O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o governo deverá anunciar novas medidas para evitar problemas na economia no primeiro trimestre do ano que vem. Em entrevista de fim de ano no Palácio do Planalto, ele reafirmou que o governo trabalha com "a hipótese" de crescimento de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2009. Veja também: Desemprego, a terceira fase da crise financeira global De olho nos sintomas da crise econômica Dicionário da crise Lições de 29 Como o mundo reage à crise "Tenho conversado com empresários, com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e tenho demonstrado minha preocupação com o primeiro trimestre do ano que vem", disse. "Vai ser o momento de um esforço imenso para não termos uma desaceleração das coisas. Se as coisas pararem, recomeçar do zero vai levar tempo. Talvez, a gente tome medidas para garantir investimentos no setor privado." Na entrevista, Lula disse que não poderia antecipar as medidas. Ele explicou que, a partir do momento que faz um anúncio antecipado, a economia pára, pois todos resolvem esperar as medidas. Segundo ele, o Brasil é o mais preparado dos países do G-20. Ele disse que vai trabalhar até às 23h45 da noite do dia 31 de dezembro para garantir investimentos e crédito no próximo trimestre. "Há mais medidas ainda neste ano ou no decorrer do ano que vem. Mas, não vou adiantar porque medidas econômicas não se antecipam. A economia pára à espera de medidas", disse. De acordo com Lula, a receita do governo para enfrentar a crise é anunciar novas obras e investir nas ações de infra-estrutura. Ele demonstrou tanto otimismo a ponto de dizer que o governo prepara até um "novo PAC" (Programa de Aceleração do Crescimento). "Não iremos parar nenhuma obra do PAC. E não fiquem surpresos se apresentarmos novas obras e um novo PAC", disse. "Vamos fazer muito mais", completou. Ele avaliou que o governo está dando mais atenção a quatro setores da economia: construção civil, agricultura, setor automobilístico e pequenas e médias empresas. O presidente disse ainda que, no ano que vem, serão inauguradas mais de 100 escolas técnicas e uma série de obras do PAC. Além disso, ele disse que espera ainda que a Petrobras mantenha os investimentos previstos para 2009. "A Petrobras vai continuar com seus investimentos", afirmou. Crescimento O presidente disse acreditar que a crise vai ser curta no Brasil e espera que, entre junho e julho, haja uma normalização nos Estados Unidos e na União Européia. Além disso, afirmou não estar arrependido de ter avaliado, em setembro, que a crise financeira internacional chegaria ao Brasil apenas como uma "marolinha". "Não tenho arrependimento. É preciso lembrar que era setembro e o crescimento no trimestre tinha de 6,8% do PIB", justificou. Ele disse que o governo trabalha com a hipótese de crescimento de 4% do PIB em 2009. "Se fosse um crescimento maior da economia, seria mais gostoso", disse. Lula disse que a população soube entender as circunstâncias e origens da crise. Ele observou que a maioria dos entrevistados nas pesquisas de opinião diz ter conhecimento do problema. "É preciso respeitar a capacidade e a inteligência do povo brasileiro", disse. O presidente reclamou de setores que querem apresentar uma crise maior do que a da realidade. A uma pergunta sobre a quem estava se referindo, ele mandou o repórter ler os jornais para saber. Juros O presidente previu uma redução na taxa básica de juros, a Selic, em 2009. A uma pergunta sobre o tema num café da manhã com jornalistas do Palácio do Planalto, ele disse que "obviamente" os juros devem cair. "Este é um ingrediente que acontece no início do ano que vem ou no ano que vem", disse. Na entrevista, Lula, porém, disse que a condução dos trabalhos do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem sido correta. "Até agora, a política monetária foi acertada. Mas, em época de crise, não pode ficar do mesmo jeito. Mas, o Meirelles é um homem inteligente e sabe fazer", disse. Trabalho Lula voltou a dizer que a suspensão temporária dos contratos de trabalho só pode ocorrer com acordo entre trabalhadores e empresários. "Não é um debate do presidente da República, mas de empresários e sindicatos", afirmou. "As mudanças na lei trabalhista poderão ser construídas pelos trabalhadores", completou. O presidente, que já havia dito que poderia intermediar acordos, afirmou nesta sexta que o governo será sempre o indutor de boas causas. Ele observou, porém, que trabalhadores são contra a flexibilização e empresários, a favor.