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Previsões para o PIB brasileiro continuam a cair

Economia é freada por crise externa e medidas de contenção. Já há projeções de 3% ou menos para 2012

Foto do author Fernando Dantas
Por Fernando Dantas e Irany Tereza
Atualização:

As expectativas de crescimento da economia brasileira em 2011 e 2012 vêm despencando ao longo dos últimos meses. Já há instituições que preveem que o PIB fique praticamente parado neste segundo semestre e cresça apenas 3%, ou até menos, em 2012.

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As causas da desaceleração brusca são as medidas de contenção monetárias, creditícias e fiscais tomadas pelo governo e a forte piora da economia internacional, especialmente dos países ricos, com o agravamento da crise europeia. "O componente extra que surpreendeu foi o cenário externo", diz Flávio Samara, economista da consultoria LCA, que prevê crescimento de 3% em 2011 e de 3,3% em 2012.

No início de 2011, a mediana (o número mais frequente) das projeções do mercado para o PIB de 2011 e 2012 era de 4,5%, para ambos os anos. Na última rodada de coleta de expectativas pelo Banco Central (BC), de 21 de outubro, as previsões já tinham caído para 3,3% e 3,51%.

Esses últimos números possivelmente ainda não refletem o fundo do poço das projeções, cuja tendência inequívoca tem sido de queda, tanto para este ano quanto para o próximo, ao longo de todo o segundo semestre.

A gestora JGP, por exemplo, prevê crescimento de 3,1% em 2011, e de apenas 2,5% em 2012. "Para o ano que vem, pesa muito na nossa projeção o cenário lá fora, com crescimento muito baixo na Europa e nos Estados Unidos", diz o economista Fernando Rocha, sócio da JGP.

A gestora prevê crescimento zero no terceiro trimestre de 2011, e de apenas 0,5% no último trimestre - o que resulta numa economia quase parada no segundo semestre. Coincidentemente, é a mesma projeção para o terceiro e quarto trimestres do banco de investimentos J. Safra, que projeta 3% de crescimento em 2011, e 3,3% em 2012.

"O que começamos a ver é que não só a indústria cresce muito pouco, mas também surgiram sinais de fraqueza no varejo e um mercado de trabalho menos forte", explica Carlos Kawall, economista-chefe do J. Safra.

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O HSBC Brasil vai calibrar para baixo, mais uma vez, a previsão para 2011, que iniciou o ano em 5,1% e já caiu para 3,5%. Mas o economista Constatin Jancso ainda considera a decisão de corte de juros adotada a partir de agosto pelo BC como uma aposta arriscada, mesmo que se revele acertada a posteriori. "Por enquanto, representa uma aposta num cenário que no fundo ainda não se materializou", comenta.

Segurança

Ele reconhece que a piora internacional foi mais rápida e intensa do que se esperava, mas considera que o País está longe de reviver os estragos da tormenta do segundo semestre de 2008, agravados por uma alavancagem descomunal das empresas em dólar. Uma diferença simples, mas que pesa muito, para ele, é a maior segurança em torno da capacidade de reação da economia. "Hoje não há mais risco de um pânico no mercado", diz.

Entre os indicadores que apontam para uma desaceleração mais forte está o consumo de energia elétrica, que mantém historicamente uma relação de paridade com o PIB. Em janeiro, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) previa crescimento de 5,4% para o consumo de eletricidade; em maio, reviu para 4,7%; em julho, para 3,6%. No ano passado, o crescimento foi de 8,1%, resultado ampliado pela base de comparação fraca de 2009.

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De qualquer forma, é o setor industrial, com um crescimento de apenas 2,6%, que puxa para baixo a variação do consumo. "O setor de serviços, o residencial e o comercial não caíram tanto, por causa da manutenção do poder aquisitivo da população. Mas, a indústria, especialmente a de insumos básicos, mais intensa no consumo de energia e voltada à exportação, está patinando", reconhece Maurício Tolmasquim, presidente da EPE.

Aurélio Bicalho, economista do ItaúBBA, já trabalha com o risco de o crescimento este ano ficar um pouco abaixo de 3%. A última projeção feita pelo banco, em setembro, foi de 3,2%. Para 2012, crescimento moderado, de 3,7%.

"O investimento deve retornar, aos poucos, no ano que vem, mas teremos ainda uns dois anos mais difíceis até alcançar um crescimento equilibrado, entre 4% e 4,5% ao ano", diz.

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