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Economia e outras histórias

Primeiras reações não mostram sinais de contaminação

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Ainda não dá para saber se a crise russa, edição 2014, como a crise russa de 1998, vai contaminar outras economias, sobretudo emergentes. Os sinais, em princípio, são de estresse isolado, talvez com respingos aqui e ali. Mas é grande a tentação de comparar o que se passou há 16 anos com o que ocorre agora. Com uma economia frágil - inflação alta, crescimento baixo, dívida externa elevada e reservas insuficientes em moeda forte -, a Rússia já cambaleava com as sanções ocidentais, em represália ao seu apoio ativo aos separatistas na Ucrânia e à ocupação da Crimeia. A queda livre das cotações internacionais era o que faltava para colocar a nocaute o maior produtor mundial de petróleo. Alvo de um clássico ataque especulativo à moeda nacional, o rublo, a Rússia reagiu com as armas também clássicas: elevou o juro básico de 10,5% para 17%, numa escalada que ainda não parece indicar um teto, e insinua, embora jure que não adotará, algum tipo de controle de capitais. Mas, com uma dívida externa que soma quase o dobro de suas reservas, difícil que escape de um calote. Esse enredo é o mesmo do segundo semestre de 1998, quando o rublo foi atacado pela primeira vez e a Rússia entrou em moratória e balançou uma fieira de economias emergentes - Brasil na linha de frente. Em menos de seis meses, de agosto a janeiro, no governo FHC, o Brasil, ainda com câmbio fixo, viu as reservas caírem de US$ 60 bilhões para US$ 16 bilhões, nível em que se encontravam quando o regime de câmbio flutuante foi adotado, os juros básicos subiram a 45% ao ano e o real caminhou para uma maxidesvalorização. Os tempos felizmente são outros e a maior parte dos emergentes - Brasil inclusive - está mais preparada para enfrentar episódios desestabilizadores desse tipo. Nos mercados de ativos globais, as primeiras reações à crise russa não indicam contaminação, pelo menos nos moldes da ocorrida há pouco mais de uma década e meia. Seguindo o resto do mundo emergente, o real acelerou um movimento de desvalorização que já estava em curso e que se vincula a outras origens.

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