Publicidade

Presidente uruguaio pede apoio da oposição para acordo com EUA

Vázquez pretende falar com Lula e explicar negociações uruguaias com os EUA

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Tabaré Vázquez, do Uruguai, pediu nesta segunda-feira apoio das lideranças dos principais partidos da oposição para iniciar as negociações sobre um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos. Os líderes opositores reuniram-se com Vázquez para analisar os riscos e benefícios de um TLC de "última geração", que abrangeria o comércio de bens, serviços, propriedade intelectual e acesso a compras governamentais. Após o encontro, Vázquez declarou que somente em outubro ficará definido qual será o caminho para aumentar o fluxo comercial com os EUA. "Aí saberemos se será um Tratado de Livre Comércio ou outro tipo de acordo", explicou. No dia 2 de outubro uma comissão bilateral Uruguai-EUA começará a analisar os primeiros passos para a negociação. A oposição esteve representada pelo ex-presidente Julio María Sanguinetti (líder do Partido Colorado, conservador), o senador Jorge Larrañaga (líder do Partido Nacional, também conhecido como Partido Blanco, nacionalista) e Pablo Mieres (do Partido Independente). Também esteve presente Jorge Broveto (líder da governista coalizão de centro-esquerda Frente Ampla). Sanguinetti - cujo partido é declaradamente a favor de um acordo com os EUA - declarou que esse tipo de tarefa "sempre é difícil" e que "levará tempo". A oposição costuma expressar sua decepção com o Mercosul e seu desejo de assinar um acordo com os EUA. No entanto, as lideranças opositoras, após a reunião, explicaram que o governo não tem um "rumo" definido na política externa. Os opositores referiam-se à pouca precisão de Vázquez sobre sua posição em relação ao acordo com os EUA. Enquanto que na oposição existe um consenso sólido a favor do TLC, dentro da própria coalizão de governo, a Frente Ampla (colcha de retalhos de socialistas, comunistas, democrata-cristãos, ex-guerrilheiros tupamaros e nacionalistas), as divergências são profundas. O gabinete está dividido. Por um lado, o Ministro da Economia, Danilo Astori, defende o TLC, enquanto o chanceler Reinaldo Gargano é radicalmente contra. Além disso, para complicar, a central sindical PIT-CNT - que sempre esteve do lado da Frente Ampla - rechaça um acordo com os EUA e ameaça desatar uma série de marchas de protestos caso Vázquez comece as negociações com os representantes do presidente George W. Bush. Um eventual acordo com os EUA poderia provocar um racha no governo e a perda do apoio sindical ao governo Vázquez. Mas, por outro lado, aumentaria o respaldo empresarial e do sistema financeiro à sua gestão. Vázquez declarou que nos próximos dias pretende conversar sobre as negociações com os EUA de forma pessoal ou por telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que atualmente ocupa a presidência do Mercosul. Mas, nos últimos dois meses, em diversas ocasiões, tanto Buenos Aires como Brasília já avisaram Montevidéu que o Uruguai não poderá permanecer como sócio pleno do bloco caso realize um acordo com os EUA passando por cima do Mercosul. O governo Vázquez retruca, pedindo que o Brasil e a Argentina sejam "flexíveis" com o sócio "pequeno". Mal-estar As negociações com os EUA ocorrerão no meio de um clima de crescente mal-estar uruguaio em relação ao Mercosul, mais especificamente, com o Brasil e a Argentina, os dois sócios "grandes". Políticos e empresários estão desapontados com o bloco do Cone Sul. Os uruguaios consideram que o Brasil e a Argentina ignoram os "pequenos" (isto é, o Uruguai e o Paraguai) e lhes colocam demasiadas barreiras comerciais. Além disso, o sentimento de indisposição com o Mercosul cresceu mais ainda desde que em agosto do ano passado o presidente argentino Néstor Kirchner fez uma virulenta campanha contra a instalação de duas fábricas de celulose no município uruguaio de Fray Bentos, sobre o rio Uruguai, que divide os dois países. As intensas pressões argentinas, os piquetes realizados por manifestantes argentinos em duas das três pontes que ligam os dois países e a posição do governo brasileiro de não-interferência no conflito fizeram crescer a simpatia por um eventual acordo com os EUA.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.