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Presidente da Petrobrás evita dar pistas sobre reajuste de combustível

Para analistas, valorização do dólar e acordo da Opep para reduzir produção vão pressionar a estatal a aumentar preços

Foto do author Circe Bonatelli
Por Circe Bonatelli (Broadcast) e Karin Sato
Atualização:
Decisão sobre o assunto será divulgada na primeira quinzena deste mês Foto: Agência Petrobrás

O presidente da Petrobrás, Pedro Parente, evitou dar pistas sobre qual será a posição da companhia em relação a um possível reajuste no preço dos combustíveis no País diante da onda recente de valorização do dólar frente ao real e do acordo fechado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para reduzir a produção e forçar uma alta no valor da commodity no mercado internacional. Segundo o executivo, a decisão sobre o assunto será divulgada só depois da próxima reunião do comitê da diretoria que trata do preço dos combustíveis, prevista para ocorrer na primeira quinzena deste mês.

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"Não posso dar nenhum indicação, porque não resolvo sozinho. O comitê tem três pessoas", afirmou o presidente da Petrobrás em entrevista à imprensa após participar de evento realizado pela Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), na cidade de São Paulo.

O comitê mencionado é formado por Parente, pelo diretor financeiro, Ivan de Souza Monteiro, e pelo diretor de refino e gás natural, Jorge Celestino Ramos. "Em respeito a essas pessoas, temos que aguardar a discussão para poder trazer uma posição", completou o executivo, sem informar, porém, qual a data exata em que ocorrerá o encontro.

"Nós anunciamos uma política, com reunião uma vez por mês, em que nós avaliamos várias questões, como essas variáveis (câmbio e produção global). Avaliamos também o market share e aí tomamos uma decisão", explicou Parente. 

Política de preços. Antes, a discussão era sobre a existência da política de preços da Petrobrás. Hoje é se essa política é boa ou não, disse Parente no evento na capital paulista. Atualmente, a estatal promove reuniões regulares para discutir os preços tendo por base o câmbio e os preços do petróleo.

O executivo lembrou que, no passado, a petroleira praticou preços abaixo da paridade internacional, o que contribuiu para uma parte importante da dívida da empresa.

Nesta semana, a Opep chegou a um acordo para cortar a produção de petróleo, levando os preços da commodity a fortes valorizações, o que levou analistas a escrever em relatórios que a empresa enfrentará agora um teste. Se a petroleira reajustar preços, ampliará a convicção dos investidores na política de preços da empresa e a confiança na diretoria. Em cálculos de analistas de bancos, a estatal necessitará de um reajuste de dois dígitos.

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Os profissionais também notaram, contudo, que o atual momento político e econômico de turbulência do país coloca a companhia numa situação desafiadora.

Trump. As consequências para o Brasil e para a Petrobrás da eleição do republicano Donald Trump nos Estados Unidos e a esperada alteração na política externa do país serão de natureza indireta, afirmou o presidente da Petrobrás.

Nesse contexto, Parente afirmou que a taxa de câmbio e o preço do petróleo serão relevantes para o negócio da empresa e disse que o Federal Reserve (Fed) demonstra uma falta de percepção clara do que está acontecendo na economia americana.

Ele destacou que ninguém sabe o que vai acontecer. "Todo mundo sabe que haverá alteração, mas não sabe qual será", disse. "Estive nos Estados Unidos e conversei com grupos distintos, cada um tinha uma visão", acrescentou.

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Mais uma questão relevante para a Petrobrás será o patamar de crescimento econômico da China, explicou Parente. "Crescer 6%, 7% ao ano, pode ser o sonho de todos os países do mundo, menos da China. A questão é saber se esse é um patamar de piso ou se haverá problemas futuros quanto ao crescimento chinês", disse.

Shale gas. Parente falou também da mudança na indústria causada pelo shale gas, que trouxe repercussão para a indústria química. "Tivemos uma mudança bastante repentina na curva de oferta e demanda. Certamente, a grande contribuição para essa mudança não foi repentina na demanda e sim relativa a uma oferta de óleo e gás diferente da tradicional, que é o shale gas", comentou.

"Quando se soma o cenário da indústria com questões exclusivas da Petrobrás, nossa atuação tem de ser muito mais efetiva", afirma. 

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Lava Jato. O presidente da Petrobrás disse também no evento que a estatal é, antes de tudo, vítima no processo da Lava Jato, com prejuízos inclusive de reputação. "Não se esqueçam disso, não é um detalhe. Antes de tudo, a Petrobrás é uma - e talvez a principal - vítima do processo", afirmou o executivo. 

Odebrecht. Parente sinalizou que a companhia pode ser beneficiada com o recebimento de algum montante oriundo do acordo de leniência assinado na quinta-feira, 1º de dezembro, pela Odebrecht com o Ministério Público, que estabelece a obrigação de a construtora pagar R$ 6,8 bilhões ao longo de 23 anos. No entanto, o presidente da Petrobrás não citou estimativa de valores. "Obviamente, temos expectativa em relação a esses valores também, mas não temos indicação", afirmou, após ser questionado por jornalistas.

Ele lembrou que a Petrobrás já foi ressarcida por danos identificados durante a Operação Lava Jato, o que reforça a tese de que a companhia foi vítima, e não protagonista do processo de desvios e mau uso de recursos públicos. "Gostaria de ressaltar que já recebemos R$ 660 milhões vindo de delações e indenizações. Isso comprova a tese de que a Petrobrás é vítima e não estaria recebendo esses valores se não fosse", disse.

Em sua palestra durante o evento da Abiquim, Parente disse também que a companhia teve recursos aceitos pela Justiça dos Estados Unidos, pois não havia razão para as chamadas 'class actions' (ações coletivas) movidas por investidores daquele país. Além disso, a empresa buscou realizar negociações extrajudiciais para agilizar a pacificação do assunto.

"A estratégia da empresa foi conversar com os investidores que estavam fora da class action, mas contra a empresa. E fizemos uma série de acordos Não reconhecemos culpa, mas tivemos a visão pragmática de que é melhor resolver cedo para tirar essa sombra da empresa", explicou.

Eletrobrás. Na entrevista à imprensa, Parente comentou também que é importante haver um acordo referente à dívida de R$ 5,4 bilhões da Eletrobras cobrada pela Petrobrás. A petroleira pede o reconhecimento da dívida para transformá-la em títulos que serão oferecidos ao mercado. 

"Acho que é muito importante para as duas empresas que a gente chegue a um entendimento adequado para o equacionamento dessa dívida", disse Parente. Ele estimou que a Petrobrás deve apresentar ainda neste mês uma posição em resposta à proposta feita pela Eletrobrás.

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