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Prévia da inflação tira do radar corte da taxa de juros no curto prazo

Analistas afirmam que a alta surpreendente dos alimentos, que puxaram a aceleração do IPCA-15 de julho, mostra a resistência da inflação

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Mateus Fagundes , Francisco Carlos de Assis (Broadcast) e Maria Regina Silva
Atualização:
Todos os tipos de feijão tiveram alta significativa Foto: Roberto Sebba/Divulgação

A forte aceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor - 15 (IPCA-15) reforça as apostas de que o corte de juros pelo Banco Central (BC) vai ficar cada vez mais adiante, na avaliação de economistas ouvidos pelo Broadcast, notícias em tempo real do Grupo Estado. Os profissionais apontaram que a alta surpreendente de alimentos, responsável pelo desvio das projeções do IPCA-15, mostra a resiliência da inflação e corrobora o alerta dado pelo balanço de riscos apresentado pelo BC no comunicado da decisão de juros desta quarta-feira, 20.

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Ao manter inalterada pela oitava vez consecutiva a taxa básica de juros - a Selic - em 14,25% ao ano, o BC alertou que "a inflação acima do esperado no curto prazo, em boa medida decorrente de preços de alimentos, pode se mostrar persistente".

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que o IPCA-15 acelerou de 0,40% em junho para 0,54% em julho. O grupo Alimentos e Bebidas saiu de 0,35% para 1,45% na passagem dos dois meses, representando sozinho quase 70% da inflação medida pelo IPCA-15 neste mês.

"Este resultado forte (do IPCA-15) coloca uma certa resistência à queda das expectativas inflacionárias. Para convergir a inflação, o discurso conservador do BC pode ficar ainda mais conservador", explicou o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. Ele trabalha com dois cortes de juros este ano (outubro e novembro), mas disse que a inflação alta de julho "aumenta a chance de somente um corte este ano".

"Antes nós aqui na Austin Rating achávamos que a Selic poderia cair em julho. Depois das manifestações do Ilan (Goldfajn) na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, na posse da nova diretoria e no Relatório de Inflação, passamos a acreditar que seria em agosto. Depois do comunicado de ontem e do IPCA-15 de hoje, estamos acreditando que a Selic cairá em outubro ou novembro", reforçou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini.

A economista da CM Capital Markets Camila Abdelmalack disse que o resultado do IPCA-15 fortalece a previsão de que o BC somente vai reduzir a Selic em outubro, quando os riscos apontados pela instituição vão se dissipar. "As medidas fiscais vão andar e os preços de alimentos vão devolver a forte alta", afirmou.

"Certamente ficará mais cômodo para o Copom iniciar a queda da taxa de juros a partir da dissipação da alta dos preços de alimentos. Na reunião de outubro, serão já conhecidos os IPCAs de julho a setembro, bem como será possível avaliar de modo mais objetivo o andamento dos ajustes necessários apontados no comunicado da decisão do Copom ontem", complementou nota do Banco Fator.

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Já o diretor de Pesquisas Macroeconômicas do Banco, Octavio de Barros, acredita que o IPCA-15 não muda o cenário da inflação no ano e de previsão de corte de juros em outubro. "Surpresa 'pero no mucho'. Não muda nada nosso cenário de IPCA do ano e de corte de juros em outubro", atestou.

Na mesma linha, o economista da Rio Gestão de Recursos Bernard Gonin disse que o IPCA-15 de julho é pouco decisivo sobre o momento em que o BC vai dar início ao corte de juros. "O Copom de ontem tirou um pouco o peso de dados correntes. Ele está olhando mais para medidas fiscais e o efeito disso nas expectativas", disse. "Se isso se concretizar e as expectativas arrefeceram, há espaço para corte em outubro."