.

Em uma rara coletiva de imprensa, ao lado de Obama na Casa Branca, Hu admitiu que "muito ainda precisa ser feito" na China em relação aos direitos humanos.

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No entanto, apesar das declarações, analistas duvidam de uma mudança de postura por parte do governo chinês. Ao responder a pergunta de um repórter americano, Hu disse que a China "é um país em desenvolvimento, com uma população enorme, e também um país em desenvolvimento em um estágio crucial de reforma".

"Nesse contexto, a China ainda enfrenta muitos desafios em seu desenvolvimento econômico e social. E muito ainda precisa ser feito na China em termos de direitos humanos", disse Hu.

Segundo especialistas, é provável que o líder chinês tenha se referido ao fato de que milhões de pessoas ainda precisam sair da pobreza na China, e não especificamente a mudanças em termos de liberdade de expressão ou de religião.

O próprio presidente Obama disse, na mesma entrevista, que "é parte da justiça e parte dos direitos humanos as pessoas poderem ganhar seu sustento e ter o suficiente para comer, ter moradia e ter eletricidade".

Moeda chinesa

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Apesar das demonstrações de boa vontade, alguns problemas nas relações bilaterais são considerados mais complexos e difíceis de solucionar, como a questão cambial.

Os Estados Unidos acusam a China de manter sua moeda, o yuan, artificialmente desvalorizada em relação ao dólar, obtendo assim vantagens "desleais" para suas exportações.

O déficit americano na balança comercial com a China é motivo de preocupação nos Estados Unidos, em um momento em que o país enfrenta uma lenta recuperação após a recessão e a necessidade de ampliar suas exportações. Os Estados Unidos importam US$ 344,1 bilhões da China, e exportam apenas US$ 81,8 bilhões.

Obama e Hu prometeram cooperar nessa questão. O tema foi abordado também na visita que o presidente chinês fez a líderes do Congresso americano, nesta quinta-feira.

"Na questão cambial, o presidente Hu não ofereceu nada, mas ninguém deveria esperar um grande avanço", disse Elizabeth Economy. "A China vai agir da sua própria maneira nessa questão, de acordo com seus próprios interesses econômicos."

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