Prévia da inflação sobe 0,94% em outubro, na maior alta para o mês desde 1995 

Resultado do IPCA-15 foi puxado pelo aumento nos preços dos alimentos, principalmente das carnes; indicador ficou acima do esperado, mas analistas acreditam que aceleração é passageira

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Por Vinicius Neder
3 min de leitura

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), uma prévia da inflação oficial, foi de 0,94% em outubro, maior resultado para o mês desde 1995, informou nesta sexta-feira, 23, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, o indicador acumula alta de 2,31% e em 12 meses atingiu 3,52%. 

O resultado do mês ficou acima do esperado pelos analistas do mercado financeiro consultados pelo Projeções Broadcast, que previam alta entre 0,52% e 0,93%. Economistas, no entanto, acreditam que o aumento é passageiro. A meta do Banco Central para a inflação deste ano é de 4%.

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Em outubro, o IPCA-15 subiu em todas as localidades pesquisadas pelo IBGE Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Os preços dos alimentos e bebidas tiveram a maior alta (2,24%) entre os grupos pesquisados e também o maior impacto positivo (0,45 ponto porcentual) no índice. Os alimentos para consumo no domicílio subiram 2,95% em outubro, depois do avanço de 1,96% em setembro. O item de maior peso foram as carnes, com aumento de 4,83% - o quinto seguido.

“Destacam-se também as altas do óleo de soja (22,34%), do arroz (18,48%), do tomate (14,25%) e do leite longa vida (4,26%)”, diz a nota divulgada pelo IBGE. “Por outro lado, houve queda nos preços da cebola (-9,95%) e da batata-inglesa (-4,39%).”

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito tiveram alta no IPCA-15 de outubro. Em setembro, três grupos (vestuário, saúde e cuidados pessoais e educação) haviam registrado deflação. Neste mês, apenas educação teve ligeira variação negativa, com queda de 0,02%. Juntos, os grupos alimentação e bebidas e transportes responderam por cerca de três quartos do avanço do IPCA-15.

O economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, disse que o resultado do índice causa preocupação, mas que "para chegar à meta da inflação ainda vai um pouco". "Existe hoje um sentimento inflacionário, mas nem o mais pessimista projeta inflação alta tão cedo", afirmou.

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Para a economista do Itaú Unibanco Julia Passabom, o IPCA-15 de outubro deve ser o pico das leituras de inflação deste ano. "Estamos vendo um choque de inflação de curto prazo que tem três coisas juntas: choque de commodities (matérias-primas com cotações internacionais) agrícolas em reais; uma pressão de curto prazo das políticas de transferência de renda; e a mudança da cesta de consumo de serviços para bens", diz.

O economista-chefe do Haitong, Flávio Serrano, disse que o resultado do indicador acende uma luz amarela, porque a aceleração foi intensa, mas o ambiente econômico ainda sugere que a pressão é temporária e que a inflação deve voltar a se mostrar comportada.

Ele avalia que a inflação de outubro ainda não parece uma pressão de custos, derivada do desabastecimento de vários insumos, mas sim um reflexo da demanda mais aquecida por bens, com a população mais dentro de casa e com renda, notadamente com o auxílio emergencial, e também do reflexo do câmbio depreciado em alguns produtos, como eletrônicos.

Transportes

Além disso, os preços das passagens aéreas passaram por forte correção em outubro, após meses de demanda em baixa, com avanço médio de 39,90% no IPCA-15. Sozinho, o item contribuiu com alta de 0,13 ponto porcentual no indicador. Puxado pelos bilhetes de avião, o grupo transportes registrou alta de 1,34%, com impacto positivo de 0,27 ponto.

Os preços da gasolina, que respondem ao comportamento das cotações do petróleo e do câmbio, conforme a política de preços da Petrobrás, tiveram alta média de 0,85% no IPCA-15 de outubro, ante 3,19% em setembro. Foi a quarta alta seguida do item no IPCA-15.

Ainda no grupo dos transportes, o IBGE destacou a alta nos preços do seguro voluntário de veículo (2,46%), no primeiro avanço após sete meses consecutivos de quedas. Os únicos subitens do grupo com variações negativas foram ônibus interestadual (-2,73%) e gás veicular (-1,36%).

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O grupo artigos de residência subiu 1,41%, acelerando em relação a setembro (0,79%). Todos os itens do grupo tiveram alta, segundo o IBGE, “com destaque para mobiliário (1,75%), que havia recuado (-0,14%) no mês anterior, e tv, som e informática (1,68%)”. COLABORARAM GREGORY PRUDENCIANO, CÍCERO COTRIM e THAÍS BARCELLOS

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