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Pressão política levou à troca e indica rumo desenvolvimentista

Por Marcelo de Moraes
Atualização:

No meio da semana, a manifestação nas ruas de apoiadores da presidente Dilma Rousseff mandou um claro recado: apoiavam sua manutenção no Palácio do Planalto, mas queriam o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, fora do governo. Fragilizada politicamente e pressionada pela discussão de seu impeachment dentro do Congresso, Dilma preferiu se agarrar aos que ainda resistem ao seu lado. Sacrificou Levy e deslocou do Planejamento para a Fazenda, Nelson Barbosa.

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Na prática, desde sua nomeação, Levy foi alvo de contestações pesadas do PT e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A rigorosa política de ajuste fiscal determinada pelo ministro foi criticada pelos petistas, que julgaram que ela não produzia melhora na economia e ampliava a impopularidade do governo e, por consequência, do próprio partido. Mas antes mesmo de assinar qualquer medida já tinha sido condenado pelo partido por ser considerado um nome do mercado, muito mais alinhado ideologicamente com os adversários do PSDB do que com o PT.

Levy também não era o nome dos sonhos de Dilma. Ela preferia ter como ministro Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco. Trabuco recusou o convite e indicou Levy, que trabalhava com ele no banco. O movimento de buscar alguém no mercado fazia parte da estratégia de fortalecer a combalida economia do País, abalada pelos medíocres números de crescimento e pelo escândalo das pedaladas fiscais. Além de Levy na Fazenda, Dilma colocara a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura, como ministra da Agricultura, e o empresário e ex-presidente da Confederação Nacional das Indústrias Armando Monteiro no comando do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Petistas nunca perdoaram os movimentos. Lula passou boa parte do ano torpedeando as medidas de Levy e sugerindo sua substituição pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. À medida que a discussão sobre seu impeachment foi ficando mais forte, Dilma decidiu optar pelo apoio do PT e das centrais sindicais e praticamente desautorizou as posições mais austeras propostas por Levy.

Assim, no período de pouco mais de um ano, Dilma estorricou dois ministros da Fazenda. Ainda durante a campanha, demitiu pela imprensa, o então ministro Guido Mantega, insatisfeita com os rumos da economia. Nessa semana, foi concluído o processo de fritura de Levy. A bem da verdade, Levy tinha um gênio difícil e deixa o cargo entregando a economia em absoluta retração.

Nelson Barbosa, ao contrário, assume o posto fortalecido pelas próprias posições. É o que se chama em Brasília de “desenvolvimentista”. É também afinadíssimo com o PT. Num ano de campanha municipal, sua chegada indica uma mudança na linha econômica, com perspectiva de ampliação de investimentos e maior abertura da torneira de recursos. Mas, assim como Levy, enfrentará um cenário econômico adverso. Esse será seu maior desafio.

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