BRASÍLIA - A economia brasileira marcou o segundo mês consecutivo de contração em maio, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), conhecido como uma espécie de "prévia do Banco Central" para o Produto Interno Bruto (PIB). O indicador caiu 0,11%, considerando a série livre de efeitos sazonais (uma espécie de compensação que se faz para comparar meses diferentes).
Para economistas ouvidos pelo Estadão/Broadcast, o resultado mostra a economia andando de lado, mas a tendência é que novos estímulos, como o aumento de benefícios sociais às vésperas da eleição previsto pela PEC Kamikaze, impacte a atividade nos próximos meses. "Cortes recentes de impostos sobre combustíveis e gás de cozinha e o recentemente aprovado generoso pacote de medidas adicionais por fora do teto dos gastos devem adicionar cerca de 0,7% do PIB em estímulos fiscais adicionais do segundo semestre", calcula o diretor de Pesquisa Macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.
Mesmo assim, pondera, a inflação elevada, a política monetária restritiva, o alto endividamento das famílias e a piora do cenário externo devem criar dificuldades para a atividade à frente.
A queda observada no IBC-Br de maio ante abril, com ajuste, ocorreu apesar dos dados setoriais positivos divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mês, o destaque foi o volume de serviços prestados (-0,1% em abril para 0,9% em maio), mas a produção industrial também acelerou (0,2% para 0,3%), enquanto o varejo ampliado perdeu fôlego, de 0,5% para 0,2%.
“A indústria cresceu um pouco na margem, mas tanto o varejo restrito como o ampliado vieram com surpresa negativa. O setor de bens ‘patinando’ em maio é a principal justificativa para um IBC-Br ‘mais de lado’ no mês”, afirma o economista do Santander Brasil Lucas Maynard, que não descarta a possibilidade de revisão do dado de maio para um terreno levemente positivo nas próximas leituras do índice.
De abril para maio, o índice de atividade calculado pelo BC passou de 142,13 pontos para 141,97 pontos na série dessazonalizada. Este é o menor patamar desde fevereiro (141,62 pontos).
O resultado ficou abaixo da maioria das estimativas do mercado financeiro, positiva em 0,10%, na pesquisa Estadão/Broadcast, mas dentro do intervalo das previsões, que iam de queda de 1,1% a alta de 0,9%.
O IBC-Br serve como parâmetro para avaliar o ritmo da economia brasileira ao longo dos meses. A projeção atual do BC para a atividade doméstica em 2022 é de crescimento de 1,7%, conforme o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) de junho.
A despeito do segundo resultado negativo consecutivo do IBC-Br, o economista do Santander afirma que a dinâmica para o PIB do segundo trimestre continua favorável. “O IBC-Br não está casando tanto com a dinâmica real do PIB, que está bem mais forte. Estamos vendo isso desde o quarto trimestre do ano passado.” Em relatório publicado no início desta manhã, o Santander atualizou as projeções para o PIB no segundo trimestre, de alta de 0,2% para 0,7%, e em 2022, de 1,2% para 1,9%. Maynard, no entanto, afirma que os últimos resultados de indicadores da atividade sugerem uma desaceleração gradual de ritmo, o que corrobora com a expectativa de arrefecimento mais claro no segundo semestre, ainda que amortecido pelos efeitos da PEC Kamikaze. “Não são números tão fortes como os que vimos no começo do ano.” Para o economista, o efeito mais forte da alta de juros pelo BC deve impactar a atividade com mais força no fim deste ano e com ainda mais intensidade em 2023. “Na ausência de algum drive adicional de crescimento, o cenário é bem contracionista para a atividade no próximo ano”, diz Maynard, que cita a desaceleração da atividade global e ausência do impulso da reabertura entre os vetores que devem contribuir para esse panorama. O Santander manteve projeção de contração do PIB de 0,6% em 2023. / COM BROADCAST