Presidente do BB, Rubem Novaes, entregou pedido de demissão a Bolsonaro e Guedes

O presidente da República aceitou o pedido e deve indicar outro nome para o comando da instituição; entre os cotados estão Hélio Magalhães, ex-Citi, e o atual presidente da Caixa, Pedro Guimarães

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Por Anne Warth, Adriana Fernandes e Idiana Tomazelli
4 min de leitura

BRASÍLIA – O presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, entregou seu pedido de demissão ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Economia, Paulo Guedes. A informação foi divulgada em fato relevante do banco. 

Segundo uma fontes do governo, a saída de Novaes está alinhada ao movimento de Bolsonaro de se afastar do núcleo considerado radical. Novaes é ligado ao escritor Olavo de Carvalho, que tem atrapalhado a pauta governista e gerado ruídos com o Poder Legislativo. Recentemente, o presidente do BB questionou a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de impedir que o banco faça propaganda em sites acusados de espalhar fake news. 

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Além disso, a avaliação na equipe econômica é que o desempenho dele no mercado de crédito foi insatisfatório. Novaes se mostrou reticente a atender aos pedidos do presidente de baixar juros em linhas ao consumidor, principalmente no cheque especial, e ampliar a oferta de crédito para atenuar os efeitos da crise.

Rubem Novaes entregou carta de renúncia à presidência do Banco do Brasil nesta sexta-feira, 24. Foto: Amanda Perobelli/Reuters

“Em conformidade com o § 4º do art. 157 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976, e com a Instrução CVM nº 358, de 03 de janeiro de 2002, o Banco do Brasil (BB) comunica que o Sr. Rubem de Freitas Novaes entregou ao Exmo. Sr. Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro e ao Exmo. Ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes, pedido de renúncia ao cargo de presidente do BB, com efeitos a partir de agosto, em data a ser definida e oportunamente comunicada ao mercado, entendendo que a Companhia precisa de renovação para enfrentar os momentos futuros de muitas inovações no sistema bancário”, diz o comunicado divulgado pelo banco na noite desta sexta-feira.

O fato relevante também diz que Bolsonaro já aceitou o pedido de Rubens e que deve indicar outro nome para comandar o banco público. Um dos nomes cotados para substituir Novaes é de Hélio Magalhães, atual presidente do conselho de administração do BB. Ele foi presidente do Citi Brasil de 2012 a 2017. Segundo apurou o Estadão, Magalhães é considerado um dos presidentes de conselho mais atuantes na história do banco. Outro nome forte é do atual presidente da Caixa, Pedro Guimarães, que tem grande apreço de Bolsonaro. 

Políticos do Centrão afirmam, nos bastidores, que entendem não haver espaço para um indicado de partidos como substituto, pela posição estratégica do banco para o País. O cargo é considerado "vital", e Guedes já avisou que da seara dele não está disposto a abrir mão das presidências dos três maiores bancos federais (BB, Caixa e BNDES), sob o risco de sair do governo.

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Novaes deve continuar na equipe econômica como auxiliar de Guedes. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, ele deve ser assessor especial da pasta. Novaes manifestou a Guedes o desejo de deixar o cargo há cerca de um mês, dizendo que queria retornar ao Rio para ficar próximo da família. Pediu a liberação como "presente de aniversário" em agosto.

Fake News

O BB foi proibido em maio de veicular publicidade em sites, blogs, portais e redes sociais acusados de espalhar fake news. Em reucrso apresentado esta semana, o banco pediu à corte de contas que reverta a decisão e afirmou que não financia fake news. Segundo a instituição financeira, a agência responsável pela publicidade foi escolhida por meio de licitação. Cabe à agência contratar plataformas e escolher os sites que vão distribuir o conteúdo, conforme os critérios preestabelecidos em cada campanha. Em outras palavras, o BB define o público-alvo, não os sites.

De acordo com a instuição, a decisão do TCU de suspender a publicidade do BB em sites e blogs, além de jornais e revistas com menos de dez anos de existência, afetou duramente o resultado da instituição financeira nas redes. As solicitações de abertura de contas digitais e os pedidos de cartão Ourocard feitos por não-correntistas caíram 30%. O BB também perdeu relevância entre os usuários de internet. O alcance da instituição caiu de um público-alvo de 100 milhões para 30 milhões. Nas redes sociais do banco, as publicações, que antes chegavam a 5 milhões de usuários por campanha, caíram para 20 mil. Entre os sites e aplicativos que se enquadram na lista de proibições impostas ao BB estão Mercado Livre, OLX, YouTube e Spotify - todos com menos de dez anos de existência.

Privatização

Na reunião do dia 22 de abril, Guedes criticou a atuação de Novaes à frente do BB. Ele disse que o governo "faz o que quer" com a Caixa Econômica Federal e o BNDES, mas no BB "não consegue fazer nada", mesmo tendo um "liberal lá", em referência a Novas, que estava no encontro. "Tem que vender essa porra logo", disse Guedes. 

Para Guedes, o Banco do Brasil “não é tatu nem cobra, porque ele não é privado, nem público”. “Se for apertar o Rubem, coitado. Ele é super liberal, mas se apertar ele e falar: ‘bota o juro baixo’, ele: ‘não posso, senão a turma, os privados, meus minoritários, me apertam.’ . Aí se falar assim: “bota o juro alto”, ele: ‘não posso, porque senão o governo me aperta’. O Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”, afirmou o ministro da Economia durante encontro com ministros e outras autoridades, entre elas Novaes.

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“É um caso pronto e a gente não está dando esse passo. O senhor (presidente) já notou que o BNDE e o … e o … e a Caixa que são nossos, públicos, a gente faz o que a gente quer. Banco do Brasil a gente não consegue fazer nada e tem um liberal lá. Então tem que vender essa porra logo”, reforçou Guedes.

Em seguida à fala de Guedes, Novaes defendeu a privatização do BB, mas Bolsonaro o repreendeu dizendo que sobre esse assunto "só se fala isso em 2023", após a eleição de 2022.

Em abril, durante a crise da pandemia do novo coronavírus e as medidas de isolamento para tentar evitar a propagaçaõ da doença, Novaes ao Estadão disse que “governadores e prefeitos impedem a atividade econômica e oferecem esmolas, com o dinheiro alheio, em troca”. “Esmolas atenuam o problema, mas não o resolvem. E pessoas querem viver de seu esforço próprio”, disse. (COLABOROU FELIPE FRAZÃO)

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