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Previsões para reunião do Copom são de manutenção dos juros

Economistas são unânimes em apontar que taxa Selic ficará no nível atual, pois juros mais altos poderiam agravar cenário já ruim

Por Alexa Salomão e Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

Há pouco o que esperar da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), organismo do Banco Central que decide os rumos da taxa básica de juros, a Selic. O órgão na terça e na quarta-feira. Há um consenso entre os economistas de que os juros serão mantidos em 14,25% ao ano.

Dois fatores levam a essa conclusão. O primeiro é o aprofundamento da recessão. Praticamente todos os indicadores da economia estão sendo revistos para pior. Na sexta-feira, o Estado teve acesso às previsões do Comitê de Macroeconomia da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), que costumam ser divulgadas às véspera do Copom. O grupo, com mais de 20 economistas-chefes de instituições financeiras de diferentes portes, foi unânime: os juros não vão subir, porque mais juros vão agravar um cenário já muito ruim. “Por unanimidade se estimou que o Copom não sobe o juros nos próximos meses e, se mexer, vai ser para reduzir, no final de 2016”, diz Marcelo Carvalho, economista do Banco BNP Paribas Brasil e presidente do comitê.

Resultado das transações correntes ficou negativo em fevereiro deste ano, em US$ 1,134 bilhão. Foto: André Dusek/Estadão

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A outra razão para o Copom deixar as coisas como estão agora é “o aumento da incerteza”. O economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, tem uma analogia para a situação. “Vamos supor que a gente tivesse um painel de controle para monitorar o País. Hoje, as coisas ali estão turvas e não dá para traçar nenhum cenário”, diz Goldfajn “O problema hoje não está no BC. O problema é político-fiscal: a incapacidade de se aprovar no Congresso as medidas do ajuste. Vamos supor que se aprovem duas ou três – isso já melhoraria o cenário, então, é preciso esperar um pouco.”

Dominância. O tamanho da encrenca fiscal fez reacender um debate entre os especialistas: se o Brasil enfrenta ou não o que se chama de “dominância fiscal”. Ou seja, se a política monetária (o controle dos juros pelo Banco Central) perdeu efeito e a inflação só vai ceder quando o governo tiver uma boa política fiscal (fizer o controle mais rigoroso dos gastos públicos).

Entre os economistas, há muita polêmica e nenhum consenso em relação ao tema. A melhor maneira de descobrir se a dominância fiscal está ou não entre nós seria o BC jogar os juros para cima e a inflação continuar subindo. Mas ninguém considera prudente fazer o teste. Independentemente, todos concordam que o governo precisa gastar menos para ajudar no combate à inflação. “Já ficou claro que o desequilíbrio fiscal é a fonte do problema”, diz José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e ex-diretor de Mercado Aberto e Dívida Pública do BC.

Erros do passado. Para os especialistas, parte do problema atual é culpa do próprio BC. A inflação é mais resistente porque a instituição deixou que ela ficasse no teto da meta, de 6,5%. A estratégia era ter um pouco de inflação para ajudar a economia a crescer. A manobra era especialmente arriscada porque, em paralelo, o governo segurava tarifas, como preços de passagens, gasolina e energia elétrica, que um dia teriam de subir.

“Estamos enfrentando uma situação causada pelos erros dos anos anteriores. O BC deixou a inflação ficar sistematicamente perto dos 6%”, diz o economista Alexandre Schwartsman, ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC.

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Outro erro foi o BC se comprometer a levar a inflação para 4,5% no final de 2016. O economista Daniel Gleizer, também ex-diretor diretor de Assuntos Internacionais do BC, lembra que na virada de 2014 para 2015, quando o governo decidiu ajustar as tarifas, já se sabia que seria complicado cumprir a promessa. “Foi um erro fazer a promessa na partida. O BC se meteu em outra armadilha. O que é mais custoso para a credibilidade dele agora? Rever o discurso ou perseverar nele, com um custo altíssimo para a economia?”

O QUE DIZEM EX-DIRETORES DO BC

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Alexandre Schwartsman: A situação do BC é complicada. A grande verdade é que ele já entrou no ano devendo muito. E quando falo isso não é com relação ao choque inflacionário de 2015. A verdade é que o BC não entrou nessa brincadeira com uma inflação em 4,5% e as expectativas ancoradas. O BC entrou com inflação em 6% e as expectativas totalmente desancoradas. O trabalho fica muito mais difícil.”

José Júlio Senna: “Ficou claro que o desequilíbrio fiscal é a fonte do problema e o que vem na mente dos economistas é a ideia da dominância fiscal. É uma situação em que o Banco Central perde a liberdade para manipular o seu instrumento de política, que é a taxa de juros. Há um grande debate se a economia brasileira está em dominância fiscal ou não. A gente não consegue demonstrar nada empiricamente, mas existem indícios muito fortes.”

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Daniel Gleizer: “Existe um dado que deve ser considerado quando se fala em combate à inflação. É a taxa de sacrifício da economia, das pessoas. Quanto o desemprego e a recessão podem aumentar? Essa taxa cresceu muito. Hoje, é mais difícil combater a inflação sem um sacrifício desmesurado. Em parte, isso ocorre porque há deficiências estruturais na economia, mas também é culpa do BC, por ter sido leniente com a inflação no passado.” 

Ilan Goldfajn: “A tarefa do BC ficou mais difícil porque o núcleo do problema hoje é político-fiscal: a incapacidade de aprovar medidas fiscais. Nem sempre medidas políticas e econômicas se cruzam. Mas, nesse caso, se não houver ações no Congresso, não será possível aprovar um fiscal minimamente necessário. E, se não aprovar um mínimo de fiscal, você não consegue, de um lado, fazer a economia se recuperar e, de outro, segurar a inflação.” 

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