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Presidente da Fiesp reforça críticas contra o aumento do imposto sobre os combustíveis

No entanto, Paulo Skaf (PMDB) ponderou que governo ainda tem credibilidade

Foto do author Circe Bonatelli
Por Circe Bonatelli (Broadcast)
Atualização:

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf (PMDB), reforçou as críticas contra o aumento do imposto sobre os combustíveis anunciado na quinta-feira, 20, pelo governo federal, mas tratou de ponderar que o governo ainda tem credibilidade e negou que a confiança da classe empresarial no governo de Michel Temer (PMDB) tenha ficado abalada. "Não é por uma medida que o governo irá perder a sua credibilidade", afirmou, em entrevista ao Broadcast no edifício da instituição na Avenida Paulista.

Fila de carros esperando para abastecer o tanque com gasolina com preçoantigoem posto na Asa Norte, em Brasilia. Foto: ANDRÉ DUSEK/ESTADÃO

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Skaf foi taxativo em afirmar que houve um erro de Temer em aprovar o aumento da carga tributária, situação que motivou a Fiesp a trazer de volta os patos amarelos infláveis que marcaram a campanha contra o aumento de impostos a partir de 2015 e foram símbolo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A federação patronal voltou a instalar o boneco inflável de aproximadamente cinco metros em frente à sua sede, enquanto outros patos menores foram distribuídos para a população que passava pela região. "Nesse momento, houve o aumento (dos impostos). Por isso, o pato reapareceu", explicou.

Entretanto, numa estratégia "morde e assopra", Skaf associou a elevação dos impostos ao descontrole dos gastos públicos da gestão petista, herança que classificou como uma "bomba estourada". Além disso, tratou de elogiar iniciativas que considera conquistas da gestão de Temer, como a reforma trabalhista e a aprovação do limite dos gastos públicos. Segundo ele, a Fiesp "não apoia, nem deixa de apoiar governos, mas sim projetos", sinalizando que não pretende romper com Temer, seu colega de partido. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:

++ Com alta de imposto, litro da gasolina já chega a R$ 4,39 em SP

Broadcast: Como a Fiesp recebeu a notícia sobre o aumento dos impostos sobre os combustíveis? A instituição vê alternativas para combater o aumento do déficit público?  Paulo Skaf: A posição da indústria é muito clara. Somos contra qualquer aumento dos impostos. A nossa campanha "Não Vou Pagar o Pato" foi lançada em 2015 e é contra qualquer tipo de aumento de imposto. A solução para o ajuste das contas públicas está em reduzir os gastos do governo, buscar eficiência e combater desperdícios. Ao longo das últimas décadas, foi muito cômodo para o governo aumentar os impostos sempre que tinha um furo nas contas públicas. Mas isso pesa nas costas da sociedade. A solução, até para forçar o governo a buscar eficiência, é segurar a alta dos impostos. Por essa razão, nós somos radicais contra essa medida.

Broadcast: Como pretendem se manifestar contra essa medida daqui para frente?  Skaf: Desde que lançamos a campanha "Não Vou Pagar o Pato", em 2015, tivemos 1,2 bilhão de assinaturas e conseguimos segurar, naquela época, a recriação da CPMF. Durante muitos meses, o pato ficou sumido. Não tinha razão para o pato sair na rua, uma vez que não tinha aumento de impostos. Nesse momento, houve o aumento, que afeta o custo dos transportes e das mercadorias, com repasses para os consumidores. Por essa razão, o pato reapareceu na Avenida Paulista e há patos a caminho de Brasília.

Broadcast: Qual efeito a Fiesp espera com essa campanha? Acredita que o governo vai voltar atrás?  Skaf: Olha, se o governo voltasse atrás seria muito bom. Mas, pelo menos, o que esperamos como garantia é que não se pense em aumentar mais nada nos impostos. As contas públicas estão muito apertadas. E se facilitarmos, daqui alguns dias ou algumas semanas volta o assunto de aumento de impostos. Nós até reconhecemos que o governo do presidente Michel Temer recebeu uma bomba estourada, mas isso não justifica o governo aumentar os impostos. Tem que encontrar caminhos criativos. Há um ditado que diz que a dificuldade é a mãe das invenções. Se há necessidade, que inventem alternativas.

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Broadcast: E como fica o apoio ao governo de Michel Temer?  Skaf: A Fiesp não apoia nem deixa de apoiar governos. Ela apoia projetos, apoia o Brasil. Quando o governo controla a inflação, reduz juros, aprova reformas e passa a reestruturar a Petrobras e o BNDES, o governo tem o nosso apoio. Mas quando aumenta impostos, não tem o nosso apoio.

Broadcast: A confiança da classe empresarial ficará abalada com o governo Temer a partir de agora?  Skaf: Eu diria que não parece justo falar que a confiança fica abalada em um governo que promove reformas estruturais no País, como a modernização da legislação trabalhista, o limite dos gastos públicos, a regulamentação da terceirização. Não é por uma medida que o governo irá perder a sua credibilidade. Mas, sem dúvida nenhuma, não aceitamos o aumento do imposto. Entendemos que foi uma iniciativa errada dos ministérios da Fazenda e do Planejamento propor essa medida, e o presidente Temer errou ao autorizá-la. Vamos estar com toda energia contra esse medida e contra qualquer outra que venha a aparecer.

Broadcast: A Fiesp vai incentivar os protestos nas ruas?  Skaf: O Brasil precisa retomar o crescimento econômico e gerar empregos, precisa fortalecer as empresas e a arrecadação. E o crescimento não se dará com mais confusão, o que o País já tem bastante. De uma forma legítima, estamos nos manifestando por meio de anúncios nos jornais e com os patos nas ruas. Não creio que, neste momento, seja oportuno para o País mais marolas. Quanto mais serenidade e equilíbrio, melhor para o crescimento do País. Aliás, já existem sinais de retomada do crescimento. A arrecadação em junho cresceu 3%. Muitos setores da economia também estão sentindo esses sinais concretos de melhora.

Broadcast: O senhor concorda com o presidente Temer quando ele disse que a população vai entender a alta dos impostos?  Skaf: Não concordo. O governo Temer poderia ter dito que os governos do PT deixaram uma bomba estourada para ele, aí eu iria concordar. O PT deixou uma dívida pública enorme, marcada por uma gastança sem a devida gestão e sem bons resultados. Nesse sentido, o aumento de imposto é um remédio amargo. Poderia até concordar com a avaliação. Mas, ainda assim, não aceitaria o remédio amargo.