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Pressão pela redução dos juros vai aumentar, diz Mercadante

Por Agencia Estado
Atualização:

Se depender do líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), a pressão pela redução dos juros deverá aumentar nas próximas semanas. O senador está organizando um amplo debate, no Congresso, com políticos, economistas, acadêmicos e representantes do mercado financeiro sobre juros e crescimento econômico. A idéia, explica o senador, é "dar voz para o outro lado". Mercadante está convencido que o mercado - o maior beneficiado com as taxas elevadas praticadas no País - sempre pressiona por juros altos enquanto o restante da sociedade fica de fora desse debate. Para o senador, o que está em jogo ao se defender uma trajetória de alta ou de baixa para a taxa de juros é "uma grande disputa pela renda nacional". De um lado, afirma, está o mercado financeiro que têm nos títulos públicos uma opção bastante rentável de investimento. "Eles têm economistas bem pagos, pautam a mídia e buscam argumentos que justifiquem que a remuneração dos títulos públicos seja a maior possível", diz. "Eles são credores de R$ 650 bilhões em títulos e 1% em cima desse total significa R$ 6,5 bilhões. É isso que está em disputa." Do outro lado está o setor produtivo sempre reclamando mas com pouca capacidade de reflexão. "Estão tão envolvidos em interesses imediatos que não entram nesse debate". O jogo de pressão entre essas duas forças, defende, é fundamental para decisão do Comitê de Política Monetária do BC (Copom), que apesar de se basear em argumentos técnicos também tem um fundo político. "É evidente que a decisão do Copom tem componentes técnicos, como o comportamento da inflação, das contas externas, o perfil das aplicações etc. Mas também é uma decisão política já que é votado e, nem sempre, tem unanimidade", argumenta. "Então, esse jogo de pressão é fundamental para a decisão do Copom". As discussões no Senado Federal iniciarão praticamente na véspera da reunião do Comitê, marcada para os dias 17 e 18 de junho. O seminário deverá ocorrer no dia 12 e, segundo Mercadante, será palco para um debate técnico. "Não se trata de oba-oba. Queremos fazer uma discussão séria e técnica", diz, ressaltando que não pretende ficar discutindo fatos passados. "Não quero comentar a ata (da última reunião do Copom), quero ajudar a escrever a próxima", afirma. Ele nega que essa iniciativa seja a forma encontrada pelos defensores da redução da taxa de juros para deixar claro a impaciência que vem ganhando força dentro do próprio governo. "Não é impaciência. O Brasil amadureceu muito como sociedade democrática. Temos informações mais qualificadas sobre esses temas e é preciso entender a lógica economica e dar direito à contraditória", diz, argumentando que isso ajudará a construir uma saída. "Já estamos construindo essa saída. Superamos a vulnerabilidade externa, melhoramos a fragilidade das contas públicas e começamos a reverter o quadro da inflação". Um dos pontos que deverá ser esclarecido, segundo ele, é porque o mercado já fala em manutenção da taxa de juros por mais um mês quando a trajetória da inflação é de queda. "O que justifica juros a 26,5% ao ano quando a inflação está em queda?". O senador lembra que, em janeiro, a inflação medida pelo IPCA - o índice que serve de referência para o sistema de metas do governo - chegou a 2,25% e isso justificou a alta dos juros para 26,5% ao ano no mês seguinte. No entanto, de lá para cá, o IPCA vem caindo, encerrando abril em 0,97% e dando sinais de nova redução em maio. "Porque permanecer com a mesma taxa de juro", indaga. As altas taxas de juros praticadas no País são um entrave ao crescimento econômico. No primeiro trimestre deste ano, a economia ficou praticamente parada. O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de tudo o que é produzido no País, foi 0,1% menor do que no primeiro trimestre do ano passado. Para o senador, a questão dos juros vai além da redução da taxa básica fixada mensalmente pelo BC. "Não basta mexer na taxa básica, tem de enfrentar toda a agenda de redução do spread", diz se referindo à diferença entre a taxa paga pelos bancos para captar dinheiro no mercado e o valor cobrado dos clientes nas operações de empréstimos.

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