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Presidente fará papel de bombeiro na vizinhança

Roteiro de Lula inclui reuniões com Chávez e com Uribe

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Por Redação
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A agenda do presidente Lula nesta semana vai pôr em xeque a capacidade de sua diplomacia presidencial para lidar com os mais recentes incêndios na vizinhança sul-americana. Das tensões entre Caracas e Bogotá à instabilidade política na Bolívia, da negociação congelada entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) à contenção de possíveis ataques do venezuelano Hugo Chávez ao Mercosul, o presidente Lula terá de valer-se de argumentos e de boa dose de paciência para preservar o objetivo maior de seu governo na área externa de integrar a América do Sul. Em apenas nove dias, Lula pisará em Buenos Aires, Caracas, La Paz e Montevidéu. Nessa jornada, estará sem a assessoria do chanceler Celso Amorim, a quem destacou para liderar a delegação brasileira na Conferência do Clima (COP-13), em Bali, na Indonésia. Seu assessor internacional, Marco Aurélio Garcia, e o secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães, deverão dividir a tarefa natural ao ministro. Fontes do Itamaraty afirmaram que, diante da conjuntura instável da região, o presidente Lula tentará impedir maiores estragos nos interesses brasileiros a médio e longo prazos. Não assumirá publicamente sua liderança, mas terá de atuar como líder para defender pelo menos cinco projetos relacionados a esses interesses - a integração física e comercial sul-americana, a conexão energética, o Mercosul, a pacificação de vizinhos conflitantes e a estabilização política da Bolívia. Em Buenos Aires, hoje, Lula aproveitará a posse da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, para costurar a mediação do Brasil na negociação entre o governo colombiano e as Farc sobre a troca de 45 reféns por guerrilheiros presos. Pela manhã, tratará do tema com o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. Em seguida, com François Fillon, o primeiro-ministro da França, país empenhado na libertação da franco-colombiana Ingrid Bettancourt, senadora capturada há cinco anos pelas Farc. Com Uribe, Lula pretende também distender a crise nas relações Colômbia-Venezuela. Não será tarefa fácil. Destituído da condição de intermediário nas negociações entre o governo colombiano e as Farc, Chávez acusou Uribe de traí-lo, chamou-o de mentiroso e arrematou que não confiaria em nenhuma autoridade do país vizinho. Por fim, chamou de volta a Caracas seu embaixador e rompeu as relações bilaterais até o fim do mandato de Uribe. O "deixa-disso" será conselho repetido também a Chávez, com quem Lula se encontrará no dia 13, em Caracas. Para o governo brasileiro, seria desastrosa a possível suspensão da Cúpula da Comunidade Sul-americana de Nações (Unasul), programada para o fim de janeiro em Cartagena, na Colômbia, por causa do impasse entre Chávez e Uribe. Em princípio, a reconciliação entre os países depende de uma iniciativa do próprio Chávez - algo que soe em Bogotá como um pedido de desculpas. Lula está ciente disso. O encontro Lula-Chávez, em Caracas, será o segundo encontro quadrimestral entre os presidentes, a receita criada para evitar o acúmulo de rusgas. Em agosto, na reunião de Manaus, ambos se estranharam ao discutir os investimentos conjuntos da Petrobrás e da Petróleos de Venezuela (PDVSA) durante mais de quatro horas. Acabaram acertando, para a reunião de dezembro, a assinatura dos documentos que criarão duas empresas mistas - uma para tocar a construção de uma refinaria em Pernambuco, que será operada pela Petrobrás, e outra para cuidar da exploração de petróleo na faixa do Rio Orinoco, a ser operada pela PDVSA. Dessa vez, Lula terá de tourear o líder venezuelano em dois temas delicados. O primeiro será sua disposição de atuar como mediador entre o governo Uribe e as Farc, no lugar de Chávez. A saída será argumentar que o Brasil apenas ofereceu à Colômbia um espaço para a negociação direta entre as partes. Tudo indica, entretanto, que Lula pensa numa mediação mais incisiva. O outro tema sensível é o ingresso da Venezuela como membro pleno do Mercosul, ainda incerto. Apesar da promessa do chanceler Celso Amorim ao próprio Chávez, em setembro, a tramitação do protocolo de adesão no Congresso não será concluída até o fim do ano. A questão ficará para 2008, como confirmou o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia. Até o fim de agosto, a "demora" na aprovação suscitou ataques de Chávez ao Congresso e até ameaças de retirada do pedido de adesão. Desde setembro, o líder venezuelano mostra-se mais contido. Mas o Itamaraty teme que as grosserias de Chávez sejam retomadas, em público, durante a 34ª Reunião de Cúpula do Mercosul, nos dias 17 e 18 em Montevidéu, no Uruguai.

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