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Indústria cresce 3,2% em agosto, na quarta alta seguida

Mesmo assim, setor não recuperou as perdes de 27% de março e abril, quando a produção industrial atingiu o nível mais baixo da série histórica, por causa da pandemia de covid-19

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - A indústria brasileira manteve o processo de recuperação em agosto, embora não tenha se recuperado ainda totalmente do baque provocado pela pandemia da covid-19 sobre o parque fabril. A produção cresceu 3,2% em relação a julho, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada nesta sexta-feira, 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Apesar de positivo, o resultado ficou aquém das expectativas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast, que esperavam um avanço mediano de 3,7%. Para a economista Lisandra Barbero, da XP Investimentos, houve efeitos positivos da desvalorização do real, mas negativos do encarecimento de insumos no setor.

“São resultados mistos nesse sentido: os setores que mais exportam têm conseguido se beneficiar do movimento cambial, tiveram resultados fortes em agosto e dificilmente vão ser prejudicados numa intensidade significativa nos próximos meses”, afirmou Lisandra.

Pesquisa da Fiesp aponta que maioria das indústrias já encontra problemas em encontrar insumos. Foto: Leo Lara/Fiat

A desaceleração observada no crescimento da produção industrial em agosto é natural no processo de recuperação e ainda parece momentânea, uma vez que antecedentes indicam um setembro mais forte, opinou o economista e sócio da gestora de investimentos Quantitas Asset, João Fernandes.

"Não foi um resultado tão robusto como os anteriores, mas faz parte do ciclo de atividade. Não terminou a retomada em 'V', mas não é uma linha reta. Em setembro, deve ganhar tração de novo", previu Fernandes.

Em quatro meses consecutivos de altas, a indústria acumulou crescimento de 33,4%, mas ainda opera 2,6% abaixo do patamar de fevereiro, pré-pandemia. A fabricação de bens de capital está 13,6% abaixo do patamar de fevereiro, bens de consumo duráveis operam 3% aquém, e bens semiduráveis e não duráveis estão 4,1% abaixo. A única categoria de uso com recuperação em relação a fevereiro é a de bens intermediários, que opera 2,3% acima do patamar pré-pandemia, puxado pelo aumento nas exportações e pela valorização do dólar ante o real, explicou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

Segundo o pesquisador, os bens intermediários com viés para a exportação se destacam na recuperação da produção nos últimos meses, como a parte ligada ao açúcar e derivados da soja na indústria de alimentos, a celulose e o minério de ferro dentro das indústrias extrativas. Macedo lembra que, se por um lado as exportações ajudaram, por outro a demanda doméstica tem como entrave o mercado de trabalho ainda precário. No entanto, ele lembra que alguns produtos voltados para o mercado doméstico também têm comportamento positivo importante, como automóveis, eletrodomésticos, motocicletas e artigos de mobiliário.

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“É uma combinação de mercado externo também com mercado interno. Também temos atividades que mantêm trajetória de crescimento associadas à demanda doméstica, como a parte de derivados de petróleo, da construção civil, do setor metalúrgico”, citou Macedo. “O auxílio emergencial ajuda o consumo, com reflexos sobre o setor industrial”, acrescentou.

Até agosto, apenas 10 das 26 atividades investigadas já tinham retornado ao patamar de produção pré-crise sanitária. Os níveis mais elevados em relação ao patamar de fevereiro foram os registrados pelas atividades de equipamentos de informática (11,5%), extrativas (9,5%), móveis (8,0%) e bebidas (6,0%). Na direção oposta, os segmentos de vestuário (-31,0%), impressão e reprodução de gravações (-29,0%) e veículos (-22,4%) têm os níveis mais baixos ante fevereiro. / COLABORARAM CÍCERO COTRIM E THAÍS BARCELLOS 

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