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Presidente, veja esses dados

Por Alberto Tamer
Atualização:

Esta é uma coluna com dados oficiais defintivos sobre o peso do etanol de cana-de-açúcar e de milho na inflação para o presidente e pessoas de boa-fé lerem. Para Lula, mais informações que reforçam seus argumentos. Para os outros, uma conversão à verdade. Não haverá aqui afirmações sem provas, como as que, alimentadas pelo trilionário lobby das companhias de petróleo que estão ganhando fortunas com o barril a US$ 115 , acusam os alimentos e o etanol como a causa da inflação mundial. UM RECADO PARA O PRESIDENTE Meu caro presidente, esta coluna louva seu imenso esforço para esclarecer a verdade sobre o etanol de cana e de milho. O sr. tem afirmado que não cabe ao etanol de cana a culpa pelo extraordinário aumento dos preços dos alimentos. O culpado é o petróleo a US$ 115 em aspiral sem limites, é o saudável aumento da demanda por alimentos, "gente comendo mais". Cabe ao mundo rico socorrer emergencialmente os famintos, enquanto seguem o exemplo do Brasil de plantar mais e produzir mais. Mas, presidente, o sr. não está sendo bem assessorado. Faltam-lhe dados oficiais, mais do que disponíveis, que esta coluna coletou nos EUA e na Europa para documentar e impor silêncio às acusações. Aqui vão. Por favor, atente para eles, presidente, e os repasse a seus ministros e assessores. OS PREÇOS NOS EUA O governo americano divulgou ontem dados oficiais do aumento dos preços pagos pelos produtores, em março, que serão logo repassados para a inflação, como sempre ocorre. 1- Os preços pagos pelos produtores aumentou em 6,9%. Os preços dos alimentos aumentaram apenas 1,2% em março; 2- O preço da enertgia subiu 2,9%. Em fevereiro, o aumento foi de 0,8%; 3-Inflação ao consumidor em março, mais 0,3% ou 4% em um ano. Sendo, 1,9% para energia em um mês e 17%, em um ano. Alimentos (atente para isso), mais 0,2% em março, 4,5% em um ano. Ou seja, decididamente a inflação nos EUA foi causada pelo petróleo e não pelos alimentos. Presidente, são dados de ontem, mas confirmam o que vem se repetindo há meses. Peça para seus assessores resumirem esses dados para o sr., pois são vitais, definitivos e irrefutáveis. INFLAÇÃO NA EUROPA Na Europa, o mesmo cenário. Ontem, o centro de estatística da União Européia informou que a inflação em março, com base em dados preliminares, está 3,5%. Por quê? De novo: 1-Aumento dos preços dos alimentos: 2,3%; 2-Aumento dos preços da energia: 11,2%!!! Em fevereiro, a alta havia sido de 2,3%. É o petróleo, agora denunciado oficialmente pela UE. Resumindo, presidente, há uma diferença imensa entre o aumento dos preços dos alimentos e da energia na Europa e nos EUA. Com esses dados oficiais, o sr. poderá não só afirmar, mas provar que é o petróleo e não o alimento que está provocando um aumento da inflação mundial. O preço dos alimento pesa, não há como negar, mas muitíssimo menos do que o da energia. PODEMOS ALIMENTAR O MUNDO Outra ausência nos discursos do governo é sobre a disponibilidade de terras agrícolas. O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues oferece os seguintes dados para defender o etanol, em entrevista, de Andrea Vialli, publicada domingo no Estado: 1-O Brasil tem 72 milhões de hectares cultivados e apenas 7 milhões plantados com cana. Desses, 3,6 milhões são de cana para produzir etanol. Ou seja, o etanol ocupa apenas 5% da área cultivada brasileira; 2-O Brasil tem 180 milhões de hectares de pastagens dos quais 71 milhões são cultiváveis. E, destes, só 22 milhões são próprios para cana. Ou seja, restam nada menos que 49 milhões para comida! É isso, presidente. São dados incontestáveis e há mais, todos oficiais. É só procurar. Em tempo, presidente, isso não é uma crítica, mas uma sugestão. TEM MAIS, TEM MAIS Todos falam que o etanol de milho é mais caro. Mas quanto? O etanol brasileiro custa para produzir R$ 0,60 por litro e o etanol americano, de milho, R$ 1,16 (ao câmbio de US$ 1,70). Incluindo o custo do frete, o etanol brasileiro chega a R$ 0,74 por litro. Mas como o de milho continua mais caro, o governo americano aplica uma tarifa de US$ 0,54 por galão. Acrescentando a isso impostos, o preço final do etanol brasileiro chega ao consumidor americano a R$ 1 por litro, enquanto o etanol de milho está em R$ 1,16. E só não é mais caro porque recebem um subsídio do governo de R$ 0,23 por litro! E é com essa política protecionista, mas altamente inflacionária - pois o milho usado para etanol rouba áreas de outros produtos aumentando seus preços -, que o nosso etanol está impedido de colaborar com o governo americano na luta desesperada e, hoje, ingrata, contra a inflação! Aumentaram o preço do nosso etanol até chegar ao do deles... Veja, presidente, quantos argumentos oficiais o sr. tem em mãos! CORREÇÃO O presidente do Banco Inter-americano de Desenvolvimento é Luiz Alberto Moreno, e não Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial. Foi este, sim, que acusou indevidamente os alimentos como causa da inflação atual. *E-mail: at@attglobal.net

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