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Processo de corte de juros está perto do fim, indica Copom

Ata da reunião afirma que está próximo o momento de interrupção dos cortes para avaliar a reação da economia

Por Fernando Nakagawa , Fabio Graner e BRASÍLIA
Atualização:

O processo de redução do juro iniciado em janeiro está muito perto de terminar. O recado foi dado na ata da reunião de junho do Comitê de Política Monetária (Copom). Divulgado ontem, o documento mostra, porém, que o Banco Central (BC) ainda não vê problemas com a inflação futura. Agora, a diretoria do BC entende que, apesar de haver espaço "residual" para cortes na Selic, está próximo o momento de interromper a trajetória de redução para que seja observada a reação da economia ao nível inédito do juro, de apenas um dígito. Desde quarta-feira, quando houve o corte de 1 ponto porcentual, o juro básico está em 9,25% ao ano. Na avaliação do mercado, a Selic deve cair no máximo mais 0,5 ponto porcentual e depois ficar estacionada por um bom tempo. Essa parada nos cortes, avaliam analistas, deve ocorrer a partir do encontro de setembro. A justificativa é o fato de ser uma situação ainda desconhecida para a economia brasileira, o que o documento trata discretamente como "um novo patamar de taxas de juros". "O Copom entende que a preservação de perspectivas inflacionárias benignas irá requerer que o comportamento do sistema financeiro e da economia sob um novo patamar de taxas de juros seja cuidadosamente monitorado ao longo do tempo", destaca o documento. "Nunca convivemos com juro de apenas um dígito. Não sabemos como se comportarão vários aspectos, como os contratos com rentabilidade preestabelecida. Por isso, a cautela", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. No texto, o BC sinaliza que ter Selic de um dígito e juro real próximo de 5% não é um apenas um momento conjuntural, provocado apenas pela crise. "A redução do juro desde janeiro tem muita coisa de estrutural. A queda veio para ficar e, por isso, o BC passa a trabalhar agora para encontrar um nível adequado para o juro real no Brasil. Será um ajuste fino", diz Borges. Além disso, a ata chama a atenção para o fato de que o reflexo dos cortes realizados desde janeiro ainda não é sentido completamente na economia, o que reduz o espaço para novas reduções. Diante do quadro, foi reforçada a previsão de que o juro deve cair apenas mais uma vez no ano, na reunião de julho. No mercado, há expectativa de que a Selic deve cair entre 0,25 ponto e 0,50 ponto, com vantagem da primeira aposta. DECISÃO SURPREENDENTE No documento, o Comitê afirma que a expectativa de inflação abaixo do centro da meta permitiu que a Selic fosse reduzida em 1 ponto na semana passada, fato que pegou o mercado de surpresa. Segundo os diretores do BC, a crise financeira e o desaquecimento da economia nos últimos meses geraram uma "importante margem de ociosidade" na produção. Esse menor uso da capacidade produtiva das fábricas "não deve ser eliminada rapidamente" porque, na avaliação do Comitê, a recuperação da economia segue em ritmo "gradual". E, ainda que as decisões de mudança nas regras da poupança e dos fundos de investimento não tenham sido colocadas em prática, o BC não citou explicitamente qualquer preocupação com essas operações como havia feito nas atas anteriores. Em abril, o texto citava que a continuidade da queda dos juros só seria possível com uma mudança no "arcabouço institucional do sistema financeiro". PRINCIPAIS PONTOS Traduzindo a ata Fim dos cortes está próximo "Houve convergência entre os membros do Comitê quanto às estimativas do espaço existente para distensão residual." O que o Copom quis dizer: Que o processo de corte da Selic está chegando ao fim porque as reduções já feitas desde janeiro ainda estão produzindo efeitos e novas quedas no juro não podem ser muito grandes sem comprometer o controle da inflação. Votos por corte menor "Alguns diretores consideraram que seria apropriado reduzir imediatamente o ritmo de flexibilização monetária, implementando de forma mais suave a parte remanescente do processo." O que o Copom quis dizer: Dois diretores queriam corte de 0,75 ponto, menor do que o decidido. Novo patamar de juros "O Copom entende, também que a preservação de perspectivas inflacionárias benignas vai requerer que o comportamento do sistema financeiro e da economia sob um novo patamar de taxa de juros seja cuidadosamente monitorado ao longo do tempo." O que o Copom quis dizer: É preciso avaliar como se comportam a economia e a inflação com as taxas de juros na casa de um dígito. Sem preocupação pela frente "O desaquecimento da demanda criou importante margem de ociosidade dos fatores de produção que não deve ser eliminada rapidamente." O que o Copom quis dizer: A crise diminuiu vendas e reduziu a produção. Com isso, se necessário, as empresas têm capacidade de produzir mais sem precisar investir. É mais um indicador de que não há risco de inflação. Inflação controlada permitiu corte de 1 ponto "A maioria do Copom, avaliando as projeções de inflação, que já incorporam a magnitude do movimento realizado desde janeiro, optou, neste momento, por manter o ritmo de ajuste." O que o Copom quis dizer: Seis diretores votaram pela redução de 1 ponto por entenderem que não há risco de a inflação subir. Os cortes já realizados ainda produzirão efeitos no futuro l "A expressiva flexibilização da política monetária implementada desde janeiro terá efeitos cumulativos, que serão evidenciados após certa defasagem." O que o Copom quis dizer: A economia ainda não sentiu o efeito completo do corte do juro feito desde janeiro. Portanto, não é necessário cortar muito mais agora. Na reunião da semana passada, o BC cortou a taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 9,25% ao ano Mercado financeiro esperava corte menor, de 0,75 ponto Com a queda, a taxa Selic caiu para o menor nível da história Pela primeira vez, o Brasil tem juro básico da economia de um dígito FONTE: BANCO CENTRAL

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