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Presidente do Fed adverte para déficit crescente

Remuneração dos títulos do Tesouro já é afetada e pode criar armadilha do endividamento, diz Bernanke

Por Patrícia Campos Mello
Atualização:

O presidente do Fed (o banco central dos EUA), Ben Bernanke, advertiu ontem que o crescente déficit americano já está afetando a remuneração dos títulos do Tesouro e pode levar a uma armadilha de endividamento. Em audiência no Congresso, Bernanke afirmou que as altas recentes na remuneração dos Treasuries "refletem preocupações dos investidores com o grande déficit público", além de otimismo sobre a recuperação da economia. O déficit atual é de quase US$ 2 trilhões. Desde o final de abril, a remuneração do título do Tesouro de 10 anos subiu de menos de 3% para 3,76% na semana passada, o nível mais alto desde novembro. Como o governo americano terá de emitir muitos títulos para financiar seu déficit e todos os programas de estímulo, investidores já projetam um aumento na oferta de títulos, com queda nos preços (e consequente alta na remuneração), além de efeitos inflacionários. O outro aspecto da alta na remuneração dos Treasuries é a aparente melhora da economia mundial, que leva investidores a saírem da segurança dos títulos americanos e aplicarem em ativos mais arriscados. Bernanke afirmou que os planos de estímulo para combater a recessão, financiados às custas de aumento no déficit, são necessários e apropriados. "Nossa economia e nosso mercado financeiro enfrentam desafios sérios no curto prazo e respostas robustas e rápidas eram necessárias." Mas ele alertou: "Os desafios de curto prazo não podem evitar a consideração de medidas necessárias para lidar com o desequilíbrio fiscal." Ele disse aos parlamentares que não será possível tomar emprestado "indefinidamente" para financiar os gastos do governo. "Não podemos permitir que estejamos em uma situação de aumento constante da dívida. Isso leva a mais e mais pagamento de juros, que inflam o déficit, levando a uma situação insustentável." E advertiu que o Fed não irá simplesmente imprimir dinheiro para arcar com déficits crescentes: "Não vamos monetizar a dívida." Bernanke, porém, demonstrou ,mais otimismo sobre a retomada da economia dos EUA. Segundo ele, a contração da economia está desacelerando e o crescimento deve retornar no final do ano. O mercado imobiliário parece ter chegado ao fundo do poço e a redução dos estoques deve estimular a produção. Mas fez a ressalva de que a recuperação não trará um crescimento robusto e permanecerá abaixo do PIB potencial por um tempo. Além disso, "cortes de vagas significativos devem continuar nos próximos meses", levando a taxa de desemprego a aumentar, disse.

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