Prévia da inflação sobe mais que o esperado e reforça expectativa de alta de 1,5 ponto na Selic

O Copom decide na quarta-feira o aumento na taxa básica de juros, hoje em 6,25% ao ano; IPCA-15 teve em outubro o pior resultado para o mês desde 1995

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Por Daniela Amorim e Márcia De Chiara
5 min de leitura

RIO E SÃO PAULO - Prévia da inflação oficial no mês, o IPCA-15 bateu em 1,2% em outubro – o pior resultado para o mês desde 1995 – e aumentou a pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que anuncia na quarta-feira a nova taxa básica de juros. A variação recorde dos preços levou o mercado a revisar novamente suas projeções, e as apostas agora são de aumento de até 2 pontos porcentuais para a Selic – que está em 6,25% ao ano.

Além da alta da inflação – que em 12 meses, considerando o IPCA-15, já está em 10,34%, muito acima do teto da meta definida para o ano (5,25%) –, as estimativas de bancos e consultorias também levam em conta o receio de uma piora das contas públicas. 

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Isso seria resultado da tentativa do próprio governo de rever a regra do teto de gastos (que limita as despesas públicas à correção da inflação) para ampliar os desembolsos com programas sociais e emendas parlamentares em 2022, ano eleitoral. 

“Temos uma tempestade perfeita composta pela forte deterioração do quadro fiscal e expressiva alta de preços. O BC terá de ter pulso firme, pois a política monetária está sozinha”, afirmou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa, que admite que sua previsão de alta de 1,25 ponto foi atropelada pelo IPCA-15.

Entre as casas que passaram a ver a possibilidade de alta de até 2 pontos, está a Asa Investments. “Não é só o fiscal, em paralelo estamos perdendo (o controle da) a inflação em velocidade bem superior ao que imaginávamos. Dado o contexto, entendemos ser difícil o BC não aumentar em 2 pontos”, disse o seu economista-chefe, Gustavo Ribeiro.

O banco Goldman Sachs também elevou sua projeção de aumento de 1,5 ponto porcentual na taxa básica de juros depois do IPCA-15 de outubro acima do esperado. Quatro dias atrás, o banco havia passado a esperar alta de 1,25 ponto. "Pressões significativas de custos, inflação de serviços crescente, risco político e fiscal persistente e uma generalização de efeitos de segunda ordem e de forças inerciais agora estão contaminando a perspectiva de inflação em 2022", escreve o economista do Goldman Sachs Alberto Ramos em relatório. A Rio Bravo Investimentos fez a mesma alteração na sua projeção para a Selic - de alta de 1,25 para 1,5 ponto na taxa Selic.

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Diante desse cenário, é cada vez maior a pressão sobre o Banco Central, que busca elevar as taxas de juros para atingir o objetivo de levar a inflação para a meta de 3,5% em 2022 (com intervalo de tolerância de 1,5 ponto).  “Se o Banco Centralnão fizer uma sinalização forte e contundentena decisão desta quarta-feira sobre a Selic, as expectativas vão subir ainda maise poderemos ver a inflação de 2022 rapidamente ir para 5% ou mais”, afirma o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. O teto da meta de inflação para o ano que vemé de 5%.

O economista por enquanto prevê umaumento de 1,5 ponto porcentual na reunião do Copom nesta quarta e projeta que a taxa básica de juros atinja 10,5% ao ano em fevereiro do ano que vem. No entanto, Vale não descarta a possibilidade de que a Selic atinja 11% ou 12% no primeiro bimestre de 2022 .

Mercado passa a prever Selic, taxa básica de juros do País, ultrapassando 7% Foto: Beto Nociti/Banco Central

O economista Roberto Troster, sócio da Troster & Associados, observaque nos últimos 12 meses tanto o BC como o mercado subestimaram a inflação. “A boa prática monetária recomendaria ser mais agressivo com juros no começo e esse gradualismo (da alta) é perigoso num país que tem forte memória inflacionária”, afirma o economista.

Com a piora da inflação, estampada no resultado do IPCA-15, e a sinalização do rompimento do teto de gastos, Troster diz que caberia ao BC elevar em 1,75 ponto porcentual a Selic amanhã. Antes, ele esperava uma alta de 1,25 ponto porcentual.

Na opinião do economista, quanto mais a autoridade monetária demorar para subir os juros num ritmo maior, o quadro só tende a se agravar. Isso porque, com uma estratégia de subida gradual, os juros terão de permanecer elevados por um período mais longo para conter a inflação. “É como frear um carro numa descida: se a gente pisa devagar, só esquenta o freio e o veículo não para. Tem que pisar forte”, compara.

Para Silvio Campos Neto, economista e sócio da Tendências Consultoria Integrada, todos os eventos recentes colocaram mais pressão na política monetária para que o BC tenha uma postura mais agressiva e incisiva no curto prazo. “O resultado do IPC-15 apenas reforça essa percepção, dado que há um quadro de curto prazo muito adverso em relação á inflação”, observa. 

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No início da semana, a consultoria ajustou para cima a projeção de alta da taxa básica de juros. Inicialmente, a Selic atingiria 9% em fevereiro de 2022, com dois aumentos de um ponto porcentual e mais um de 0,75. Agora, a expectativa da consultoria é de que a Selicvá para 10% ou um pouco mais em fevereirodo ano que vem, com aumentos de 1,5 ponto porcentual. “Vamos esperar o comunicado de amanhã para entender as motivações do Banco Central.”

O banco BV acredita que a Selic vai fechar o período em 10%, com duas elevações consecutivas de 1,5 ponto porcentual e outra de 0,75 ponto - a estimativa anterior era de 9,0%. "Para conter a deterioração das expectativas de inflação nesse ambiente e manter a inflação próxima da meta em 2022, é provável que o BC deverá entregar um ajuste maior e mais rápido da Selic", afirma relatório da instituição.

Com o aumento das incertezas no País e o impacto da taxa Selic marginalmente mais alta durante o ano, o BV também alterou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. A estimativa passou de alta de 1,5% para 1,3%. Conforme explica a nota, grande parte desse crescimento deve ser sustentado pela expansão global por meio do setor exportador. "Com juros maiores e crescimento menor, a projeção para o IPCA segue inalterada em 3,8% para 2022", cita, acrescentando ainda que a estimativa para o PIB em 2021 permanece em aumento de 5,0%. Por ora, também, a expectativa para o IPCA fechado deste ano continua em 8,80%.

O aumento dos juros terá impacto negativo na recuperação da economia e na geração de novos empregos. Como reflexo desse cenário, num dia de novos recordes das Bolsas nos EUA, o Ibovespa terminou com baixa de 2,11%, aos 106.419,53 pontos. Já o dólar teve valorização de 0,32%, cotado a R$ 5,57 – com variação acumulada no mês de 2,34%. / COLABORARAM CÍCERO COTRIM, LUCIANA XAVIER, GUILHERME BIANCHINI, MARIA REGINA SILVA E THAÍS BARCELLOS